Onda de ataque a ônibus atinge 17 cidades de Minas Gerais Na Grande Belo Horizonte, 3 ônibus foram incendiados em 24 horas



Onda de ataque a ônibus atinge 17 cidades de Minas Gerais
Na Grande Belo Horizonte, 3 ônibus foram incendiados em 24 horas



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4.jun.2018 às 12h21Atualizado: 4.jun.2018 às 20h59



BELO HORIZONTE


Uma onda de 25 ataques a ônibus atingiu 17 cidades em Minas Gerais desde domingo (3), segundo a Polícia Militar. Em menos de 24 horas, também houve ações contra uma delegacia, duas agências bancárias e um caixa eletrônico. Não houve feridos.

O ataque mais recente ocorreu na tarde desta segunda (4), em Uberaba, onde ônibus foram retirados de circulação. A PM informou que prendeu 30 suspeitos, sendo oito em flagrante, e apreendeu uma arma de fogo. Uma das hipóteses da investigação é ação de facções criminosas.

"Parece-nos que em parte houve orquestração de facção criminosa, mas não podemos determinar isso. É a investigação quem vai dizer. Circularam vários áudios na internet determinando uma possibilidade de ligações com facções criminosas", disse o porta-voz da Polícia Militar, major Flávio Santiago.


Segundo o major, os ataques não foram especificamente direcionados a Minas Gerais e podem ter ligação com ações no Rio Grande do Norte e São Paulo. A PM informou ainda que há um trabalho de inteligência coordenado para guiar a investigação e que haverá escolta de ônibus.

Na região metropolitana de Belo Horizonte foram três ônibus incendiados entre a noite de domingo e a madrugada desta segunda-feira (4).

Nos três casos, os próprios motoristas e cobradores ou o dono do veículo apagaram as chamas e a polícia não localizou os suspeitos.

O primeiro ataque na capital mineira foi registrado às 22h39 do domingo. Segundo a PM, dois menores entraram em um ônibus que fazia seu itinerário na região de Venda Nova e mandaram que todos descessem antes de atear fogo ao veículo, que sofreu poucas avarias, pois o incêndio foi controlado pelo motorista.

De madrugada, às 4h53, houve novo ataque na região noroeste. O ônibus ainda iria começar sua primeira viagem, quando duas pessoas chegaram de moto, rendendo o motorista e fazendo disparos para o alto. O veículo foi incendiado e o próprio motorista controlou o fogo com extintor. O teto e a cadeira do cobrador ficaram danificados.

Em Santa Luzia (MG), na região metropolitana, o ataque foi à 0h55 e contra um ônibus privado, que atua com fretamentos. O veículo estava estacionado na rua em frente à casa do dono, que atuou para apagar o incêndio. O banco do motorista e parte do painel ficaram destruídos.

Os ataques também atingiram cidades no Triângulo Mineiro, do sul e do centro-oeste do estado: Itajubá, Brazópolis, Monte Santo de Minas, Lagoa da Prata, Passos, Guaxupé, Alfenas, Poços de Caldas, Uberaba, Uberlândia, Pouso Alegre, Cruzília, Varginha, Três Corações e Araxá.
Ônibus incendiado por homens encapuzados em Uberaba (MG), no Triângulo Mineiro - Divulgação/Corpo de Bombeiros

Em Uberaba, homens encapuzados ordenaram que os passageiros descessem antes de colocar fogo em três ônibus.

Segundo o Corpo de Bombeiros, esse tipo de incêndio criminoso tem grande velocidade de propagação e pode atingir edificações próximas ou a fiação elétrica.

Em Alfenas, no sul de Minas, uma pessoa atirou um coquetel molotov em uma viatura estacionada. Segundo a PM, o homem havia sido preso no mesmo dia e realizou o ataque em retaliação.
SISTEMA PRISIONAL

A ligação dos ataques com presos do Rio Grande do Norte é investigada devido a um áudio que circulou no Whatsapp no qual um suposto preso do estado, membro da facção paulista PCC, ordena as ações em Minas.

Minas Gerais não tem facções próprias, mas abriga presos de organizações criminosas do Rio e de São Paulo, ainda que eles não sejam dominantes no sistema prisional do estado. No entanto, a maior parte dos ataques foi direcionada ao sul de Minas e ao Triângulo, regiões de maior proximidade com São Paulo e, portanto, de mais detentos ligados ao PCC.

Segundo o advogado criminalista Fábio Piló, presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da OAB-MG, as ações podem ter ocorrido para denunciar a falência do sistema prisional em Minas ou para tirar o foco da polícia enquanto outros crimes são cometidos.

A população carcerária é de 71.433 presos segundo a Secretaria estadual de Administração Prisional. Porém, o número de vagas nas 200 unidades prisionais de Minas é de 35.886.

"As unidades prisionais não funcionam e são extremamente superlotadas. O índice de reincidência dos presos é de 80%. E somado a isso tem a falta de agentes, o que aumenta o caos. E não houve investimento no sistema prisional nos últimos quatro anos. É uma bola de neve", diz Piló.

A criminalidade, contudo, tem diminuído no estado. No primeiro trimestre deste ano, houve uma queda de 23% no número de vítimas de homicídio. A Secretaria estadual de Segurança pública registrou 1.091 assassinatos entre janeiro e março de 2017 contra 840 no mesmo período deste ano.

Entre os crimes violentos, que incluem homicídios, estupros, sequestros e roubos, a queda foi de quase 30% no período.

Em nota conjunta, as polícias civil e militar, os bombeiros e as secretarias de segurança e administração prisional informaram que atuam de forma integrada para esclarecer as motivações dos ataques e punir os responsáveis. Também foram acionados a Polícia Federal e o Gabinete Militar do Governador.

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