Trump retira EUA do acordo nuclear iraniano




Trump retira EUA do acordo nuclear iraniano
Ele afirmou que os EUA restabelecerão todas as sanções econômicas que haviam sido suspensas em razão do pacto, que era uma das principais realizações internacionais de seu antecessor, Barack Obama
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Redação Internacional

08 Maio 2018 | 14h20


Cláudia Trevisan, Correspondente / Washington


Ignorando apelos de seus aliados europeus, o presidente Donald Trump anunciou nesta terça-feira, 8, a saída dos EUA do acordo sobre o programa nuclear do Irã. Mais importante decisão de política externa dos 15 meses de sua administração, a medida tem o potencial de fortalecer os conservadores no governo de Teerã, provocar uma corrida armamentista no Oriente Médio, aumentar o risco de conflito na região e afetar a credibilidade internacional de Washington.

Em resposta, o presidente do Irã, Hassan Rohani, afirmou que, se for necessário, seu país “enriquecerá urânio mais do que nunca” nas próximas semanas.




Trump anuncia sua decisão na Casa Branca. Foto: Saul Loeb/AFP



Trump afirmou que os EUA restabelecerão todas as sanções econômicas que haviam sido suspensas em razão do pacto, que era uma das principais realizações internacionais de seu antecessor, Barack Obama, que considerou a decisão um ‘erro grave’. Ao abandonar o acordo, Trump cumpre uma de suas mais célebres promessas de campanha, o que certamente agradará sua base conservadora. “Os Estados Unidos não fazem mais ameaças vazias. Quando eu faço promessas, eu as mantenho”, declarou na Casa Branca.

+ O que é o acordo nuclear com o Irã e por que ele é criticado?

Mas o presidente deixou aberta a possibilidade de negociação de um novo acordo, que abranja temas não abordados no atual, como limites ao desenvolvimento de mísseis balísticos e restrições às ações de Irã em vários países da região e a grupos considerados terroristas pelos EUA. Segundo Trump, o Irã é o principal Estado promotor do terrorismo no mundo. “Eles vão querer fazer um acordo. E quando fizerem, grandes coisas poderão acontecer no Irã e para a paz e estabilidade que todos nós queremos no Oriente Médio.”

Nas últimas semanas, representantes de diferentes agências de inteligência dos EUA disseram em depoimentos no Congresso que não possuem evidência de que o Irã tenha desrespeitado os termos do acordo. Ao justificar sua decisão, Trump se referiu a documentos apreendidos pelos serviços de inteligência de Israel e divulgados há poucos dias pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

“Temos prova definitiva de que a promessa iraniana é uma mentira”, disse Trump. Mas analistas concluíram que os documentos revelados por Netanyahu eram superados e se referiam a uma fase do programa nuclear abandonada pelo Irã antes do acordo assinado em 2015, pelo qual o país obteve a suspensão de parte das sanções econômicas aplicadas pelo Ocidente.


Em troca, a República Islâmica se comprometeu a interromper atividades de seu programa, em especial o enriquecimento de urânio, o que aumentou o período em que seria capaz de desenvolver bombas nucleares.

Além dos EUA e do Irã, o acordo foi assinado por França, Alemanha, Inglaterra, Rússia, China e a União Europeia. Em visitas a Washington na semana retrasada, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, defenderam a permanência dos EUA no acordo. Segundo eles, os pontos que preocupam Trump deveriam ser tratados em negociações adicionais com Teerã.

Os europeus afirmaram em várias ocasiões que permanecerão no pacto, mas analistas consideram improvável sua sobrevivência diante do restabelecimento de sanções econômicas pelos EUA. Mesmo que os europeus não sigam o mesmo caminho, suas empresas ficariam sujeitas a penalidades das autoridades americanas em eventuais negócios com a República Islâmica.

Em resposta ao comunicado de Trump, Macron afirmou hoje que a França, a Alemanha e o Reino Unido lamentam a decisão e vão “trabalhar coletivamente” para alcançar um acordo “mais amplo“.

Para permanecer no pacto, Trump exigia a extensão do período de aplicação de restrições ao Irã e ampliação dos mecanismos de fiscalização de suas obrigações. Pelo texto atual, a República Islâmica poderá voltar a enriquecer urânio para fins pacíficos ao fim de um prazo de 15 anos, o que o atual ocupante da Casa Branca considera inaceitável. O americano defendia ainda a inclusão no acordo de limites ao programa de mísseis balísticos do Irã e às atividades da República Islâmica em outros países da região, como Síria, Iraque, Líbano e Iêmen.

Ex-diplomata e professor da Harvard Kennedy School Nicholas Burns classificou a decisão de Trump de “irresponsável” em um post no Twitter. “Esse acordo efetivamente tirava o Irã no negócio de armas nucleares por 15 anos”, escreveu.

“Sair do acordo do Irã sem um Plano B torna mais provável um conflito com o Irã e significa que não se pode contar com que a América mantenha sua palavra. É também o movimento exatamente errado quando entramos em negociações com a Coreia do Norte”, escreveu no Twitter o deputado democrata Adam Shiff, da Comissão de Inteligência da Câmara.

A decisão de Trump abala a credibilidade internacional dos EUA no momento em que ele está prestes a se encontrar com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para negociar o fim de seu programa nuclear. “Acordos executivos são uma moeda preciosa do poder americano e da liderança presidencial; o mundo acredita que eles representam a plena fé e crédito de nosso país”, observou nesta terça-feira, em depoimento ao Congresso, o embaixador Lincoln Bloomfield Jr., que trabalhou na área de segurança nacional nos governos Ronald Reagan, George H.W. Bush e George W. Bush.

No anúncio desta terça-feira, o presidente disse que o secretário de Estado, Mike Pompeo, estava a caminho de Pyongyang para negociar os termos do acordo bilateral em que EUA e Coreia do Norte discutirão o programa nuclear do país mais fechado do mundo.

Há duas semanas, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Jafadi Zarifi, disse em entrevista à Associated Press que o acordo não ficará de pé sem os EUA. “Se os Estados Unidos deixaram o acordo nuclear, a consequência imediata mais provável é que o Irã responda da mesma maneira e também saia”, declarou. “Não haveria nenhuma vantagem para o Irã permanecer.”

Na época, o secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional do Irã, Ali Shamkhani, afirmou que seu país poderia abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear caso os americanos abandonassem o pacto. Esse cenário abriria a possibilidade de uma corrida armamentista nuclear entre o Irã e seus vizinhos árabes.

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