O auxiliar administrativo Rogério Martins foi contratado pela corretora de valores Hoya com um salário de R$ 2.000 em 2011 para fazer uma trabalho normal nesse tipo de empresa: entregar dinheiro
Descrição de chapéuOPERAÇÃO LAVA JATO POLÍCIA FEDERAL
Propina da Odebrecht até R$ 500 mil era entregue em mochilas; acima disso, em hotéis
Revelação foi feita em depoimento por funcionários de transportadora de valores
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13.mai.2018 às 2h00
Flávio Ferreira
SÃO PAULO
O auxiliar administrativo Rogério Martins foi contratado pela corretora de valores Hoya com um salário de R$ 2.000 em 2011 para fazer uma trabalho normal nesse tipo de empresa: entregar dinheiro vivo a clientes.
Fachada da construtora Odebrecht, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress
Porém, um dia o dono da Hoya, Álvaro Novis, entregou a ele um laptop com um sistema de comunicação chamado Drousys, no qual Martins começou a ser identificado pelo codinome Arouca.
Foi nesse momento que o auxiliar passou a atuar em uma das pontas finais do maior esquema de corrupção da história brasileira, montado pela empreiteira Odebrecht.
Segundo relato feito na condição de testemunha aos promotores José Carlos Blat e Letícia Ravacci, ele disse que só descobriu ter trabalhado a serviço do departamento de propinas da empreiteira quando o nome da corretora apareceu na Operação Lava Jato.
Martins prestou depoimento no âmbito das apurações sobre corrupção envolvendo o projeto Parque da Cidade, desenvolvido pela Odebrecht na zona sul da capital.
Pelas regras da área de suborno da companhia, intitulada Setor de Operações Estruturadas, as entregas finais de valores acima de R$ 500 mil deveriam seguir um ritual, do qual Martins participou várias vezes.
"Nos dias em que havia entregas agendadas, eu me hospedava em um hotel em São Paulo e aguardava os funcionários da transportadora de valores conhecida por 'Trans' trazerem as quantias", contou.
O passo seguinte era abrir o Drousys para conhecer os codinomes atribuídos aos destinatários dos valores e as senhas que eles deveriam dizer para botar as mãos nas quantias.
Em geral, para evitar roubos, os recebedores também se hospedavam no hotel ou flat escolhido pelo setor e esperavam a chegada da noite para concretizar as operações.
"Estas pessoas entravam no meu quarto e faziam a conferência por 'cabeça', ou seja, por pacotes identificados em valores de cinco, dez ou cinquenta mil reais", explicou Martins.
No depoimento prestado ao Ministério Público, o auxiliar administrativo foi indagado se poderia reconhecer um suspeito investigado pelos promotores.
Na resposta, ele indicou um hábito no trato com as pessoas que usavam codinomes. "Procurava não fixar o rosto de ninguém", disse.
Na mesma investigação sobre a obra Parque da Cidade, o ex-chefe do departamento de propinas da Odebrecht Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho explicou como em geral eram feitos os repasses de subornos com valores menores que meio milhão de reais.
Para essas quantias, as entregas podiam ser feitas em restaurantes, bares e cafés.
De acordo com Silva, era possível colocar até R$ 500 mil em mochilas, que eram deixadas em mesas ou cadeiras dos estabelecimentos para onde se dirigiam emissários e destinatários dos subornos.
A duração dos encontros em geral era aquela suficiente para cumprimentos rápidos e uma simples fala com a senha.
Hilberto contou que podiam ocorrer exceções à regra a partir de pedidos dos beneficiários das propinas, como entregas em casas ou apartamentos.
Procurada pela Folha, a defesa de Álvaro Novis, que é delator na Lava Jato, admitiu que ele cuidava de entregas de dinheiro vivo orientadas pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Porém, Novis não misturava seus trabalhos para a empreiteira com as atividades de sua corretora Hoya, segundo a advogada dele, Fernanda Pereira.
A defensora afirma que Novis chegou a usar empregados da Hoya, como Martins, nos serviços prestados à Odebrecht, mas de maneira paralela às atividades normais da corretora, que continua em operação no Rio de Janeiro.
Valores acima de R$ 500 mil
-Um funcionário do doleiro do esquema se hospeda em um hotel ou flat
-Pelo laptop, o entregador abre o sistema da Odebrecht e verifica codinomes, senhas e valores a serem repassados naquele dia
-Empregado de uma transportadora de valores vai até o local e deixa o dinheiro em espécie a ser repassado
-À noite, os destinatários das propinas, que também estavam hospedados no local, vão até o quarto do entregador
-Os recebedores dizem codinome e senha e são recebidos pelo entregador
-É feita a contagem do dinheiro, que está separado em maços de R$ 5 mil, R$ 10 mil ou R$ 50 mil
-O destinatário acondiciona o dinheiro em malas, sacolas e mochilas e vai embora. O entregador se prepara para receber o próximo beneficiário de propina da noite
Valores abaixo de R$ 500 mil
-O entregador encontra o destinatário da propina em restaurantes, bares e cafés e senta com ele para uma conversa rápida
-O beneficiário diz o codinome e senha
-O funcionário do doleiro entrega uma mochila cheia de dinheiro ao destinatário e vai embora
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