Ideais e paralelepípedos: a quase revolução francesa de maio de 68















PUBLICADO EM: 01/01/2018



Ideais e paralelepípedos: a quase revolução francesa de maio de 68



Em maio de 2018 faz 50 anos que uma revolta estudantil iniciada em Paris paralisou a França, levando milhões de pessoas às ruas com as mais diferentes reivindicações de mudança. O governo de Charles de Gaulle balançou, mas conseguiu se segurar. No entanto, para muitos, um novo tempo de participação dos cidadãos havia começado.

1968 foi um ano agitado



No Brasil, o assassinato do estudante secundarista Edson Luis pela polícia, em abril, leva a protestos contra a ditadura. O país está a caminho do Ato Institucional número 5, fase mais sombria do regime militar.



A União Soviética sufocava com seu poder militar as reformas do sistema comunista na Tchecoslováquia, acabando com a chamada Primavera de Praga.

Nos EUA, o líder negro Martin Luther King é assassinado.



Enquanto isso, os americanos iniciam uma negociação para encerrar a Guerra do Vietnã, que já durava 13 anos. As conversas ocorriam em Paris, e agitava os estudantes na cidade.



A França vivia em aparente calma. Havia 9 anos, estava sob a liderança do presidente Charles de Gaulle. As esquerdas francesas, em especial os partidos comunista e socialista, buscavam uma maneira de formar uma alternativa de governo.



Em março, prédios da Universidade Nanterre,em Paris, são ocupados por alunos, em sua maioria anarquistas e trotskistas. Eles protestam contra sanções impostas a militantes contrários à Guerra do Vietnã que atacaram um escritório da American Express. As aulas são suspensas. Nasce o Movimento 22 de Março, liderado por Daniel Cohn-Bendit, um anarquista que estudava sociologia e ficou conhecido por pedir mais liberdade sexual na universidade. O movimento questiona ainda a falta de acesso da classe trabalhadoras ao estudo superior.



Em 1º de Maio, no Dia Internacional do Trabalho, há um clima tenso nas manifestações devido a boatos de que o Ocidente, um movimento estudantil de extrema-direita, planeja atacar a Universidade Nanterre.



No dia seguinte, parte do edifício da aliança estudantil da Sorbonne é queimada e o Ocidente é acusado de ser o culpado. Cohn-Bendit e outros membros de seu movimento são chamados para responder a uma comissão disciplinar por causa da ocupação de março em Nanterre.



Dois dias depois, a direção de Nanterre fecha o campus. Proibidos de protestar ali, seus alunos vão à Sorbonne para se reunir com outros simpatizantes de extrema-esquerda. A direção da Sorbonne autoriza a polícia a retirar os estudantes.



O choque com os policiais, no Quartier Latin, no coração de Paris, é violento.



Transformadas em armas contra a polícia, as pedras do calçamento de Paris viram um dos símbolos dos protestos. Mais de cem pessoas são feridas e centenas são presas. A Sorbonne também é fechada.



As demonstrações crescem. Em 10 de maio, Paris ganha reforço policial para garantir que as negociações de Estados Unidos e Vietnã sobre a guerra prossigam. Num confronto noturno de polícia e manifestantes, mais de 350 pessoas são feridas, várias delas gravemente, incluindo mais de 250 policiais e mais de cem estudantes. Cerca de 500 pessoas são presas e dezenas de carros são queimados. É a chamada ‘Noite das Barricadas’.



Nos dias seguintes acontece a maior greve geral da história da França, com milhões de trabalhadores indo às ruas em apoio aos estudantes, e também fazendo suas próprias demandas. As massas sonham em democratizar as estruturas do Estado, em melhorar as condições de trabalho.



Numa tentativa de acalmar a situação, o premiê Georges Pompidou anuncia a reabertura da Sorbonne, que é ocupada pelos estudantes. Debates e reuniões acontecem ali 24 horas por dia. A essa altura, as manifestações já tinham se tornado um caldeirão em que grupos propunham revolucionar aspectos dos mais variados da sociedade, como a política, o estudo, a moral, de diferentes maneiras, mas sem uma pauta única.



Com De Gaulle em viagem internacional, os estudantes ocupam também o Teatro Odéon, considerado um símbolo cultural da classe alta francesa, transformando-o numa espécie de centro de atividade revolucionária.



Em 22 de maio, a greve nos setores privado e público já mobilizava mais de 8 milhões de trabalhadores. Daniel Cohn-Bendit, que foi à Alemanha fazer um tour para ‘exportar a revolução’, é barrado ao tentar voltar à França.



De Gaulle vai à televisão e propõe um referendo na tentativa de recuperar o controle do país. Mas o discurso não tem o impacto esperado. Manifestantes pedem sua renúncia. Confrontos se espalham por várias cidades.



Na última semana de maio, o governo e os sindicatos de trabalhadores e patronais negociam um aumento de um terço no salário mínimo. Além disso, os sindicatos de trabalhadores passam a ter direito a um representante em todas as empresas. Enquanto isso, Cohn-Bendit consegue voltar para a França escondido.



Em 29 de maio, De Gaulle cancela subitamente uma reunião de gabinete. O presidente desaparece. Ele está refugiado numa base francesa em Baden, na Alemanha, onde busca o apoio das forças armadas, diante da situação instalada.



No dia seguinte, De Gaulle faz um pronunciamento por rádio em que levanta o temor de que o comunismo possa assumir o poder. Ele se recusa a renunciar, mas dissolve o parlamento.



Naquela mesma noite, centenas de milhares de apoiadores de Gaulle e a chamada "maioria silenciosa", cansada da instabilidade, marcham pela Champs-Elysées, em Paris. A maior manifestação do maio de 68, ironicamente, foi contra tudo que o maio de 68 buscava.



O governo passa por algumas reformulações, e ganha demonstrações de apoio. Em junho, a maioria dos trabalhadores volta ao trabalho. No fim do mês, De Gaulle tem ampla vitória nas eleições gerais e monta novo governo. A vida continua.


Maio de 68 fica na memória como uma revolução que não se concretizou, mas que fez milhões de franceses questionarem seu governo, sua forma de trabalhar e sua vida cotidiana, abrindo novos caminhos de luta por democracia, igualdade e emancipação social.
Créditos

Edição:
Dennis Barbosa (Conteúdo), Letícia Macedo (Conteúdo) e Rodrigo Cunha (Infografia)
Design:
Karina Almeida
Desenvolvimento:
Mariana Gibara
Informações:
RFI e Britannica

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