Harvey Weinstein, de poderoso produtor a ‘predador sexual’ de Hollywood


Harvey Weinstein, de poderoso produtor a ‘predador sexual’ de Hollywood


Weinstein, de 66 anos, tinha o poder de construir ou destruir carreiras na indústria do entretenimento , e se assegurava de que suas vítimas soubessem disso - AFP/Arquivos


AFP25/05/18 - 17h56 - Atualizado em 25/05/18 - 18h52

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Quando Harvey Weinstein se entregou à Polícia nesta sexta-feira (25) não havia tapete vermelho. Nem sinal das estrelas e do glamour que o cercavam na época em que era considerado um deus em Hollywood e usava seu poder para intimidar e abusar sexualmente das mulheres.

Até oito meses atrás, Weinstein, de 66 anos, que ficou em liberdade após pagar fiança de US$ 1 milhão, teve durante décadas o poder de construir ou arruinar carreiras na indústria do entretenimento, e se certificava de que suas vítimas soubessem disso.

Essa ameaça constante manteve por anos em silêncio centenas de atrizes que desde outubro passado começaram a contar histórias arrepiantes.


Rosanna Arquette, Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Léa Seydoux contaram ter sofrido assédio. Asia Argento, Lucia Evans, Rose McGowan e Paz de la Huerta o acusam de estupro, enquanto Mira Sorvino e Ashley Judd asseguram que acabou com suas carreiras por não terem cedido às suas investidas.

Embora o gabinete do promotor de Manhattan não tenha revelado as identidades das duas mulheres pelas quais ele foi acusado de estupro e agressão sexual, estima-se que uma delas tenha sido Evans, que o acusou de tê-la obrigado a fazer sexo oral nele em 2004.

As revelações contra Weinstein, que sempre negou as acusações de estupro, destamparam uma caixa de Pandora em Hollywood, que salpicou em alguns famosos e deu lugar a movimentos como #MeToo e Time’s Up (Chegou a hora) e à mudança de atitude na indústria, de tolerância zero para este tipo de conduta.


– Roupão de banho –

O site especializado em celebridades TMZ mostrou uma foto e Weinstein em Malibu na quarta-feira. Não é muito nítida, mas aparece envelhecido e mais magro.

Longe da imagem do homem intimidador de mais de 100 quilos, que chegou a se denominar “o xerife dessa asquerosa cidade sem lei” chamada Hollywood e marcava encontro com atrizes em quartos de hotel para convidá-las – vestindo apenas roupão de banho – a massagens e para que o vissem se masturbar.


Em novembro, depois de o escândalo vir à tona, internou-se em um centro de reabilitação para tratar sua dependência de sexo.

Mas já tinha caído em desgraça: foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, assim como do sindicato de protutores, e sua empresa, a The Weinstein Company (TWC), ficou na bancarrota e procura desesperadamente um comprador.

Ruiu uma carreira de 30 anos, um império que construiu com seu irmão, Bob, e que rendeu 80 prêmios Oscar e mais de 300 indicações aos prêmios da Academia.


A TWC surgiu em 2005 após sair da Miramax, o primeiro estúdio que fundaram juntos em 1979 e venderam à Disney em 1993.

O nome da empresa era a combinação do nome de sua mãe, Miriam – que trabalhou como recepcionista quando o estúdio surgiu, a princípio para distribuir filmes independentes – e seu pai, Max, um lapidador de diamantes, amante da sétima arte.

O pai incentivou essa paixão nos dois rapazes do Queens, em Nova York, que produziram shows nos anos 1970 antes de se tornarem magnatas do mundo do espetáculo.


– “Amam seu pai” –

Harvey, cujos filmes favoritos são “Luzes da Cidade”, com Charles Chaplin, e “Jejum de Amor”, ganhou um Oscar como produtor de “Shakespeare Apaixonado”.

Entre as 16 indicações ao Oscar de melhor filme, somam-se “O Aviador”, “Em Busca da Terra do Nunca”, “Chicago”, “Gangues de Nova York”, “A vida é bela”, “Gênio Indomável” e “Pulp Fiction: Tempo de violência”. Todos aclamados por público e crítica.


“O Paciente inglês”, “O Artista”, “O discurso do rei” e “A dama de ferro” também estão na lista de filmes que ele ajudou a consagrar com o Oscar.

O escândalo não só acabou com sua carreira, mas com seu casamento com a estilista Georgina Chapman, mãe de dois de seus cinco filhos.

“Tinha o que pensava ser um casamento feliz (…) Era meu amigo, meu confidente, meu apoio”, disse à revista Vogue em maio. Sobre seus filhos, disse: “O que as pessoas vão dizer a eles? Eles amam seu pai”.


Com uma fortuna que chegou a ser estimada em 150 milhões de dólares, era reconhecido por suas contribuições em campanhas contra a aids, a diabetes juvenil e a esclerose múltipla, assim como ao Partido Democrata, inclusive as campanhas de Barack Obama e Hillary Clinton.

Desde que o escândalo surgiu, pediu uma segunda chance, embora antes, sem ter ideia da magnitude que iria tomar, chegou a dizer que a história de sua ruína “é tão boa que quero comprar os direitos para o filme”.

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