Com sangue nas mãos, Globo usa documento da CIA para dizer que golpe de 16 não foi golpe. Por Kiko Nogueira Por Kiko Nogueira - 12 de maio de 2018 inShare
Com sangue nas mãos, Globo usa documento da CIA para dizer que golpe de 16 não foi golpe. Por Kiko Nogueira
O Globo perpetrou um editorial canalha sobre o documento da CIA confirmando que Geisel controlava a política de extermínio de seu governo.
“Para as gerações mais novas, fica o ensinamento de como funciona um verdadeiro regime de exceção, instalado a partir de um golpe real, como foi o de 64, impondo uma ditadura radicalizada em 13 de dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5, o AI-5”, diz o texto.
“É oportuno este tema, resgatado pela descoberta do memorando, devido à facilidade e ligeireza com que se acusa a cassação de Dilma Rousseff de ‘golpe’ e se afirma viver o país um ciclo de ilegalidades, a principal delas a prisão do ex-presidente Lula. Credite-se esses desatinos à paixão política e ideológica, mas também à falta de informação histórica”.
Segue:
Revisitar aqueles tempos de escuridão ensina que nada existe no Brasil, a partir da Constituição de 88, que permita ao Estado sequestrar, executar cidadãos e cercear as liberdades em geral. Há imperfeições, é certo, mas as instituições funcionam, e o estado democrático de direito vigora.
É crucial ter consciência das diferenças em relação àquele passado, também para a sociedade poder rejeitar qualquer proposta autoritária que venha da direita ou da esquerda.
Golpe, portanto, só existe se houver torturas, “desaparecimentos” e soldados. Quando há juízes e jucás como protagonistas, é parte das regras do jogo.
A Globo usa um golpe que promoveu e que agora finge repudiar para afirmar que o outro golpe que promoveu não existiu.
Nem uma palavra acerca de seu papel na história.
Sem Roberto Marinho, a ditadura não teria durado 21 anos. A Globo deu sustentação, apoio, fez propaganda do Brasil Grande com Amaral Netto.
A TV nasceu em 1965 e cresceu à sombra dos generais. Armando Falcão, ex-ministro da Justiça, se referia a Roberto Marinho como o “mais fiel e constante aliado”.
Em relatórios do Departamento de Estado americano, o ex-embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fala da interlocução privilegiada do dono da Globo com as lideranças do regime.
Segundo Gordon, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” ao lado de um grupo composto por Geisel e Golbery discutindo o futuro de Castello Branco.
A decretação do AI 5, em 1968, foi comemorada. Em 7 de outubro de 1984, o “doutor” Roberto executou em seu jornal um artigo exaltando o legado dos amigos.
“Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”, escreveu.
Marinho também apelava para as instituições, como seus descendentes o fariam três décadas depois.
A fortuna da família é obra e graça daqueles ditadores que cultivou e ordenhou.
Como disse o jornalista Glenn Greenwald, “o dinheiro dos Marinhos – hoje – está encharcado do sangue das vítimas”.
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