Altos e baixos do formulador do programa econômico de Ciro Gomes Ele se saiu bem em temas como ajuste fiscal, câmbio e juros, mas escorregou sobre estatais e se enganou ao citar Plano Collor como exemplo de ação política


Altos e baixos do formulador do programa econômico de Ciro Gomes
Ele se saiu bem em temas como ajuste fiscal, câmbio e juros, mas escorregou sobre estatais e se enganou ao citar Plano Collor como exemplo de ação política
Por Maílson da Nóbrega
access_time6 maio 2018, 20h41more_horiz


Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência (Nacho Doce/Reuters)

O economista Mauro Benevides Filho, responsável pelo programa econômico do presidenciável Ciro Gomes, buscou desfazer a imagem negativa que empresários e analistas têm do candidato.

Em entrevista deste domingo ao Estadão, ele se mostrou muito sensato em questões macroeconômicas. Ao eleger a situação fiscal como o principal problema a enfrentar, disse que “ajuste não pode ter ideologia”, aduzindo que isso é uma “falácia que precisa ser demolida, sobretudo entre o pessoal mais à esquerda”. Discordou frontalmente da tolice dita pelo coordenador do programa econômico do PT, Marcio Pochmann, para quem ajuste fiscal se resolve com crescimento.

Ele falou corretamente sobre câmbio e juros. “Câmbio é preço. Vamos favorecer a queda dos juros com condições de sustentação da economia e do setor público e não por decreto”. Qualquer economista liberal subscreverá essas afirmações.
Benevides Filho também falou bem de abertura econômica e sobre equívocos passados na concessão de incentivos fiscais, como os destinados à fracassada política de informática. Apoiou de certa forma a ideia de abertura da economia, afirmando, acertadamente, que ela se destina a “assegurar competitividade, eficiência e aumento da produtividade”. Negou que Ciro retomaria ativos privatizados e afirmou que a privatização é “uma ferramenta para ampliar a estrutura de produção do país”.
Ele também deu suas escorregadelas ao descartar a privatização da Petrobrás e da Eletrobrás, consideradas “áreas estratégicas”. Não se espera que Ciro apoie a venda da Petrobras, mas não dá para qualificar a Eletrobrás como empresa estratégica.

Na defesa de uma reforma da Previdência em parte baseada no regime de capitalização, Benevides parece não ter-se dado conta de que a ideia é inviável. O Tesouro não tem como enfrentar o custo da transição, quando deixa de arrecadar contribuições previdenciárias e mantém os gastos com o estoque de aposentados. Isso deu certo no Chile onde o déficit atuarial da Previdência era suportável e o governo gerava superávits fiscais primários. Benevides defende uma flexibilização do teto de gastos para abrigar investimentos. Trata-se de uma flexibilização perigosa, que abriria o caminho para outras.

Indagado se Ciro poderia fazer reformas difíceis em um Congresso fragmentado, Benevides Filho citou Fernando Collor, que “tinha seis deputados e confiscou a poupança”. A comparação não faz sentido. Collor baixou uma medida provisória para enfrentar o processo inflacionário, que todos desejavam. Pouquíssimos parlamentares estavam dispostos a rejeitar a medida, isto é, pagar para ver. As propostas de reforma de Ciro dependerão de projetos de lei e, mais difícil ainda, de reformas constitucionais.

Seja como for, o balanço da entrevista é positivo.

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