Tiros na democracia Que nos unamos, esquerda e direita, para derrotarmos o autoritarismo, institucional ou que se expressa de forma violenta
Tiros na democracia
Que nos unamos, esquerda e direita, para derrotarmos o autoritarismo, institucional ou que se expressa de forma violenta
POR MARCELO FREIXO
06/04/2018 0:00
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Há pouco mais de uma semana, eu redigi um artigo, que por mera questão de tempo não chegou a ser publicado, para defender que a execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e os tiros disparados contra a caravana do ex-presidente Lula são perigosos ataques à democracia. Não por se tratar especificamente de Lula ou de Marielle, mas porque aceitar a violência como instrumento de ação política, dirigida a representante de qualquer partido, significa compactuar com a barbárie do banditismo e do autoritarismo.
Agora, a recente declaração do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, leva-me a repensar o texto que seria publicado neste espaço. E volto à sua redação com o sombrio sentimento de que uma nova avalanche antidemocrática se projeta. Porque se a violência dirigida contra Marielle é um crime político gravíssimo que merece nosso repúdio, também é grave e absurdo o comentário do general no Twitter.
A lei proíbe que o comandante do Exército dê declarações de cunho político e partidário. Mesmo assim, Villas Bôas, após deixar claro que fala em nome da instituição que dirige, ameaçou o Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de interferir no Poder Judiciário. Por isso, mantenho neste texto o mesmo título que utilizaria no artigo sobre os atentados contra Marielle e Lula: “Tiros na democracia” — fico com a metáfora da bala, apesar de o general Paulo Chagas, em apoio a Villas Bôas, ter dito que aguarda ordens com sua “espada ao lado”.
Nós sabemos quais foram as consequências da última vez em que as Forças Armadas desembainharam as espadas e se colocaram como árbitras da democracia: o sepultamento da própria democracia na forma de um regime que por 21 anos perseguiu, torturou e assassinou seus opositores.
Quando debates políticos são substituídos por tiros, pedradas e pelo salvacionismo de espadachins, quando as diferenças precisam ser eliminadas, e o autoritarismo se torna a linguagem predominante, é sinal de que nuvens cor de chumbo se projetam no horizonte, e a democracia não precisa de comandantes e justiceiros.
Não esqueçamos a página infeliz de nossa história, da passagem que parece desbotada na memória das nossas novas gerações. Neste ano, completa-se o cinquentenário da publicação do AI-5, que levou ao endurecimento definitivo e implacável da ditadura civil-militar.
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Já estamos vivendo no Rio uma grave intervenção que não passa de jogada político-eleitoreira protagonizada por um presidente ilegítimo. Não cabe às Forças Armadas resolver as diferenças típicas da democracia. Queremos lidar com nossos conflitos de maneira republicana, nos parlamentos, nas ruas e nos novos espaços criados pela internet, com diálogo e liberdade para divergir e expor nossas ideias.
Que nós, da esquerda e da direita, não tenhamos inimigos, mas adversários políticos. E que nos unamos para derrotarmos o autoritarismo, seja ele institucional ou aquele que se expressa de forma violenta nas ruas. Porque não aceitamos que a democracia seja alvejada ou passada ao fio das espadas.
Marcelo Freixo é deputado estadual (PSOL-RJ)
Leia mais: https://oglobo.globo.com/opiniao/tiros-na-democracia-22562107#ixzz5BzfUZTmE
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