Preso há quatro dias, Lula segue no jogo mesmo fora de campo Enquanto PT traça estratégias, ex-presidente recebe apoio internacional e segue como candidato
Preso há quatro dias, Lula segue no jogo mesmo fora de campo
Enquanto PT traça estratégias, ex-presidente recebe apoio internacional e segue como candidato
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Apoiadores do ex-presidente Lula nesta quarta, próximos a sede da Polícia Federal, em Curitiba. RODOLFO BUHRERREUTERS
MARINA ROSSI
São Paulo 11 ABR 2018 - 17:28 BRT
Nesta quarta-feira completam-se quatro dias que o ex-presidente Lula está preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Lá, ele começou a cumprir pena de 12 anos e 1 mês por corrupção e lavagem de dinheiro. Embora detido, do lado de fora o petista segue dominando as narrativas. Desde sábado, lideranças da esquerda internacional, passando pela ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, e o mandatário venezuelano, Nicolas Maduro, até o líder do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Melenchon, o líder do Podemos na Espanha, Pablo Iglesias e o ex-premiê de Portugal, José Sócrates, já se manifestaram em defesa do ex-presidente.
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O PT, por sua vez, distribui seus esforços em torno de uma estratégia que vai desde transferir a direção política do partido para Curitiba, passando por um acampamento montado em frente ao prédio onde Lula está preso, atos por diversas capitais e na insistência do discurso de que Lula permanece candidato à presidência. "Lula não é apenas o candidato do PT", disse ao EL PAÍS a presidenta do partido, senadora Gleisi Hoffmann. "Lula é o candidato de uma parcela grande da população", afirmou, amparada nas pesquisas eleitorais que apontam, pelo menos até o momento, o petista em primeiro lugar (37% dos votos) em todos os cenários.
Neste final de semana, o Datafolha publicará uma nova pesquisa de intenções de voto, em que seu nome será testado, muito embora ainda permaneçam as dúvidas se ele conseguirá, ou não, concorrer. Na segunda-feira, o instituto registrou a primeira pesquisa após a prisão do ex-presidente. Serão apresentados nove cenários para os entrevistados. Lula é o candidato do PT em três dele. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, substitui Lula em outros três cenários, e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner em outros dois. Em apenas um cenário o PT não apresenta nenhum candidato. Os resultados devem sair no próximo domingo e avaliam também o atual Governo Temer e as intenções de voto para o Governo de São Paulo. "Quem define o candidato não é o Datafolha, somos nós", disse Gleisi, ao ser questionada sobre os cenários sem Lula. "Lula vai ser o candidato, sob qualquer hipótese. Ele é inocente, por isso é um preso político", afirmou.
Incluir o ex-presidente nas pesquisas faz sentido já que sua prisão não o torna inelegível automaticamente. A Lei da Ficha Limpa estabelece que não basta apenas a condenação pela Justiça para que alguém seja proibido de ser candidato. É preciso que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorize ou não a candidatura. Enquanto isso, Lula está no jogo, mesmo fora de campo. A manutenção do seu nome tem sido lida de diversas formas pelo mundo político. Por um lado, a insistência de ser candidato é uma maneira de insistir em sua inocência, ou seja, calar-se seria admitir a culpa. Por outro, apontar sucessor agora poderia queimar cartuchos antes do tempo.
Um dos cartões que devem circular em apoio a Lula.
Seja como for, a estratégia é manter o PT vivo mesmo que abalado com a prisão de seu maior líder. Fora da capital paranaense, o partido desenhou uma tática de guerrilha para as redes sociais para manter seu nome em voga. De maneira geral, o discurso será estabelecido em três linhas: enaltecer as conquistas sociais dos governos do PT, ressaltar a permanência dos ideais defendidos por Lula mesmo após sua prisão, e, por último, tratá-lo como um injustiçado, e a Justiça como parcial.
Para isso, diversas frases de efeito foram desenhadas. A marca mais usada será #JamaisApisionarãoNossosSonhos, uma frase dita pelo próprio Lula em um vídeo que começou a circular no momento em que ele se entregava, no sábado. Outras palavras de ordem também serão utilizadas, como “Lula é o povo e o povo é Lula” e “O ‘crime’ de Lula foi gerar 15 milhões de empregos”. Elas circularão pela internet em cartões, com o desenho do rosto do ex-presidente. “No Governo Lula 36 milhões de pessoas saíram da pobreza”, diz um deles. “Dois pesos e duas medidas. Justiça arquiva ações de [Geraldo] Alckmin e julga Lula em tempo recorde” e “Grampearam e divulgaram conversas de Lula. Acham exagero quebrar sigilos de Temer”, diz outros.
A campanha tentará manter Lula como o candidato que fará "do Brasil um país respeitado lá fora mais uma vez", como diz um dos cartões. Outra tática para manter o nome do ex-presidente em evidência chegou ao Congresso. Deputados do PT estão modificando seus nomes oficiais com o nome “Lula” no meio do sobrenome. Assim, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), por exemplo, passou a ser chamado de Paulo Lula Pimenta.
Na campanha, serão ressaltados também os feitos dos Governos do PT.
Para além da internet e do acampamento em Curitiba, militantes e apoiadores do ex-presidente também estão enviando cartas com mensagens positivas ao petista. Uma campanha informal pede até que telefonemas sejam feitos à superintendência da PF para saber como Lula está sendo tratado ali. Um abaixo-assinado eletrônico em defesa da candidatura do ex-presidente ao Prêmio Nobel da Paz já tinha arrecadado mais de 100.000 assinaturas. A campanha, cuja meta é alcançar 150.000 assinaturas, foi criada por Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino que ganhou o Nobel em 1980.
Visita negada
Para além da estratégia virtual, outras ações são realizadas para que a prisão de Lula não caia no esquecimento do noticiário. Nesta terça, uma comitiva de governadores de nove Estados foi à capital paranaense na esperança de fazer uma visita ao ex-presidente. Mas, Tião Viana (PT-AC), Waldez Góes (PDT-AP), Ricardo Coutinho (PB-PSB), Flavio Dino (MA-PCdoB), Wellington Dias (PT-PI) Camilo Santana (PSB-CE) Rui Costa (PT-BA), Paulo Câmara (PSB-PE), Renan Filho (MDB-AL) foram barrados na porta. O dia de visita aos presos que estão na PF de Curitiba é quarta-feira. Apenas os advogados dos detentos podem visitá-los fora deste dia.
Por isso, a Justiça Federal do Paraná negou o pedido de visitas, o que, segundo Gleisi Hoffmann, deixou o ex-presidente "bravo". "Ele foi informado pelo advogado Manuel Caetano [um dos que fazem a defesa do petista] sobre a comitiva, e ficou emocionado e bravo porque não puderam visitá-lo", contou Gleisi Hoffmann. Até o momento, apenas os advogados de Lula o viram. Na manhã desta quarta-feira, o pré-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, esteve no acampamento em frente à superintendência da PF em Curitiba.
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