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MUNDO
Personagem da semana: Mark Zuckerberg
CEO do Facebook troca moletom por terno escuro e, em tom sério e maduro, tenta convencer parlamentares americanos de que sua empresa conseguirá proteger os dados de seus usuários
PEDRO DORIA
13/04/2018 - 08h02 - Atualizado 13/04/2018 08h02
Quando Mark Zuckerberg, de 33 anos, entrou no salão de audiências do Hart Building, prédio anexo ao Capitólio onde enfrentaria a sabatina de 44 dos 100 senadores americanos, muitos no Vale do Silício tinham em mente sua primeira grande aparição pública.
Zuck tinha 25 anos e enfrentava, no palco da conferência All Things Digital, dois dos mais experientes jornalistas de tecnologia, Walt Mossberg e Kara Swisher. Na véspera, Steve Jobs o havia desancado da mesma cadeira de couro vermelho em que agora sentava pela maneira como seu Facebook tratava privacidade. O jovem fundador não estava relaxado. Em um ponto, conforme ia sendo pressionado pelas perguntas, o rosto empalideceu, surgiram na testa as primeiras gotículas de suor, que foram aos poucos encharcando as pontas do cabelo. Tirou seu tradicional moletom de capuz para mostrar a camiseta molhada. Quase maternal, Swisher foi brincando, quebrando a tensão, relaxando o rapaz. Contornou ela, com habilidade, o ataque de ansiedade que ele não pôde evitar.
Esta semana, já não de moletom, mas vestindo um bem cortado terno escuro, Zuck sentou-se à mesa perante os parlamentares para falar em rede nacional. Não trazia qualquer vestígio daquele rapaz que foi um dia. O assunto, porém, permanecia o mesmo. Como o Facebook encara privacidade.
O Vale, entre a falha geológica de San Andreas e a Baía de San Francisco, na Califórnia, é uma máquina de criar negócios multibilionários a partir de ideias brilhantes. A fórmula vem sendo lapidada desde princípios dos anos 1970. Em que momento investir, como transformar meninos em empresários. Com Zuckerberg, chegou ao ponto máximo. É como se, nele, cada erro cometido no caminho por outros tivesse sido corrigido.
Ao fundar a Apple ainda nos anos 1970, Jobs era igualmente jovem e muito rápido se implodiu pela inabilidade de gerir a companhia e o ego, arcando com um exílio de mais de dez anos fora da empresa que fundou. Desde cedo Zuck domou seu ego. Ao abrir o capital do Google, seus dois fundadores perderam pleno controle do negócio e tiveram de se curvar à flutuação das ações na Bolsa. O Facebook abriu capital, mas, pelos termos do contrato, Zuck faz o que deseja não importa quem tenha assento no Conselho. Tem 16% das ações, mas 60% dos votos. Se outras empresas pareceram ter sucesso para logo serem atrapalhadas por novas startups vindas das garagens míticas, não o Face. O Instagram começou a ganhar músculo, Zuck o comprou. O WhatsApp, idem. Tudo é método. Aprendizado com o passado. E um homem ambicioso, capaz e disciplinado no centro. Se alguém perguntasse no comando do Facebook o estado dos negócios em dezembro de 2016, a resposta seria unânime. Já deu tudo certo. Agora basta alcançar os 4 bilhões de humanos que faltam na rede.
No início do ano, quando o SurveyMonkey perguntou aos americanos em qual empresa de tecnologia menos confiavam, 56% responderam de cara: Facebook. O Google, em segundo lugar, teve 5%.
Zuckerberg soube aprender com os erros de seus concorrentes e evitou tropeços como o de Bill Gates, que em 1998 prejudicou a própria empresa ao responder com arrogância aos questionamentos de congressistas americanos
Pouco após a eleição que levou Donald Trump ao Salão Oval, alguém perguntou ao CEO sobre o papel de sua rede no pleito. “A ideia de que notícias falsas no Facebook influenciaram a eleição é bem maluca”, respondeu. Mas a expressão confiante de Zuck foi desaparecendo. Nos bastidores, seus engenheiros exploravam a origem do dinheiro que pagou pela publicidade política, tentavam traçar as origens de notícias falsas. A Rússia explorou a plataforma. Em setembro de 2017, o empresário mudava o tom. “Chamar de maluco escondeu o problema e me arrependo.” Aí explodiu o escândalo da consultoria Cambridge Analytica, que capturou 87 milhões de perfis de usuários completos e os usou num estudo para manipular a eleição de 2016. Ninguém no Facebook diz com clareza quais são suas conclusões internas. Se a consultoria, os russos e a campanha Trump foram eficazes. Qual o verdadeiro peso da rede social na conquista da Casa Branca.
Em 1998, um Bill Gates arrogante testemunhou perante o Congresso americano. Causou impressão terrível, desgastou a imagem de sua Microsoft em meio ao processo antitruste que consumiu a empresa a ponto de distraí-la na briga pelo domínio da internet. Zuck estava atento, paciente com perguntas bobas, sério. Também essa lição aprendeu. Resta saber se conseguirá evitar que o governo se meta na forma com que sua empresa, e todo o Vale, lida com as informações de seus usuários. Afinal, o que sustenta o negócio é justamente a perda de privacidade.
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