O PSD à esquerda e à direita


JOSÉ PACHECO PEREIRA
O PSD à esquerda e à direita





Sempre me pareceu sólida doutrina - sá-carneirista pura e dura, vertida em textos de grande rigor teórico pouco habituais para as nossas épocas de princípios elásticos - nunca existir nenhum problema com uma hipotética aliança do PSD com partidos ou grupos à sua direita, se... O "se" estava também lá exposto nos textos do fundador, com idêntica forma cristalina: se o PSD não comprometesse nessa aliança o seu lugar na política portuguesa de partido, que se posicionava entre o centro-esquerda e o centro direita, como partido reformista cujo principal objectivo é combater o atraso nacional, ou seja, o PSD não pode, em qualquer aliança à sua direita, alienar o centro-esquerda e cair na armadilha de se deixar apresentar como cabeça de uma frente de direita contra uma frente de esquerda. Pelo contrário, o PSD pode e deve falar para a sua direita, como o deve fazer à sua esquerda, sem hipotecar o modelo reformista da sua génese, que aliás está bem expresso no seu programa. Este nasceu de uma fusão "histórica", ou seja, que só existiu na história concreta, entre um personalismo de raiz cristã, um liberalismo de raiz burguesa e um principio de justiça social de raiz social-democrática. O escândalo que motivaram as palavras de Cavaco Silva, de que o PSD era também o partido da "esquerda moderna", vinha da incomodidade da esquerda antiga em perceber que não só o partido ia buscar votos à dita "esquerda moderna", como também era capaz de fazer uma política infinitamente mais consequente pelos mais pobres e necessitados do que toda a retórica "solidária" do PS. Presumo que, nalguns ouvidos com memória na "esquerda antiga", seja como lembrança desse temor que soaram as recentes palavras do mesmo Cavaco criticando o governo de Guterres pela enorme insensibilidade social que demonstrou. O problema é que, se achassem que isto era apenas uma vaidade bizarra do professor, não ficassem tão perplexos e incomodados. De uma forma que o corpo compreende, embora o pó da cabeça recuse, eles sabem que é verdade e que é daí que vem o perigo para a "esquerda antiga".Por isso é fácil perceber porque razão é que a "esquerda", tão preocupada com a sua "renovação", nas palavras do Eduardo Prado Coelho ou do Edgar Correia, nunca é capaz de discutir aquilo que talvez lhes desse mais ensinamentos críticos - a sua relação com o PSD. Mostrariam certamente mais imaginação e acertariam mais na "mouche" se o fizessem do que ao continuarem enredados nos sempiternos problemas de mastigarem no grande almofariz do PS todos os grupos e tendências. Desse almofariz nunca saiu mais nada senão retórica "solidária", subsídios para um gigantesco "establishment" e o próprio Guterres. Sempre foi assim desde 1985, desde a Convenção, desde os Estados Gerais, etc., etc. e, enquanto não meterem lá o PCP, é isso a "renovação" da esquerda. Algumas pessoas do Clube da Esquerda Liberal perceberam-no quando apoiaram Soares em 1985 e Cavaco em 1987, porque não queriam viver nem numa democracia tutelada por poderes "revolucionários" - que era o que Eanes, Zenha e Pintasilgo propunham -, nem queriam continuar a disfarçar o nosso atraso debaixo do "caminho para o socialismo", que era o que o PS pretendia, querendo impedir a todo o custo a revisão da parte económica da Constituição. Soares e Cavaco quebraram a "esquerda antiga" e enquanto isso não for percebido, nas suas razões e na sua forma, a esquerda em Portugal será sempre pouco mais do que o boyismo do PS.Mas, voltemos aos "se" iniciais quanto à aliança à direita. Só a ignorância política da maioria dos nosso jornalistas e a sua dependência do mero jogo táctico dos conflitos internos dos partidos, com a sua saborosa simplicidade e rudimentar descrição de ambições, vaidades e intrigas, tão atractivas para a mesma idade mental e incultura dos políticos que as fazem como dos jornalistas que as relatam, é que pode deixar incólume aquilo que foi mais importante na declaração pós-eleitoral de Paulo Portas. Esta foi, num homem que abunda em declarações tão tronitruantes como habilidosas no seu marketing, uma declaração pura e simplesmente antidemocrática, quer na forma, quer na substância. É por isso grave de mais para passar desapercebida e constitui para o PSD uma razão de fundo para dizer ao PP que um partido que faz declarações como aquelas, ou que as permite ao seu líder, não tem cabimento em qualquer aliança não por ser de direita, mas porque alimenta um discurso antidemocrático incompatível com o ideário do PSD. O que Paulo Portas disse é fácil de resumir. Disse que o PP era ele, ou seja que o PP era uma espécie de partido unipessoal que se resumia à acção do seu chefe, e que o que ele queria, podia ou fazia era a única bitola para se medir o sucesso ou o insucesso do partido. O número de "eus" do discurso era tão grande, que na verdade, o discurso era "eu". Esta concepção de partido não é democrática. Depois repreendeu o povo pela sua ingratidão, tão injusto ele tinha sido com o "eu" majestático que está à sua frente. Há nessa repreensão também algo de antidemocrático, porque uma coisa é discordar das opções eleitorais da maioria do povo, que até é muitas vezes saudável, outra é entender que um qualquer programa iluminista e iluminado, gerado por um gigantesco "eu", que se resume ao que o "eu" quer, pode e manda, vale em democracia mais do que os votos que não lhe dão. Isto para o PSD deve ser um problema insolúvel, e enquanto permanecer assim não permite alianças.Do mesmo modo, nestas últimas eleições, o discurso securitário, e hostil à emigração, que tem legitimidade em democracia contrariamente ao que diz a "esquerda antiga", perde-a se for assumido como central e se encontrar como modo de expressão certas palavras e actos que lhe dão um conteúdo extremista e violento. Paulo Portas, na sua campanha de Lisboa, ultrapassou todos os limites que antes mantinha e fez declarações que em nada se distinguem das de Le Pen, a não ser pela língua em que foram proferidas. Isto para o PSD deve ser também um problema insolúvel e, enquanto permanecer assim, não permite alianças. Por último, Portas fez uma pequena manipulação para se sentar no lugar dos vencedores, abanando com as coligações que fez com o PSD e esquecendo-se de que, nas mesmas eleições locais, o PP também fez coligações com o PS. Essas ele não abanou e compreende-se porquê. Mostrou assim que a política de coligações foi feita com má-fé. Embora isso não abone Paulo Portas, esta parte do discurso é compatível com a democracia, que inevitavelmente tem uma componente de baixa política em nome da sua natural imperfeição. Isto pode ser resolvido e, mesmo perante um parceiro que notoriamente não é de confiança, as alianças são possíveis desde que alguém mande. O PSD, se for um partido de princípios, não pode centrar o seu "problema" com o PP apenas nas aventuras da liderança entre Portas e Monteiro, nem em saber se este é ou não é seguro. Já se sabe que não é. O principal obstáculo nas suas relações com o PP é o carácter que o seu líder está a dar à sua acção política, tornando-a incompatível com o terreno da democracia. O PSD deve por isso falar para a direita moderada, esforçando-se por representá-la, mas isolando o PP.

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