Legendas falsas em fotos reais fazem estragos na internet
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ANÁLISE
Legendas falsas em fotos reais fazem estragos na internet
O que têm em comum as fotos do tríplex, de Zuckerberg no Congresso americano e da ativista negra morta nos EUA?
POR CRISTINA TARDÁGUILA*
23/04/2018 - 13h45 - Atualizado 24/04/2018 12h16
Às 8h44 da última terça-feira (17), o UOL foi para o Twitter com a seguinte informação: “Tríplex atribuído a Lula encalha. Ninguém deu lance no imóvel desde que Moro determinou venda em leilão”. Minutos depois, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) entraram no local e por lá permaneceram por cerca de duas horas. Até aí o país tinha duas notícias que dialogavam entre si — ambas sobre o apartamento do Guarujá (SP) que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão. Mas demorou pouco para que divergências viessem à tona. As imagens feitas pelo MTST dentro do tríplex não se pareciam em nada com a usada pelo UOLnas redes. Qual era a real: a dos cômodos brancos e empoeirados ou a das mesas de bilhar e vista para o mar? Os fact-checkers se debruçaram sobre o caso.
Erros graves envolvendo fotografias e legendas chamaram a atenção dos checadores nas últimas semanas. Na segunda-feira (9), a Getty Images, conhecida pelas fotos que distribui por todo o mundo, disponibilizou imagens de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, andando pelos corredores do Congresso americano ao lado de uma mulher de cabelos pretos e traços asiáticos. Na legenda da fotografia, reproduzida à exaustão em artigos como os do Yahoo e da AFP, por exemplo, ia a informação de que a jovem era Priscilla Chan, mulher de Zuckerberg. Mas não era.
Horas depois de a série de fotos ganhar o mundo e as redes, checadores identificaram que, na verdade, se tratava de Andrea Besmehn, assistente executiva do CEO do Facebook — não da primeira-dama da rede social. Mas já era tarde. Como retirar da internet fotos mal legendadas?
Em 28 de março, outro caso semelhante rodou o mundo. Junto com o obituário de Linda Brown, jovem negra que ficou famosa na década de 1950 por um processo que proibiu a segregação racial nas escolas dos Estados Unidos, a Associated Press divulgou como se fosse de Linda uma fotografia que não era dela. A imagem equivocada apareceu no New York Times e no Le Monde — para não falar na quantidade de vezes que foi postada nas redes sociais.
>> Análise: Câmara transforma notícia falsa em assunto ‘urgente urgentíssimo’
Avisada sobre o erro, a AP mandou um alerta a todos os seus clientes. Eles deveriam descartar a foto errada. Mas, de novo, já era tarde. Na última quinta-feira (19), quem buscasse no Google Imagens por “Linda Brown” encontrava a imagem equivocada como a primeira opção de resultado — a correta é a destacada em laranja.
Avisada sobre o erro, a AP mandou um alerta a todos os seus clientes. Eles deveriam descartar a foto errada. Mas, de novo, já era tarde. Na última quinta-feira (19), quem buscasse no Google Imagens por “Linda Brown” encontrava a imagem equivocada como a primeira opção de resultado — a correta é a destacada em laranja.
Alexios Mantzarlis, diretor da International Fact-Checking Network (IFCN), rede que reúne as principais plataformas de checagem do mundo, falou sobre o problema e fez um pedido claro: as correções feitas nesses casos precisam ser maiores, ter mais destaque.
“Ainda não vi um pedido de desculpas contundente nem uma explicação da AP sobre o que aconteceu. Também não parece que o serviço de fotos da empresa tenha sido tão rápido e efetivo quanto deveria ter sido para informar seus clientes sobre a foto equivocada de Linda Brown. Já se passaram várias semanas e muitos veículos de comunicação do mundo mantêm essa imagem errada no ar. Erros acontecem, mas, em 2018, temos — mais do que nunca — em pensar nas formas como nós, jornalistas, respondemos a eles.”
“Ainda não vi um pedido de desculpas contundente nem uma explicação da AP sobre o que aconteceu. Também não parece que o serviço de fotos da empresa tenha sido tão rápido e efetivo quanto deveria ter sido para informar seus clientes sobre a foto equivocada de Linda Brown. Já se passaram várias semanas e muitos veículos de comunicação do mundo mantêm essa imagem errada no ar. Erros acontecem, mas, em 2018, temos — mais do que nunca — em pensar nas formas como nós, jornalistas, respondemos a eles.”
Ah! E sobre as imagens do tríplex do Lula? Os fatos não deixam dúvidas. Tanto as fotos do UOL quanto as do MTST são verdadeiras. As imagens publicadas pelo UOL mostram áreas comuns do edifício onde fica o apartamento — e o site informava isso nas letras miúdas da legenda. As do MTST vinham mesmo de dentro do tríplex. Combinavam perfeitamente com os vídeos divulgados no mesmo dia nas redes sociais. Ou seja: até onde se vê, tudo era uma questão de legenda.
* Diretora da Agência Lupa
* Diretora da Agência Lupa
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