Infidelidade 2.0 Nunca foi tão fácil trair. Nunca foi tão difícil esconder

SOCIEDADE

Infidelidade 2.0

Nunca foi tão fácil trair.
Nunca foi tão difícil esconder

VALÉRIA FRANÇA
26/04/2018 - 19h15 - Atualizado 26/04/2018 19h33
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
A mulher está cismada com a quantidade de mensagens que o marido recebe por dia. Também está intrigada porque ele não desgruda do celular nem quando vai ao banheiro. Somados a isso, outros indicadores fermentam seu desconforto: ele trocou a armação dos óculos, voltou a correr, aumentou o número de viagens a trabalho. Surpreendentemente, está mais carinhoso.
Uma noite — das raras que passam juntos—, ela bola um plano: vão a um restaurante, ela insiste para que tomem a segunda garrafa de vinho (na verdade, ela bica a bebida, quem bebe é ele), voltam altinhos para casa. Cansado, de pileque, ele capota na cama. Ela pega o celular, segura o polegar do marido desacordado e o comprime com cuidado no botão que liga o aparelho. Tcha-ram! A tela se abre no WhatsApp e ela pode ver a troca extensa de recados dele com outra mulher. É o fim do casamento?
O que no passado dependia de uma marca de batom na blusa, de um flagra, de um dedo-duro, de uma foto roubada, hoje acontece com apenas um delicado toque no celular — o guardião dos segredos mais precisos e mais evidentes (fotos, nudes, mensagens românticas, azaração) da infidelidade. Descobrir uma traição se tornou muito mais fácil. Entrar num relacionamento extraconjugal também. Há sites feitos sob medida para isso (como o extraconjugais.com ou o amantediscreto.com), há aplicativos talhados para esconder o que não pode ser revelado (como o Vaulty Stocks, que parece um aplicativo para checar o mercado financeiro, mas funciona para armazenar fotos e vídeos picantes), sem falar no pior inimigo da união estável: o Telegram — cujas mensagens são encriptadas e onde é possível definir um tempo para que sejam destruídas automaticamente.
Casos acontecem, sempre aconteceram, mas, aparentemente, desenvolvem-se e tomam corpo com mais rapidez e facilidade graças à tecnologia e às redes sociais. Uma busca rápida na internet sobre o assunto traz informações que corroboram a ideia de que imaginar uma relação imune ao adultério é quase um devaneio. Um estudo do periódico Archives of Sexual Behavior, de 2017, observou 500 adultos que tiveram dois casamentos. Quem traiu no primeiro tem três vezes mais chances de trair o segundo cônjuge. Em 2011, a mesma publicação demonstrou que a infidelidade é tão comum entre homens quanto em mulheres. Um levantamento da American Sociological Review em 2015 mostrou que dependência financeira não protege, pelo menos as mulheres, de serem traídas: 15% dos homens que são financeiramente dependentes das parceiras as traem. No caso delas, só 5% relataram ser infiéis. Um estudo publicado pelo Journal of Personality and Social Psychology em fevereiro mostrou que as pessoas com alto grau de satisfação sexual eram mais propensas a trair os parceiros. Os pesquisadores acreditam que quem está sexualmente satisfeito é, em geral, mais aberto a ter novas experiências sexuais.
Diante do quase inevitável, vem a pergunta: o que fazer? Se ser pego no flagra ficou muito mais fácil e a humanidade não parece ter mudado o pendor por pular a cerca, é de se pensar que mais relações amorosas vão acabar e isso acontecerá ainda mais cedo? A pesquisadora belga Esther Perel rebate com outra pergunta: e se a infidelidade for algo bom?
Perel, de 59 anos, loira, vestida com roupas bem nova-iorquinas e com um leve e sensual sotaque do francês materno, atende casais em um consultório em Manhattan há 34 anos. Seu livro Sexo no cativeiro, lançado em 2006, foi um fenômeno mundial de vendas e suas duas últimas conferências em vídeo — TEDs — tiveram mais de 20 milhões de visualizações.
No novo livro, Casos e casos — Repensando a infidelidade (já disponível em português em e-book e com lançamento em papel previsto para maio, pela editora Objetiva), a guru internacional dos relacionamentos amorosos diz que a infidelidade é mais comum do que se imagina, muito mal compreendida e, sim, perfeitamente defensável. Com a eloquência e a propriedade que lhe são características, ela vai além:
“A infidelidade tem a tenacidade que o casamento apenas inveja”.
Perel defende que, apesar do peso trágico que carrega, a traição pode ser uma grande chance para a reconstrução de um matrimônio mais feliz. “Muitas pessoas tiveram experiências positivas com a infidelidade, passaram por mudanças transformadoras tão grandes quanto passam os doentes terminais. Mas eu não aconselharia ninguém a ter um caso, como não aconselharia ninguém a desenvolver um câncer.”
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