É difícil imaginar Ciro como herdeiro de Lula e do PT Apoiar Ciro como candidato seria renunciar à liderança que o PT conquistou na esquerda
É difícil imaginar Ciro como herdeiro de Lula e do PT
Apoiar Ciro como candidato seria renunciar à liderança que o PT conquistou na esquerda
Por Maílson da Nóbrega
access_time9 abr 2018, 07h24
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Se ainda lhe restar capacidade analítica, o PT dificilmente escolherá Ciro como candidato à Presidência (Sergio Moraes/Reuters)
Com a saída de Lula da corrida presidencial – a menos que tribunais lhe devolvam os direitos políticos, o que é pouco provável – especula-se sobre quais seriam os ganhadores da nova realidade. Bolsonaro foi o escolhido de alguns analistas, enquanto outros apontaram Ciro Gomes como o herdeiro das preferências petistas.
É equivocado imaginar Ciro Gomes como herdeiro político de Lula e do PT. Isso decorreria, diz essa análise, da inexistência de um candidato competitivo, o que levaria o partido a apoiar o ex-ministro como o nome da esquerda. Se isso acontecesse, seria o suicídio político de uma das mais bem-sucedidas agremiações partidárias do país.
É verdade que líderes do PT deram mostras de raciocínio estratégico falho no episódio da prisão de Lula. Houve quem pregasse a desobediência civil. Ou quem desafiasse a Polícia Federal a buscá-lo em meio à aglomeração de militantes na frente da sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
Em qualquer desses casos, haveria o risco de violência, de acirramento dos ânimos e até de mortos e feridos. O ambiente ficaria propício a novas e perigosas reações. A PF não entrou nesse jogo e Lula entregou-se, orientado pela prudência e por seus advogados.
Se ainda lhe restar capacidade analítica, o PT dificilmente escolherá Ciro como candidato à Presidência. Primeiro, porque ele tem sido um crítico recente dos petistas. Segundo, porque não foi a São Bernardo solidarizar-se com Lula, diferentemente do que fizeram Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila, outros candidatos. Terceiro, porque poderia perder-se durante a campanha com declarações irrefletidas, como ocorreu no passado.
Uma das conquistas do PT é sua liderança na esquerda. Apoiar outro candidato seria perder o protagonismo que essa posição lhe assegura. Caso se tornasse coadjuvante, o vácuo seria preenchido por outras forças. Perderia mais parlamentares no Congresso do que se prevê. P PT se tornaria um partido nanico.
O PT, tudo indica, terá candidato presidencial. Se este não empolgar os convertidos e o partido não chegar ao segundo turno, a sigla se veria na contingência de apoiar Ciro caso ele seja um dos ocupantes desse lugar. Pode também acontecer o inverso, isto é, o PT ir para o segundo turno e Ciro ter de apoiar o nome do respectivo petista.
Se Joaquim Barbosa for o candidato do PSB, virar o curinga que alguns esperam e passar para o segundo turno ao lado de Ciro, o apoio dos petistas iria muito provavelmente para o ex-ministro do STF e não para Ciro Gomes.
É cedo para fazer prognósticos seguros sobre as próximas eleições presidências, mas há situações óbvias. Uma delas seria o PT renunciar à liderança em favor de Ciro Gomes.
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