Desvendado o mistério dos mergulhos longos e profundos dos nómadas do mar


Desvendado o mistério dos mergulhos longos e profundos dos nómadas do mar


Os bajau mergulham durante muitos minutos e a grandes profundidades só com uma máscara de madeira. Como conseguem? Têm um baço maior do que o das outras pessoas.
TERESA SERAFIM 21 de Abril de 2018, 7:47
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No Sudeste da Ásia há um povo que passa quase toda a sua vida dentro de água. São os bajau, mais conhecidos como os nómadas do mar. Vivem em barcos e fazem turnos de mergulho de várias horas – só com um equipamento tradicional e pequenos intervalos – para apanhar peixe para a família. A prática destes mergulhos já dura há centenas de anos e chegou-se agora à conclusão de que, devido a isso, os bajau têm um baço maior do que o das outras pessoas. A descoberta publicada agora na revista científica Cell pode ajudar a perceber como o corpo humano responde à falta de oxigénio. Tudo graças a estes mergulhadores a tempo inteiro.

Os bajau viajam pelos mares da Indonésia, Malásia e das Filipinas em casas flutuantes. Quase tudo o que comem é apanhado no mar. Por isso, podem passar mais de 60% do dia a mergulhar em busca de alimentos. Usando apenas uma máscara de madeira, mergulham durante muitos minutos. E há relatos que podem mesmo ir até aos 70 metros. Só muito ocasionalmente visitam localidades em terra.

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Como é que os bajau se adaptaram a estes longos mergulhos em profundidade? Esta era a questão que Melissa Ilardo, da Universidade de Copenhaga (Dinamarca), queria responder no seu doutoramento. Suspeitava que a resposta estivesse no baço (órgão situado atrás do estômago). Afinal, a contracção do baço é uma parte-chave da resposta ao mergulho de mamíferos como foca-de-weddell, que vai a muitos metros de profundidade, durante vários minutos e tem um baço grande.

Num artigo científico de 1990 na revista Journal of Applied Physiology, também já se tinha mostrado que contracção do baço acontecia com um grupo de mergulhadoras japonesas que recolhe pérolas – as ama. Mesmo assim, os orientadores de doutoramento de Melissa Ilardo disseram-lhe que era um assunto muito arriscado para uma tese e que ela poderia não encontrar nada.



Melissa Ilardo correu na mesma esse risco. Em 2015, visitou uma comunidade na Indonésia e viu como era a vida desses mergulhadores nómadas. E como lhe pareceram bastante interessados em saber mais sobre a sua herança genética, Melissa Ilardo voltou mais vezes com um aparelho de ecografia para medir os seus baços. “Basicamente, apareci na casa do chefe da povoação apenas com um aparelho a fazer perguntas sobre baços”, recorda. Integrou-se na comunidade e são vários os relatos dessa vivência: viu que aprendem a nadar antes de saber andar ou um bajau que lhe contou que fez mergulho de 13 minutos. A cientista recolheu saliva e mediu o baço de 59 bajau, assim como a 34 indivíduos do povo saluan, que são vizinhos dos bajau mas não são mergulhadores como eles.

FotoOs bajau aprendem a nadar antes de andar MELISSA ILARDO

Concluiu-se então que o baço dos bajau tem cerca de 160 centímetros cúbicos. “É cerca de 50% maior do que o dos seus vizinhos, os saluan”, salienta ao PÚBLICO Melissa Ilardo.

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