A arrogância antecede a ruína- Liberato Póvoa



A arrogância antecede a ruína





Liberato Póvoa




Diz um velho provérbio árabe que “a arrogância antecede a ruína”. Nada mais certo.

Digo isto para ilustrar um fato da política, suas facetas e o entendimento do povo principalmente sobre a nossa política goiana, embora não me coloque como pessoa versada no assunto, mas estou naquela faixa de compreender o óbvio.

Embora não votasse em Goiás (só agora transferi meu domicílio eleitoral), não escapei de ouvir as propagandas no tal horário gratuito, onde os políticos aparecem sorridentes, não se sabendo se estão sorrindo pra gente ou rindo da gente.

Na última campanha eleitoral, há dois anos atrás, quando se disputavam as eleições municipais, fui testemunha compulsória das promessas de campanha, quando alianças se fizeram e promessas foram feitas.

Naquela época, vi a disposição do senador Ronaldo Caiado em apoiar abertamente o então candidato Íris Rezende, que sucederia Paulo Garcia na Prefeitura de Goiânia.

Como homem decidido e cumpridor de palavra, Caiado desdobrou-se em buscar votos para levar Íris ao posto desejado, e Íris passou por cima de seis candidatos, indo para o segundo turno com Vanderlan Cardoso e, também com o apoio dio senador, derrotou–o conquistando 57,70% dos votos contra 42,30% de Vanderlan, mercê da ajuda de Ronaldo Caiado.

Íris é velha raposa política, já tendo ocupado a Prefeitura de Goiânia por duas vezes (1966-1969 e 2005-2010), além de ter sido senador (1995-2003), governador por duas vezes (1983-1986 e 1991-1994) e nesse meio termo foi um diligente ministro da Agricultura (1986-1990) no governo pemedebista de Sarney, quando se notabilizou por uma supersafra, e ministro da Justiça (1997-1998), no governo social democrata de Fernando Henrique Cardoso, demonstrando seu grande trânsito nos corredores de qualquer partido, embora seja um dos integrantes históricos de seu partido, do qual jamais saiu.

Com isto, nota-se que o atual prefeito de Goiânia é pessoa escoladíssima em política, e muito calculista, celebrando alianças que lhe garantam uma preciosa sobrevida no poder. E essa aliança parece ter sido costurada ao longo do mandato de Íris Rezende, que, numa atitude política perfeitamente viável e normal, prometera apoiar Caiado na sua caminhada que se desenhava rumo ao Palácio das Esmeraldas.

É mister lembrar que apenas o governo municipal está nas mãos do MDB; o estadual está com Marconi, do PSDB. Assim, qualquer aliança que se fizesse fortaleceria a oposição.

Nesse ponto, surge uma reviravolta política inesperada, mas perfeitamente factível: Caiado, como pessoa que sempre viveu com os pés no chão e muito coerente, foi surpreendido com a notícia de que Íris Rezende decidira apoiar o jovem e promissor deputado federal emedebista Daniel Vilela, de apenas 34 anos, que vem se destacando no Congresso, e recentemente foi escolhido presidente da cobiçada Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

As oposições deixaram escapar por entre os dedos uma grande oportunidade de se fortalecerem para enfrentar Marconi, que vem trabalhando incessantemente para fazer seu sucessor.

Ronaldo Caiado, ao que consta, um combativo senador, independente e centrado nos seus propósitos, com passado elogiável e uma independência que está ficando rara entre os políticos, contava como certa a aliança prometida por Íris, que, fatalmente, iria dar trabalho ao atual Governo para permanecer no poder.

Vamos analisar friamente as consequências desse gesto de Íris, que vai atingir diretamente não a carreira de Caiado, que tem a sua sedimentada num mandato de senador, mas a do jovem parlamentar Daniel Vilela.

Com pouco mais de trinta anos, entronizado na política pelo pai, ex-Governador e ex-Prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela, entusiasmado com o brilho de sua carreira, que está apenas começando, e naturalmente incentivado pelo prefeito goianiense, o MDB pré-lançou o jovem deputado à sucessão de Marconi. Bem verdade que Daniel Vilela tem um histórico político: foi vereador de Goiânia aos 26 anos e deputado estadual aos 28, e com 34 está na Câmara dos Deputados, demonstrando, a meu ver, que não amadureceu naturalmente, mas “foi amadurecido” por força das circunstâncias, diferentemente de Íris Rezende, que iniciou sua vida política aos 33 anos, como Prefeito de Goiânia, e foi subindo gradativamente as escadas e galgando cargos de proeminência, sem padrinho político, como Daniel; pelo contrário, arrostando dificuldades insuperáveis, chegou a ser cassado pela Revolução de 64, lutando contra tudo e contra todos para se consagrar politicamente.

Se o jovem deputado pusesse a cabeça no travesseiro e pensasse friamente, imaginaria que uma aliança com Caiado seria a sedimentação de sua carreira política, ao invés de fazê-la incerta, pois, dividida a oposição, certamente fortalecerá a continuidade do PSDM nas rédeas do Estado. Mas, trocando o certo pelo duvidoso, foi ficado pela mosca azul da incerteza.

Admitindo-se que Caiado/Vilela celebrassem uma aliança, com o primeiro na cabeça da chapa, e Daniel de vice: certamente, unidos, poderiam levar a eleição com muito mais facilidade, pois derrotar Marconi é tarefa inglória, ainda mais com a oposição dividida. E como vice de Caiado, Daniel asfaltaria o caminho para alturas maiores, pois fatalmente teria secretarias à sua disposição para levar avante seu projeto político.

Passados os quatro anos de governo, e com a juventude e a vocação para o trabalho, que lhe é inerente, Daniel seria um candidato praticamente eleito para o Senado Federal, e após os oito anos de mandato ninguém lhe tiraria das mãos o Executivo estadual. Com isto, alçaria voos mais altos e de sucesso perfeitamente previsível.

Este fato me lembra uma fábula de Esopo: “Um cachorro, que carregava na boca um pedaço de carne que acabara de conseguir, ao cruzar uma ponte sobre um riacho de águas límpidas, de repente, vê sua imagem refletida na água. Diante disso, ele logo imagina que se trata de outro cachorro, com um pedaço de carne maior que o seu. Ele não pensa duas vezes, e depois de deixar cair no riacho o pedaço que carregava à boca, ferozmente se atira sobre o animal refletido na água. Seu objetivo é simples, tomar do outro, aquela porção de carne que julga ter o dobro do tamanho da sua. Agindo assim, ele acaba perdendo a ambos. Moral da história: é duas vezes mais imprudente aquele que desiste do certo pelo incerto”,

Semelhantemente ao personagem animal do fabulista grego, o que poderá acontecer com Daniel Vilela? Concorrendo ao Palácio das Esmeraldas, pode ganhar, mas para se enfrentar Marconi é preciso muita argúcia e sobretudo experiência, o que falta ao jovem e promissor deputado, ainda mais que Caiado certamente dividirá com ele o eleitorado oposicionista. Mas se perder, pode encerrar sua promissora carreira, pois também encerrará seu mandato, e político sem mandato é cobra sem veneno, e ele não terá palco para mostrar suas realizações, durante quatro longos anos num forçado ostracismo..

Como ainda há tempo para se repensar o assunto, vamos aguardar, pois é como lembra o adágio árabe: “A arrogância antecede a ruína”, pois a irredutibilidade em rever posições política acaba também sendo arrogância.




(Publicado no “Diário da Manhã” de 10/04/2018)

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