TOCANTINS: DO OUTRO LADO DA IMPUNIDADE E FALTA DE LEI E ORDEM-Famílias de mulheres assassinadas no Tocantins se indignam com impunidade e cobram justiça
Famílias de mulheres assassinadas no Tocantins se indignam com impunidade e cobram justiça
Apesar do número de mortes ter caído no estado, alguns casos estão há quatro anos sem solução. Para parentes, o Dia Internacional da Mulher é data para relembrar vidas perdidas.
Por Patrício Reis, G1 Tocantins
08/03/2018 07h00 Atualizado 08/03/2018 07h36
Edilene, Heidy, Taísa e Danielle são vítimas de crimes com características de feminicídio (Foto: Montagem G1)
As estatísticas mostram que nos últimos três anos houve uma redução nos casos de homicídios de mulheres no Tocantins. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), obtidos pelo G1 por meio da Lei de Acesso a Informação, houve uma redução de 65% nos casos de homicídios contra mulheres entre 2015 e 2017.
Ainda assim, muitos casos ficam anos sem uma solução ou aguardando julgamento. Para os parentes, o Dia Internacional da Mulher, nesta quinta-feira (8), é uma data para cobrar justiça e relembrar as vidas perdidas.
Este é o caso da família da professora Heidy Aires, morta em dezembro de 2014 na casa dela em Palmas, na quadra 1.204 Sul. O principal suspeito é Allan Moreira Borges. Ele era marido da vítima e recorreu da decisão de ser julgado em júri popular. O contador teve dois recursos negados e aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
"É um momento de tristeza que a gente sente muito a falta. Ela faria aniversário no último dia 28 e este é um segundo momento de muita tristeza no ano. A gente quer que a justiça seja feita e o caso venha ser resolvido o mais rápido possível", disse o irmão da vítima, Paulo Oliveira.
Allan Moreira é o principal suspieto da morte de Heidy Aires (Foto: Reprodução/Facebook)
Os dados da Polícia Civil mostram que o número de mulheres assassinadas no Tocantins caiu de 40 para 34 entre 2015 e 2016. A queda foi ainda maior entre 2016 e 2017, passando de 34 casos para 14. Embora os números do ano passado sejam parciais, apenas com os registros até o mês de outubro.
Os números são diferentes da média nacional que registrou um aumento de 6,5% de 2016 para 2017 em todo o país.
No estado, os dados de homicídio doloso contra vítimas mulheres em 2016 e 2017 são parciais porque, segundo a SSP "algumas unidades policiais ainda não entregaram seus relatórios estatísticos mensais". O governo diz que não tem dados de feminicídio especificados de nenhum dos anos. Mesmo a lei tendo sido aprovada ainda em março de 2015 para tirar o problema da invisibilidade.
O feminicídio foi incluído no Código Penal e prevê penalidades mais graves para homicídios que se encaixam na definição de feminicídio – ou seja, que envolvam "violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher". Os casos mais comuns desses assassinatos ocorrem por motivos como a separação.
Cabeleireira foi assassinada em Araguaína (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Outro caso antigo que continua sem solução, é a morte da cabeleireira Edilene Oliveira da Silva, de 30 anos, que foi encontrada depois de seis meses desaparecida. O corpo estava enrolado em um colchão dentro de um buracode aproximadamente 30 centímetros de profundidade. O crime aconteceu em 2016, em Araguaína.
O suspeito de cometer o homicídio é o marido dela, Aldenir Alves Texeira, 28 anos. O casal tinha dois filhos. Segundo a polícia, o homem tentou enganar a polícia se passando por vítima e dizendo que a mulher havia fugido. O homem está preso em Araguaína, aguardando julgamento.
Casos recentes
Desde novembro do ano passado, casos de mulheres assassinadas chamaram a atenção. Quase todos têm caracteríticas de feminicídio e o principal suspeito é um ex-companheiro ou alguém próximo.
Cirlene Pereira - 29 anos
Cirlene Oliveira foi assassinada a tiros em Gurupi (Foto: Reprodução/Facebook)
A técnica em radiologia, Cirlene Pereira, de 29 anos, foi morta com pelo menos cinco tiros na porta de casa, no residencial João Lisboa da Cruz em Gurupi, sul do Tocantins. O crime aconteceu no último dia 4 de março.
O ex-marido dela, Evandro Guedes foi preso no dia seguinte e é o principal suspeito de ter cometido o crime. Ele negou que tenha matado a mulher e vai aguardar decisão da Justiça sobre se poderá ou não responder ao processo em liberdade.
Juvenia Cunha - 36 anos
Juvenia Cunha foi morta a tiros na região sul de Palmas (Foto: Reprodução/Facebook)
A técnica de enfermagem Juvenia Cunha de Sousa, 36 anos, foi morta a tiros na noite do dia 31 de janeiro, em Palmas. O crime aconteceu em um conjunto de kitnets na quadra 804 Sul. Ela foi encontrada sem vida ao lado de José Humberto Nogueira, que tinha um ferimento de bala na cabeça.
Nogueira era ex-companheiro de Juvenia e principal suspeito de cometer o crime. Ele morreu uma semana depois no hospital.
Danielle Christina - 45 anos
Professora Danielle foi encontrada morta (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Os exemplos de violência e assassinato contra mulheres não são poucos. A professora Danielle Christina Lustosa Grohs foi encontrada morta na própria cama com sinais de estrangulamento em dezembro do ano passado. O principal suspeito é o médico Álvaro Ferreira, que era companheiro da vítima. Segundo o advogado dela, eles estavam em processo de divórcio.
O médico e uma suspeita de envolvimento, com quem ele teria um relacionamento, foram indiciados por homicídio qualificado e aguardam julgamento. Ele estava preso desde o dia 11 de janeiro e foi liberado para cumprir prisão domiciliar na tarde desta quarta-feira (7).
Taísa Ribeiro - 34 anos
Jovem foi encontrada morta em Paraíso do Tocantins (Foto: Arquivo Pessoal)
Em Paraíso do Tocantins, a 63 quilômetros de Palmas, a jovem Taísa Ribeiro foi morta supostamente por um vizinho em novembro do ano passado. O motivo teria sido cometido porque o suspeito mantinha uma paixão não correspondida pela vítima.
Durante as investigações, a polícia descobriu que um dia antes do crime o suspeito passou entre 30 a 40 vezes na frente da casa dela, espionando a jovem. Taísa Ribeiro foi encontrada após quatro dias desaparecida com sinais de estrangulamento, perto de um lixão da cidade.
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