EXERCITO DESMORALIZADO-Marielle Franco: um assassinato à procura de uma narrativa

Política

Estado de exceção

Marielle Franco: um assassinato à procura de uma narrativa

por Jessé Souza — publicado 19/03/2018 18h30, última modificação 19/03/2018 18h21
A morte da vereadora fluminense deveria estimular a criação de uma frente antifascista. O Brasil precisar parar de flertar com o caos
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Marielle Franco: um assassinato à procura de uma narrativa
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A falsa consciência, que permite a dominação simbólica/afetiva do oprimido pelo opressor, se materializa, hoje em dia e antes de tudo, na “fragmentação da consciência”.
A consciência fragmentada é aquela que não reconstrói mais os vínculos de compreensão entre os fatos dispersos que observa. É como na nossa mídia venal. O problema não é apenas que se deixe de veicular as informações. O problema é que elas, quando veiculadas, o são sem qualquer conexão com a totalidade maior, que é o que torna qualquer fato singular compreensível.
Pior. Como não existe reflexão abrangente, os fatos pululam como se fossem casuais e arbitrários, reforçando o medo e a insegurança que sentimos frente a tudo aquilo que não compreendemos.
Assim o medo e a insegurança, consequência da violência física e material bestial da execução da vereadora Marielle Franco, é ampliada e aprofundada pela violência simbólica cujo produto principal é a fragmentação da consciência do público. A Rede Globo nada de braçada neste mar revolto.
Globo, no comando do processo simbólico/afetivo de tornar opaca a rapina econômica do País pelo capital financeiro, tenta se apropriar do assassinato nos seus próprios termos: como violência abstrata e generalizada que só pode ser combatida por mais violência, desta vez concreta e concentrada, antecipando o segundo passo do golpe em curso.
Se o interesse predominante é a rapina econômica da população e das riquezas do País, a forma política e cultural que o saque assume são constitutivos do sucesso ou fracasso da empreitada. Daí o conluio entre a Rede Globo e a Lava Jato ser a face mais visível do processo golpista. A forma política do golpe é o estado de exceção consubstanciado na supremacia da Lava Jato sobre a constituição e seu ataque seletivo e sem freios a inimigos políticos e aos direitos fundamentais.
A forma cultural do golpe, por sua vez, é a apropriação do moralismo de fachada, como justificativa do sequestro da soberania popular, e da linguagem pseudo-emancipadora, que logra iludir partidos e movimentos sociais capturados pelas lutas identitárias da lógica do “dividir para reinar”, típica do capitalismo financeiro.
Como o sacrifício da legalidade foi realizado em nome de um combate da corrupção que só fez aumentá-la aos olhos de todos, a primeira fase rósea do conluio Globo/Lava Jato que derrubou a presidenta e fez o PSDB renascer das cinzas em 2016 acabou. A tentativa de quebra do consenso democrático/constitucional de 1988 não acarretou, como previsto, uma estigmatização das esquerdas, mas a radicalização da sociedade como um todo.
O caso de amor Globo/Lava Jato não pariu apenas o filho indesejado Jair Bolsonaro. Ele retirou qualquer legitimação do sistema politico e econômico que os separassem dos esquemas abertamente criminosos que grassam no aparelho de Estado, muito especialmente do aparato jurídico-policial, assim como nos setores mais pobres e excluídos da sociedade.
Como não existe uma intervenção cirúrgica, controlável e limitada no consenso legal-democrático, cuja única justificação é a soberania popular, sua quebra produz uma reação em cadeia visível de cima abaixo no aparelho de Estado e na sociedade como um todo.
Por um lado, a quebra da legitimidade democrática enseja uma luta pelo poder que tende a perder qualquer limite e a flertar com o caos. Por outro, o empobrecimento visível da sociedade, produto da rapina e do saque que são os motivos econômicos do golpe, tende a tornar a luta pela distribuição do botim restante cada vez mais sangrenta.
Os dois elementos tendem a se unir e a criar um contexto de violência crescente e caótica. É isso que torna o assassinato de Marielle uma consequência do golpe. A apropriação da Globo, e da mídia venal que ela comanda, visa tornar esse vínculo invisível.
O fato do Exército ter sido tragado para este conflito pode levar a uma situação incontrolável pelo simples acúmulo de contradições e violência. Parte da população, que apoia Bolsonaro, esta madura para acreditar que só a violência resolve.
Só não vê aonde esta escalada irresponsável do conluio pode acabar quem não quer. O assassinato de Marielle deveria ser o ponto inicial de uma frente antifascista de salvação nacional. Esta frente ainda tem três quartos da classe média e da população como um todo. Devemos, portanto, nos concentrar naquilo que ainda nos une e não naquilo que nos separa: a possibilidade de cada um poder levar uma vida em paz e sem medo do terror e do não-direito.
Essa frente antifascismo deve unir todos os partidos, associações e cidadãos que repudiem a violência como linguagem da política. Este brutal assassinato acendeu uma luz amarela. Devemos parar de flertar com o caos.

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