Propinas de R$ 82 milhões e 15 relógios de luxo enterraram o que era o “Plano B” do PT ao Palácio d o Planalto
Propinas de R$ 82 milhões e 15 relógios de luxo enterraram o que era o “Plano B” do PT ao Palácio d
o Planalto
O EX-IMPOLUTO Ex-ministro de Lula, Jaques Wagner é a mais nova liderança petista a mergulhar no mar de lama da corrupção (Crédito: Yasuyoshi Chiba)
André Vargas02.03.18 - 18h00
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Em um cenário político de terra arrasada para o PT, o ex-governador da Bahia (2007-2014) Jaques Wagner despontava como a melhor opção para substituir Lula na cabeça de uma chapa à Presidência em 2018. O político baiano era um dos poucos nomes graúdos do partido a ter escapado incólume aos escândalos de corrupção que atingiram a legenda, levando seus principais líderes aos tribunais e prisões. O acarajé azedou na segunda-feira 26, quando a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a Operação Cartão Vermelho, que investiga a obra de reforma para a copa da Arena Fonte Nova, em Salvador. Jaques Wagner e outros são suspeitos de participar de um esquema de fraude em licitações, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. O superfaturamento na reforma do estádio seria 190% acima do valor inicial, atingindo R$ 684 milhões. Atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Wagner estaria no centro desse esquema de propinas e caixa 2 envolvendo as empreiteiras OAS e Odebrecht, integrantes do consórcio Fonte Nova Participações (FNP), encarregado da obra. De acordo com a PF, o político recebeu R$ 82 milhões em doações eleitorais e propinas que ajudaram a financiar a campanha vitoriosa de Rui Costa ao governo baiano. A prisão preventiva de Wagner foi pedida, mas negada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), sediado em Brasília. Sete mandatos de busca foram cumpridos na residência do político, em Salvador, em seu gabinete no governo e locais ligados ao secretário estadual da Casa Civil Bruno Dauster e ao empresário Carlos Daltro, que agiriam como intermediários. Wagner disse que as acusações são “infundadas” e que a PF se engana por desconhecer o funcionamento de parcerias público-privadas (PPPs), “onde não existe a figura do superfaturamento”. Esse argumento não passou despercebido. Um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) já apontava em 2013 que a contratação desse tipo de obra no modelo PPP não seria bom para a saúde dos cofres públicos. As investigações também detectaram fortes indícios de direcionamento dos editais, a fim de favorecer o consórcio vencedor. Como ladainha em procissão, o PT manteve o mantra da “perseguição contra o partido” e disse que o político seguirá como alternativa caso Lula seja barrado pela Ficha Limpa – o que segundo o Tribunal Superior Eleitoral é liquido e certo.
Colocou a mãe no meio
A PF chegou ao ex-governador por caminhos diferentes. De um lado vieram delações de executivos e funcionários da Odebrecht, de outro, pistas, documentos e informações obtidas em outra operação na sede da OAS. Um cruzamento de dados apontou que dos R$ 684 milhões gastos para reconstruir a Fonte Nova, R$ 450 milhões (65%) foram objeto de superfaturamento. A delegada encarregada da operação, Luciana Matutino Caires, afirmou que os R$ 82 milhões destinados a Wagner vieram de desvios das duas empreiteiras para a campanha política de 2014. Essa bolada equivale a 12% do valor total da obra. Nem todos os caminhos que o dinheiro percorreu para chegar ao petista estão claros. Todavia, a PF acredita que pelo menos um pagamento de R$ 500 mil em espécie foi feito na casa da mãe de Wagner, no Rio de Janeiro. Ou seja, para se locupletar o petista colocou até a mãe no meio: “Existe a informação de que os doleiros em Salvador não tiveram capacidade de entregar tal quantia, e, por isso, fizeram o pagamento no Rio, na casa da mãe de Wagner”, afirmou o superintendente da PF na Bahia, Daniel Justo Madruga. O resto do dinheiro teria passado aos poucos pelas mãos de Dauster e Daltro ou na forma de doações de campanha. Um pagamento de R$ 3,5 milhões veio na forma de doação eleitoral da Cervejaria Itaipava, empresa que atuaria como “laranja” da Odebrecht no esquema.
De acordo com a PF, o superfaturamento na obra seria uma forma do então governador da Bahia quitar uma dívida de R$ 390 milhões da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb) com a Odebrecht. O acerto da negociata teria passado pelo crivo de Marcelo Odebrecht, então presidente da empreiteira e hoje cumprindo pena por envolvimento em corrupção na Petrobras.
Além de documentos, computadores, celulares e arquivos físicos e digitais, os agentes federais apreenderam também uma coleção de 15 relógios de luxo em posse do ex-governador. Os relógios seriam para presentear aliados e amigos. O ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho informou em sua delação que presenteou o petista com um relógio de R$ 20 mil em seu aniversário. O valor da coleção será periciado. Em ato de apoio ao político organizado pelo PT e aliados ainda na noite de segunda 26, Wagner alegou que se tratariam de réplicas. “Como eu fui algumas vezes à China, eu comprei alguns relógios de réplica”. Ninguém acreditou. Na melhor das hipóteses, trata-se de uma esperta compra de produtos pirata.
O petista baiano não está sozinho nessa. Ele é o sétimo governador investigado por receber propinas envolvendo obras de arenas utilizadas na Copa. Antes dele foram citados em outras investigações Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Agnelo Queiroz (PT-DF), José Roberto Arruda (PR-DF), Omar Aziz (PSD-AM) e Sinval Barbosa (PMDB-MT). Em Salvador, deputados da oposição se articulam para requerer a abertura de uma CPI. Com todas as lideranças do PT abatidas pela corrupção, o partido terá que discutir agora a possibilidade de um “plano C” para a chapa presidencial. “C” de corrupção.
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