O DEM em busca do protagonismo Relegado ao papel de coadjuvante da cena política desde 1994, quando virou linha auxiliar do PSDB, o partido lança Rodrigo Maia à Presidência da República debaixo de uma nuvem de desconfianças sobre se a candidatura será mesmo para valer
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O DEM em busca do protagonismo
Relegado ao papel de coadjuvante da cena política desde 1994, quando virou linha auxiliar do PSDB, o partido lança Rodrigo Maia à Presidência da República debaixo de uma nuvem de desconfianças sobre se a candidatura será mesmo para valer
MIRANDO A CADEIRA Rodrigo Maia quer a vaga de Temer. Por enquanto ela é apenas uma miragem (Crédito: Andre Dusek)
Rudolfo Lago09.03.18 - 18h00
E Embora tenha apenas a oitava maior bancada na Câmara, com 33 deputados, o DEM sempre foi o fiel da balança das grandes decisões do governo no Congresso, especialmente a partir da ascensão do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Câmara. Foi graças à sua articulação que o presidente Michel Temer conseguiu escapar das duas denúncias por corrupção desautorizadas pelos parlamentares. Agora, o DEM quer escapar da sina de coadjuvante. Para alcançar o Olimpo político, a legenda lançou na quinta-feira 8 a candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da República. Desde 1989, quando disputou as eleições presidenciais com Aureliano Chaves (na época o DEM chamava-se PFL), o partido parecia destinado a se coligar com as forças majoritárias que venciam as eleições, como aconteceu com o apoio a Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 (o vice de FH foi Marco Maciel, do PFL). Mas para mudar a sua sorte, o DEM precisa mais do que apenas almejar o protagonismo. Será necessário superar as desconfianças de que o projeto político é mesmo para valer.
Não será tarefa trivial. Como Maia permanece com míseros 1% nas pesquisas, o DEM precisa dar um salto – quase uma sequência de duplo twist carpado eleitoral – para conseguir chegar a pelo menos 15% das intenções de voto até junho e ter condições de disputar a Presidência com chances reais de chegar ao segundo turno. Caso isso não ocorra, o partido corre o risco de ficar condenado, novamente, a se aliar com quem apresentar maior musculatura política no espectro da centro-direita.
Por ora, tudo são flores. Em clima de campanha, na convenção do DEM, Rodrigo se apresentou como “o novo”, termo da moda adotado pelos novos velhos políticos para que, ante o eleitorado, eles não pareçam como verdadeiramente são: um museu de grandes novidades. “Queremos construir com o povo brasileiro um pacto para rompermos com o que há de velho e atrasado na política brasileira”. Para demonstrar unidade interna, o prefeito de Salvador, ACM Neto, alçado ao comando do partido, destacou a capacidade de diálogo do presidente da Câmara, formada nos bastidores do Congresso. “Rodrigo foi decisivo para a manutenção da estabilidade da democracia no País”, disse.
Cacife
Em meio à euforia inicial, os articuladores da candidatura de Rodrigo Maia apostam que o cacife do presidente da Câmara pode subir caso a Procuradoria-Geral da República venha a denunciar novamente o presidente Michel Temer, que durante a semana teve a quebra de seu sigilo bancário determinada pelo ministro do STF, Luís Roberto Barroso. Pelo raciocínio dos Democratas, uma eventual nova investigação contra Temer poderia ensejar uma terceira denúncia contra o presidente. Para a denúncia andar, ela precisará ser aprovada em votação na Câmara. Na primeira vez que Temer foi denunciado, o pedido foi rejeitado com facilidade. Na segunda vez, o placar já foi mais apertado. Por isso, acreditam os apoiadores de Maia, que a tendência é que uma terceira denúncia encontre um cenário muito mais difícil. Ainda mais se a Câmara for presidida por alguém que, além de presidente da Casa, seja candidato à Presidência da República – lembram eles. Menos dificuldade haverá, no entanto, se tal candidatura estiver afinada com o Palácio do Planalto, daí o movimento de xadrez de Rodrigo Maia. A hipótese do cacife de Maia aumentar com uma terceira denúncia contra o presidente é algo que até os analistas próximos a Temer no Palácio do Planalto consideram como o ponto central da pretensão lançada pelo DEM na quinta-feira, ainda que no Planalto não se acredite que a investigação sobre o Porto de Santos prospere.LUZ PRÓPRIA O novo presidente do DEM, ACM Neto, quer que o partido deixe de ficar à sombra do governo (Crédito:Divulgação)
Do ponto de vista menos policial do que político, há uma avaliação de que existe uma avenida a ser percorrida na eleição por uma candidatura de centro-direita. Principalmente se o PSDB não deslanchar. Na avaliação do DEM, o maior problema do PSDB hoje reside na formação de seus palanques estaduais. Os Democratas, ao contrário, estariam conseguindo construir esses palanques. Em Minas, o deputado Rodrigo Pacheco trocou o MDB pelo DEM e será candidato ao governo. No Rio, o candidato será o pai de Rodrigo, César Maia. Na Bahia, ACM Neto será o candidato a governador. Em Pernambuco, o nome do partido pode ser o ministro da Educação, Mendonça Filho. Em Goiás, conta com a força eleitoral do senador Ronaldo Caiado. No Amazonas, há conversas para filiar o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, insatisfeito no PSDB. Na convenção de quinta-feira, o partido ainda recebeu o reforço de Laura Carneiro (RJ), ex-MDB, relatora da intervenção no Rio, e de Heráclito Fortes, ex-PSB. No seio do partido, a sensação é de que, na pior das hipóteses, o DEM se fortalece para influir na sucessão. A ver.
Uma candidatura viável?
> Mesmo com 1% nas pesquisas, o DEM lançou a candidatura do deputado Rodrigo Maia à presidência da República
> O partido, que faz parte da base aliada do governo Temer, quer ser alternativa às candidaturas de centro, como a de Geraldo Alckmin, do PSDB
> Desde 1989, quando disputou com Aureliano Chaves, o partido – que antes se chamava PFL –, não lança candidato a presidente da República
> Como a candidatura tem que ser oficializada até as convenções de julho, teme-se que o partido recue e alie-se à outra legenda de centro
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