Marcha contra armas nos EUA tem lágrimas, silêncio e apelo ao voto juvenil Organizadores dizem ter levado 800 mil a Washington; houve outros 800 atos pelo país e no mundo



Marcha contra armas nos EUA tem lágrimas, silêncio e apelo ao voto juvenil
Organizadores dizem ter levado 800 mil a Washington; houve outros 800 atos pelo país e no mundo



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24.mar.2018 às 18h06


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Estelita Hass Carazzai
WASHINGTON


​A estudante Emma Gonzalez, 18, ficou pouco menos de 6min20s em silêncio no palco. Foi o tempo que durou o ataque a tiros em sua escola na Flórida, onde 17 pessoas morreram em fevereiro. Numa multidão de milhares, era possível ouvir a respiração de quem estava ao lado.

As lágrimas escorriam pelo rosto de Gonzalez, que virou símbolo do movimento de jovens pelo controle de armas nos Estados Unidos.

“Lutem por suas vidas, antes que esse seja o trabalho de outra pessoa”, discursou a adolescente, ao final dos seis minutos.

Foi o ponto alto de um protesto altamente emotivo, que reuniu milhares de pessoas pelo país em defesa de regras mais restritivas ao comércio e ao porte de armas nos EUA. Houve cerca de 800 marchas simultâneas ali, mas também vários atos no exterior —por exemplo, em Berlim, Paris, Tóquio e Sydney.

Liderado por estudantes que sobreviveram ao tiroteio na Flórida, o ato elegeu como um de seus alvos principais o banimento dos fuzis automáticos —e pediu o engajamento dos jovens pelo voto. ​
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Marcha pelo controle de armas nos EUA





















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“Vote para tirá-los” era o bordão mais repetido em Washington, onde cerca de 800 mil pessoas se reuniram, segundo os organizadores.

“Preparem seus currículos”, discursou David Hogg, 17, sobre legisladores que não assumirem compromisso com o controle de armas no país. Em novembro, os americanos elegem novos representantes para o Congresso e as assembleias estaduais.

Mas o protesto também contemplou a questão da violência urbana em cidades como Chicago, Los Angeles e Nova York, de onde vieram crianças que discursaram em alerta às mortes de negros, hispânicos e mulheres por armas de fogo.

“Essas mortes não chegam às primeiras páginas dos jornais”, disse Naomi Wadler, de apenas 11 anos.

“Virou normal ver velas, cartazes, balões em homenagem às vidas de negros e hispânicos que foram perdidas”, discursou a estudante Edna Chavez, 17, moradora de Los Angeles.

Os alunos da Flórida, sobreviventes do ataque à escola Marjory Stoneman Douglas, afirmaram ser “privilegiados”, de uma área rica e branca, mas disseram que dariam voz a todas as vítimas. No palco, apenas crianças e adolescentes, entre 9 e 18 anos, discursaram. Criticaram a “epidemia” das mortes por armas de fogo e afirmaram ter dado início a uma revolução.

Entre os principais temas dos discursos e estampados nos cartazes estavam o fim da venda de fuzis automáticos como o AR-15; a extensão da checagem de antecedentes a todas as compras de armas no país, inclusive em sites ou feiras de usados; e a crítica aos políticos financiados pela NRA (Associação Nacional do Rifle), maior lobby pró-armas dos Estados Unidos.

"Isso não é um golpe publicitário, ou apenas um dia, um evento. É um movimento”, afirmou Delaney Tarr, 17, estudante da Flórida.
HISTÓRICO

Não eram poucos os manifestantes que comparavam a marcha ao movimento por direitos civis nos EUA, na década de 1960.

O reverendo Martin Luther King Jr., morto em 1968, foi lembrado em vários discursos. Em especial, no de sua neta, Yolanda Renne King, 9.

“O meu avô tinha um sonho: que seus quatro filhos não fossem julgados pela cor de sua pele, mas por seu caráter”, discursou. “Eu tenho um sonho: basta é basta”, gritou, em alusão a um bordão dos manifestantes.

Performances de artistas como Demi Lovato e Ariana Grande —que foi cercada pelos adolescentes para selfies ao final de sua canção— ajudaram a impulsionar o tom emotivo do evento.

Por todos os lados, viam-se pessoas às lágrimas. Uma das sobreviventes que subiu ao palco passou mal e vomitou em meio ao discurso. Voltou aos microfones mesmo assim e saiu aplaudida.

Ao final do dia, a organização liderada pelos estudantes havia arrecadado US$ 5,4 milhões em doações pela internet. O dinheiro seria usado para o suporte logístico da marcha, que foi transmitida ao vivo pela internet, e em protestos paralelos, além de apoio às famílias das vítimas da Flórida.

Contraprotestos também foram vistos no meio da marcha —como de grupos antiaborto e a favor do porte de armas, com cerca de dez pessoas. Alguns manifestantes protestavam contra os "intrusos", e a polícia cercou alguns deles para que saíssem da multidão. Mas não houve registro de confrontos.

O presidente Donald Trump não estava em Washington: viajara na sexta para sua propriedade na Flórida, onde passou a tarde de sábado jogando golfe.

Em nota, a Casa Branca afirmou que “aplaude a coragem de tantos jovens americanos que exercitaram seu direito à liberdade de expressão”. Informou que “manter as crianças seguras é a prioridade número um do presidente”, por meio de propostas como o fim dos “bumpstocks” (que aceleram o disparo de tiros em armas comuns) e a melhoria do sistema de denúncias anônimas e de segurança nas escolas.

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