ILUMINISMO FERROU O BRASIL-Cada vez mais para trás

Cada vez mais para trás

por Mino Carta — publicado 05/03/2018 00h28, última modificação 02/03/2018 10h12
E dizer que na segunda metade do século XVIII o iluminismo chegara a Minas
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Andrada e Etchegoyen
José Bonifácio de Andrada não simpatizaria com o general Etchegoyen. E vice-versa
Durante a ditadura, desenvolvi a tese de que o quepe dos generais brasileiros era muito apertado, de sorte a lhes provocar dores de cabeça violentas. Inspirava-me no triste destino do dobermann, o cão obrigado a hospedar o cérebro no crânio muito estreito.
Vários quatro-estrelas nativos apresentavam sinais do fenômeno, bem como outros militares de patente inferior. Não bastou, porém, que a ditadura terminasse para que alguns dos seus sucessores do poder fardado deixassem de padecer do aperto do quepe.
Nesta categoria dos sofredores despontava, já em tempos ditos de redemocratização, o ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves. Havia nele uma imponência tonitruante do gênero Gilmar Mendes, a resultar claramente da estreita circunferência do quepe.
Foi ele o homem forte do governo Sarney, quando não havia somente um ministro fardado, mas três. Mais um para a Marinha e outro para a Aeronáutica. E assim foi até 6 de junho de 1999, no governo de FHC, quando as três armas passaram a ter comandantes e um civil foi para o Ministério da Defesa.
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A mudança correspondeu a um notável avanço republicano. Tardia, certamente, positiva, entretanto, no sentido de contemporânea do mundo democrático e civilizado. Diga-se que o primeiro ministro da Defesa, Élcio Álvares, durou seis meses.
Envolvera-se em um caso de corrupção no Espírito Santo. Teve de ser afastado e substituído até o fim do segundo mandato de FHC por Geraldo Magela da Cruz Quintão. E assim foi, um civil na Defesa, até 27 de fevereiro de 2018.
O titular, Raul Jungmann, tornou-se ministro da Segurança Pública, cargo novo em folha a causar a inveja mundial, sobretudo em Ramallah, e a Defesa voltou às mãos de um militar, por ora interino, Joaquim Silva e Luna.
Arrisco-me a aventar a hipótese de que o candidato de Michel Temer seja mesmo o general Sergio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Ins-titucional da Presidência. É do conhecimento até do mundo mineral tratar-se de militar linha-dura, de relações um tanto turvas com o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas. Assim como a volta da Defesa a um militar, seja ele quem for, é puro retrocesso. Não creio ser necessário explicar por que, tampouco produzir um gráfico a respeito.
A nova decisão do presidente ilegítimo é mais uma prova das sinistras intenções de quem teme ser preso ao terminar o mandato ilegal, enquanto age como chefão da máfia no poder. Mais que pela democracia e pelo Estado de Direito, o desprezo é pelo próprio Brasil.
Recomendava o general Westmoreland aos seus comandados na Guerra do Vietnã: “Bomb them to the stone age”, bombardeie-os de volta à idade da pedra.
Temer não precisa de bombas para nos reconduzir ao passado mais remoto possível. Além do mais, o povo vietnamita é bem mais combativo do que o brasileiro, batido de saída e incapaz de entendimento e reação. Aliás, Westmoreland perdeu a guerra. Temer, no entanto, não hesitaria em lhe repetir a frase em relação a nós todos.
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Ao saber da exposição do Aleijadinho em São Paulo, permito-me uma digressão. E penso no esplendor de Minas do século XVIII, ciente da vida no século das luzes e a acendê-las no recôncavo abençoado. Sempre lamentei a ausência de um historiador disposto a contar o milagre mineiro e de colher-lhe as razões. 
Aleijadinho é representativo de um período de arte deslumbrante, de bela música, de poesia, de grandes esperanças, e de arquitetura sublime que criou tesouros como Ouro Preto, Congonhas do Campo, Mariana e outros tão únicos quanto encantadores.
É a Inconfidência, surpreendentemente informada a respeito das ideias destinadas a mudar a Europa e o mundo. Deste enredo brotaria mais tarde a figura de José Bonifácio de Andrada, cavalheiro internacional com aprendizado civilizatório na França.
Predada pelos portugueses, que com as riquezas mineiras reconstruíram Lisboa arrasada pelo terremoto de meados dos 1700, a Minas da Inconfidência foi a resposta à dominação. Se o Brasil tivesse seguido por aquela rota, seria outro país, livre das quadrilhas que hoje o condenam.

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