Economia brasileira passa de 'zumbi a walking dead', diz FT









Economia brasileira passa de 'zumbi a walking dead', diz FT
Site do jornal britânico Financial Times aponta que, apesar do crescimento do PIB do Brasil em 2017, ainda existe um 'mal-estar profundo no coração da economia brasileira'
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Célia Froufe, correspondente, Broadcast

05 Março 2018 | 08h54


LONDRES - O site do jornal britânico Financial Times avaliou nesta segunda-feira, 5, que a economia brasileira passou de "zumbi a walking dead (morto vivo)" e acredita que o próximo governo terá que desenrolar "terríveis distorções" econômicas, incluindo a Previdência Social. O texto cita não apenas o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico, divulgado na sexta-feira pelo IBGE e que mostrou a primeira expansão desde 2014, e também o relatório com projeções mais positivas para o avanço da atividade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado na semana passada.

"Mas antes de comemorar o renascimento do zumbi econômico para uma economia de alto crescimento, vale a pena analisar algumas das distorções ilustradas na pesquisa. Elas sugerem que ainda há um mal-estar profundo no coração da economia brasileira", considerou o diário.


Agricultura cresceu 13% em 2017, e foi a maior contribuição para o crescimento do PIB Foto: Eduardo Monteiro/Divulgação


Uma amostra seria o alto pagamento pelos brasileiros de bens de consumo e serviços, um fator que aumenta a desigualdade e os custos na economia. Como exemplo, o periódico citou que um Toyota Corolla produzido no Brasil custa mais de US$ 45 mil, enquanto no México, que também produz o veículo, o preço é pouco acima de US$ 30 mil e, nos Estados Unidos, US$ 20 mil. Outra distorção dos preços brasileiros citado pelo FT inclui os serviços de voz móveis, que no Brasil são quase duas vezes mais caros por minuto do que na Argentina e oito vezes as taxas dos EUA.



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A lista do site continua. As fábricas no Brasil gastam uma média de quase 2 mil horas por ano, preparando seus impostos em comparação com 800 horas na Venezuela e menos de 200, nos EUA. O Brasil tem as tarifas de importação mais altas dos países listados no relatório da OCDE, cerca do dobro do nível da China e quatro vezes o dos Estados Unidos. A reportagem também menciona que o Brasil não ganhou novos mercados para suas exportações nos últimos anos. Em termos de importações e exportações em porcentagem do PIB, o Brasil é o país menos aberto na lista da OCDE. "Menos do que a Argentina", enfatizou o veículo britânico.

Do lado fiscal, a avaliação é a de que o orçamento brasileiro é um estudo sobre como não desenvolver um país. Em 2016, gastou 16% do seu orçamento em pagamentos de juros sobre dívida pública, que é detida por investidores, empresas e poupadores da classe média alta. Isso foi mais do que na educação (12%) e na saúde (12%). "Na verdade, os pagamentos de juros foram o segundo maior gasto no orçamento, batidos apenas por benefícios sociais (35%), principalmente pagamento de pensões" comparou.

Para o FT, o sistema previdenciário doméstico é um dos mais injustos do mundo, beneficiando servidores públicos, que podem se aposentar em torno dos 50 anos. "O orçamento do Brasil beneficia ativamente os ricos em detrimento dos pobres e não deixa dinheiro para o investimento", concluiu. O relatório da OCDE previu que o crescimento do PIB no Brasil aumentará para 2,2% este ano e para 2,4% em 2019. "Esta é uma recuperação dos mortos para uma economia que está emergindo de sua pior recessão na história e procurando pelo menos retornar ao seu tamanho anterior."

O Brasil empreendeu algumas reformas, conforme Jens Arnold, um dos autores do relatório da OCDE. Isso inclui a redução do subsídio implícito em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Se o Brasil quiser redescobrir seus 'espíritos animais', o próximo governo terá que se tornar um campeão em desencorajar as mais terríveis distorções da economia, começando pela Previdência", considerou o FT.

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