Jamais imaginei que isso poderia acontecer', diz mãe de menina morta após inalar desodorante Suspeita é de que criança de 7 anos tenha participado de ‘desafio do aerossol’, divulgado nas redes sociais; caso ocorreu em São Bernardo



Jamais imaginei que isso poderia acontecer', diz mãe de menina morta após inalar desodorante
Suspeita é de que criança de 7 anos tenha participado de ‘desafio do aerossol’, divulgado nas redes sociais; caso ocorreu em São Bernardo
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Isabela Palhares e Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo

08 Fevereiro 2018 | 04h00


SÃO PAULO - Uma menina de 7 anos morreu no sábado depois de inalar desodorante aerossol em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. De acordo com a família, Adrielly Gonçalves participava do ‘desafio do desodorante’, que havia visto nas redes sociais, quando desmaiou e teve uma parada cardíaca.

O desafio, dizem os parentes da garota, consiste em inalar o desodorante e manter a boca fechada pelo máximo de tempo. A mãe da criança, Márcia Gonçalves, de 39 anos, conta que a filha passou a sexta-feira brincando na vizinha e à noite voltou para casa, onde ficou sob o cuidado dos irmãos mais velhos.


Márcia encontrou a filha de bruços na cama e sentiu cheiro do produto. Foto: Nilton Fukuda/Estadão


"Cheguei em casa e a encontrei deitada de bruços na minha cama. Achei que ela estava dormindo, até porque já eram 2 horas. Tomei um banho e fui deitar do lado dela. Foi quando percebi um forte cheiro de desodorante e vi que ela estava desmaiada", conta a mãe, que é motorista de ônibus e trabalhava na escala noturna quando a menina morreu.
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+ Promotoria do Rio investiga Baleia-Azul

Segundo a prefeitura de São Bernardo, a menina recebeu atendimento às 4 horas, com parada cardiorrespiratória, em estado grave. Adrielly era a caçula de cinco irmãos, de 23, 18, 16, 14 e 10 anos. Depois do carnaval, ela começaria o 2.º ano do ensino fundamental. "Ela é o meu milagre. Engravidei dela depois de ter tido um câncer no útero. Toda a gravidez foi de risco. Mesmo assim, ela nasceu perfeita, saudável. Era uma menina linda, ativa, brincalhona, muito espontânea", diz Márcia.

A mãe afirma sempre ter vigiado o conteúdo que a filha acessava na internet via celular - um aparelho que ganhou de uma tia. Por isso, diz acreditar que a menina tenha visto o vídeo do "desafio do desodorante" no aparelho de outra pessoa.

"Vasculhamos todo o celular dela nesses últimos dias e não encontramos nada que não fosse apropriado para a idade dela. No histórico só tem vídeos da Baby Alive (uma boneca) e de desenhos que ela assistia na televisão", diz a motorista. Márcia diz que o filho de 10 anos contou ter visto uma vez a irmã tentando inalar desodorante. "Ele disse que deu bronca nela, mas deveria ter me contado antes de essa tragédia acontecer." A morte está sendo investigada pelo 8.º Distrito Policial de São Bernardo. O Instituto Médico-Legal ainda vai apresentar um laudo sobre o caso.

Riscos. Em busca rápida no YouTube, dezenas de vídeos, a maioria gravada por crianças, tratam do "desafio do aerossol". É possível até encontrar publicações com audiência alta, como uma de abril de 2016, com 63 mil visualizações. Nela, um adolescente incentiva a ação. Além do desafio de inalar desodorante, há também outras "brincadeiras", quase sempre feitas por crianças, com o produto. Em um deles, o desafio é aplicar o desodorante em uma área localizada da pele pelo máximo de tempo, causando queimaduras. Relatos de casos do tipo também já foram registrados em outros países, como a Inglaterra, o que motivou alerta de especialistas.

+ MPF apura vídeos que incentivam jovem a se mutilar

Nos últimos meses, um suposto jogo virtual chamado Baleia-Azul também mobilizou pais e autoridades. O desafio, com 50 níveis de dificuldade, tem o suicídio como resultado final. Em pelo menos oito Estados do País, houve suicídios e mutilações com suspeitas de ligação com a baleia-azul.

Para Rodrigo Nejm, diretor de prevenção e atendimento da SaferNet, ONG de direitos humanos na web, é fundamental não culpar a família. "Infelizmente, os pais ainda têm dificuldades em perceber a internet como uma praça pública com mais de 3 bilhões de pessoas. Uma criança de 7 anos certamente não tem maturidade para desfrutar da liberdade em uma praça pública como essa."



No Brasil, um em cada dez adolescentes de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir - e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic).
Conselho para os pais

1. Se você não é expert em internet, aproveite para aprender com os filhos. E você terá oportunidade para ensiná-los a tomar cuidado.

2. Coloque-se sempre à disposição para que peçam ajuda quando se sentirem ameaçados ou receberem conteúdo impróprio.

3. É preciso alertar os filhos para não divulgarem dados pessoais na internet, não aceitarem convites para se encontrarem com amigos virtuais nem receberem arquivos.

4. Espionar e gravar tudo o que os filhos fazem não são boas saídas, pois se fragiliza a confiança. Não se grava as conversas dos filhos, por exemplo, na quadra de futebol.

5. Programas de filtro de conteúdo podem ajudar, mas o diálogo aberto sobre como, quando e com quem usar a internet continua sendo responsabilidade dos pais. Pense que eles acessam páginas e usam aparelhos fora de casa.

6. Ensine que não podemos acreditar em todos. Como em todos lugares, há pessoas mal intencionadas e mentirosas. É bom também incentivar o desenvolvimento crítico, para que evitem pressão dos amigos.

7. É importante ainda explicar com que faixa etária a criança poderá acessar cada tipo de conteúdo. Muitos sites e redes sociais trazem orientações sobre a idade mínima para acesso.

8. Sempre que testemunhar algo que viole os direitos humanos ou ameace seus filhos, denuncie e procure as autoridades.

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