A história por trás da agência de espiões da Rússia, acusada de promover execuções com o aval do governo
A história por trás da agência de espiões da Rússia, acusada de promover execuções com o aval do governo
9 fevereiro 2018
Direito de imagemAFPImage captionO presidente russo Vladimir Putin encontra membros da FSB na Chechênia, em 2011
A agência de segurança secreta da Rússia, a FSB, ganhou notoriedade por suas operações de inteligência. Mas suas ambições reais são questionadas. O motivo é sua origem na polícia secreta soviética, a KGB, as alegações de execuções feitas com o aval do Estado e seus laços íntimos com o presidente russo Vladimir Putin - que comandou a agência antes de se tornar presidente.
Afinal, o que faz a FSB?
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A Federal Security Service (FSB) foi criada em 1995 com a missão de combater ameaças ao Estado russo. Hoje, coopera com forças de segurança internacionais na luta contra jihadistas e gangues de crime organizado.
Parte do trabalho da agência é prevenir levantes pró-Ocidente, como a Revolução Rosa, na Georgia, em 2003, e a Revolução Laranja, na Ucrânia, em 2004. Em 2015, a FSB se envolveu em um conflito de espionagem no melhor estilo da Guerra Fria com a Estônia, que acusou a Rússia de ter sequestrado um oficial de segurança, libertado em troca de um espião russo que havia sido detido.
A sede da FSB é a Lubyanka, no centro de Moscou. No mesmo edifício, a KGB interrogava prisioneiros durante a era soviética.Direito de imagemREUTERSImage captionVeículos da FSB perto de um supermercado, após uma explosão em São Petersburgo, em dezembro
Inimigos na mira
Em 2002, o assassinato do comandante jihadista árabe na Chechênia, conhecido como Khattab, foi atribuído à FSB. Seus colegas chechenos disseram que ele recebeu uma carta com veneno. A FSB se envolveu na luta contra rebeldes separatistas da Chechênia em dois momentos, nos anos 1990 e no começo dos anos 2000.
Mas foi o assassinato de Alexander Litvinenko que colocou a FSB sob os holofotes. O ex-oficial da FSB, crítico de Putin, foi envenenado com material radioativo, em 2006, em Londres, onde estava asilado. Ele foi considerado um traidor pela Rússia. Algumas semanas antes, os russos haviam aprovado uma lei autorizando a FSB a agir contra "extremistas" e "terroristas" no exterior.
Uma investigação do governo britânico concluiu que os assassinos de Litvinenko provavelmente tinham a aprovação do presidente russo e do então chefe da FSB, Nikolai Patrushev. A Rússia negou as acusações e fez do principal suspeito, o parlamentar Andrei Lugovoi, um herói nacional.Direito de imagemREUTERSImage captionLitvinenko (à direita) acusou colegas da FSB de corrupção em 1998
Litvinenko havia acusado a FSB de usar seu esquadrão de assassinos de elite, chamado URPO, para eliminar inimigos. Um de seus alvos, disse ele, era o poderoso oligarca Boris Berezovsky, que morreu no Reino Unido, em 2013, em um aparente suicídio.
Além de Litvinenko, alguns adversários notórios de Putin morreram misteriosamente. Jornalistas, inclusive. Isso fomentou especulações sobre as "execuções" da FSB. Muitas vezes, no entanto, as vítimas tinham outros inimigos, que também poderiam ter sido seus algozes.
Espionagem
A FSB é parte integrante da doutrina russa de guerra de informação, que inclui a mudança da opinião pública internacional, via redes sociais.
Autoridades americanas acreditam que a Rússia esteja ligada a atos hackers e de desinformação direcionados a impactar as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2016, que elegeu Donald Trump. Em março de 2017, as autoridades americanas acusaram dois membros da FSB - Dmitry Dokuchaev and Igor Sushchin - de hackear contas do Yahoo e roubar dados de milhões de usuários.
A FSB tem ferramentas legais poderosas para monitorar a internet. A tecnologia Sorm permite bisbilhotar e-mails e telefonemas. Os dados devem ser mantidos por 12 horas, por lei, para possível investigação. Redes de internet privadas (VPN) e outras ferramentas de anonimato na rede são restritas.Direito de imagemAFPImage captionA Lubyanka - edifício que foi sede da KGB durante o terror soviético - abriga hoje a FSB
Soldatov afirma que os provedores de tecnologia da Rússia precisam dar acesso direto aos dados para a FSB. O escopo real da vigilância da FSB não está claro.
Os jornalistas dizem que, assim como durante a KGB comunista, o medo de ser espionado pela FSB é uma ferramenta poderosa de controle.
Quão próxima a FSB é de Putin?
O chefe da FSB, Alexander Bortnikov, responde diretamente para Putin.
No livro "A Nova Nobreza", sobre a FSB, Andrei Soldatov e Irina Borogan dizem que Putin expandiu os poderes da FSB ao permitir o envio de agentes para missões especiais no exterior - inclusive para coleta de informações de inteligência.
Olga Kryshtanovskaya, socióloga russa de prestígio, afirma que "nós estamos testemunhando a restauração do poder da KGB", sob o domínio de Putin. Durante seu primeiro mandato, cerca de um terço dos membros do governo eram "homens de segurança", diz ela.
Hoje, a maioria da elite da FSB - incluindo o próprio Bortnikov - enfrenta sanções da União Europeia e dos Estados Unidos, devido à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Muitos deles adquiriram grandes fortunas e controlam recursos chave.Direito de imagemAFPImage captionColeção de carros antigos da FSB, incluindo um Rolls Royce Silver Ghost de 1922
Na década de 1990, Putin supervisionou o comércio exterior russo. Alguns dos seus sócios daquela época foram posteriormente ligados ao crime organizado. Essas conexões foram documentadas pela pesquisadora americana Karen Dawisha no seu livro "Cleptocracia de Putin".
Já em uma grande investigação da polícia espanhola sobre a máfia russa, o promotor espanhol Jose Grinda afirmou que as forças de segurança da Rússia "controlam o crime organizado na Rússia" e que "o FSB está absorvendo a máfia russa".
Reportagem de Laurence Peter, da BBC.
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