Zelador do triplex do Guarujá pede Lula na cadeia
Estadão Conteúdo23.01.18 - 10h21 - Atualizado em 23.01.18 - 12h22
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem no zelador José Afonso Pinheiro um eleitor arrependido. Mais do que isso, Afonso torce para que o petista seja condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Na quarta-feira, 24, a Corte de apelação da Lava Jato vai julgar recurso de Lula contra a sentença de 9 anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro imposta pelo juiz federal Sérgio Moro no processo do triplex do Guarujá (SP).
Em abril de 2016, Afonso foi demitido do Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo, o prédio onde fica o polêmico triplex.
Meses antes, ele havia prestado depoimento ao Ministério Público de São Paulo e declarou ter visto Lula visitar o apartamento do andar mais alto do Solaris. Lá em cima, fica o triplex 164-A que a empreiteira OAS teria supostamente reformado para presentar o ex-presidente.
O Ministério Público Federal acusou Lula pelo suposto recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio do triplex, pelo armazenamento de bens do acervo presidencial, de 2011 a 2016. Moro absolveu Lula desta segunda acusação.
José Afonso Pinheiro foi testemunha de acusação durante a instrução deste processo perante o juiz Sérgio Moro. “Eu espero que a Justiça seja feita. Como ele já foi condenado na primeira, eu espero que ele seja condenado na 2.ª instância também”, afirmou o zelador em entrevista. “Como a Justiça é para todos, para todos os homens, para todas as pessoas, igual para todos, espero que ele pague por aquilo que foi feito”, completou.
O zelador, que votou em Lula em 2002, quando o petista se elegeu pela primeira vez presidente, diz que não vai mais digitar o número dele na urna. “Ele teve as oportunidades dele e deu no que deu”, afirmou. Leia, abaixo, a íntegra da entrevista de Pinheiro:
No dia 24, o ex-presidente Lula vai ser julgado em segunda instância. Qual a sua expectativa?
Eu espero que a Justiça seja feita. Como ele já condenado na primeira, eu espero que ele seja condenado na 2.ª instância também. Essa é a minha expectativa. Como a Justiça é para todos, para todos os homens, para todas as pessoas, igual para todos, espero que ele pague por aquilo que foi feito.
O sr. quer ver o Lula na cadeia?
Claro. Se ele cometeu o erro, nada mais justo. Se a Justiça é igual para todos, tem que pagar pelos erros que foram cometidos. Só pelo fato de tudo o que aconteceu comigo, toda a situação que aconteceu comigo, na verdade, foi uma injustiça, uma situação que eu não tinha culpa de nada, eu só falei a verdade, e ele já foi condenado na 1.ª instância, eu quero mais é que ele pague. Quero mais que ele seja condenado.
Quando o sr. foi demitido do triplex?
Foi logo depois do depoimento.
O que alegaram para o sr.?
Não alegaram nada, mas já estava tendo muito comentário que logo depois do depoimento, entre os condôminos mesmo lá, que eu ia ser demitido por força do meu depoimento. Como o engenheiro da OAS, na época, já tinha me pedido para não falar que ele ia no apartamento, que o apartamento pertencia a ele, depois desse depoimento eu tive um atrito com eles lá, por causa que eu falei no depoimento que ele (Lula) ia lá e que o apartamento era dele, o pessoal estava falando que eu ia ser demitido.
A OAS pediu que o sr. não dissesse que Lula esteve lá?
Isso, o engenheiro da OAS. Eu falei isso no meu depoimento ao Moro. Eles não queriam que falasse que ele ia lá, que o apartamento pertencia a ele. Vi (Lula) chegando, vi na unidade, eu estava lá durante a visita dele. Apresentei as áreas comuns para a Dona Marisa, ela gostou muito das áreas, piscina, salão de festa. Isso aí acabou gerando a minha demissão. Foi um ato de uma tremenda covardia com um trabalhador, por eu ter falado a verdade. Eu fiz o que todo cidadão deveria fazer, falar a verdade.
A ida do ex-presidente Lula ao Solaris provocou comentários na época?
Sempre gera, né? Quando ele chegou, foi parado o elevador. Teve que parar os elevadores durante a permanência dele lá. Tinha muito morador que cobrava que parava o elevador no andar dele pelo tempo que ele permanecia no condomínio.
Por quanto tempo trabalhou no Solaris?
Trabalhei três anos e pouco, desde que quando foi entregue o condomínio até o depoimento para o Ministério Público.
O sr, já está empregado de novo?
Fiquei um tempo desempregado e até por causa da repercussão foi meio complicado de arrumar trabalho num primeiro momento. Agora estou trabalhando e morando em Santos, estou tocando a vida. Claro que eu tive um prejuízo muito grande financeiro e da família, daquela repercussão toda. Para mim e para a minha família, foi tremendamente prejudicial. Eu espero que toda a injustiça e a humilhação que eu passei, tudo foi comprovado e ele foi condenado, espero que eu seja devidamente reparado.
O sr. foi candidato a vereador. Por que escolheu o nome ‘Afonso do triplex’?
Como eu estava sendo candidato aqui em Santos, associamos ao fato que tinha acontecido comigo. A minha campanha naquela época lá foi sem recursos. Eu trabalhei só com apoio de amigos e colegas. Foi uma campanha limpa, gastei muita sola de sapato na época. Eu andei para caramba, fui em muito condomínio aqui em Santos. Foi no boca a boca, o que eu acho que todo mundo tinha fazer. Todo mundo tem quer ir na rua botar a cara.
Este ano tem eleição, o sr. vai se candidatar novamente?
Esse ano, não. Talvez eu saia para vereador de novo.
O sr. votaria no Lula? Por que?
Jamais, jamais, jamais, jamais votaria nele. Ele teve as oportunidades dele e deu no que deu. Acho que eu e a grande maioria da população está a favor de mudanças no nosso País, quer pessoas honestas, como o trabalho que o Sérgio Moro. O trabalho que ele está fazendo é uma coisa fantástica, que nunca teve. O Brasil precisa de mudanças, de pessoas honestas e sérias.
O sr. acha que o juiz Moro deveria se candidatar a presidente do Brasil?
Não cabe a mim responder, mas eu acredito que sim. Eu acho que não só ele, mas pessoas como ele. Toda pessoa de bom caráter deveria se candidatar, pessoas do bem, sem maldade, sem entrar na política pensando em ver seu lado, em roubar. Tem que ir lá ver coisas em prol da comunidade, em prol da sociedade. Na época que eu me candidatei, eu queria trabalhar em prol da sociedade, fazer coisas que as pessoas precisam. O Brasil precisa de mudanças.
Falta gente honesta na política?
Exatamente, gente verdadeira. As pessoas quando estão em campanha, vendem uma imagem para você. Depois não é nada daquilo, cara, quando assume. Você vota na pessoa, ela se elege e não é nada daquilo que a pessoa falou em campanha.
O sr. já votou no ex-presidente Lula?
Cheguei a votar, sim, na primeira eleição. Eu acreditava no que ele falava. As pessoas vendem uma coisa e depois são outras.
Votaria no juiz Moro?
Com certeza, com certeza. O País precisa de mudança, de transparência, de pessoas de bem.
Qual País nós precisamos?
Um País mais justo, com dignidade, com pessoas que pensem no próximo, um País verdadeiro. Acho que é isso que a gente precisa.
O sr. voltou ao condomínio do triplex? Por quê?
Cheguei a voltar uma vez. Foi tudo bem, normal. Estive em um dia da semana. As pessoas sabem que eu fiz foi o certo. Aconteceu tudo o que aconteceu mas não por eu ter sido uma pessoa desonesta com alguém. Eu fui o honesto, eu fiz o certo.
No dia da sua audiência, por videoconferência, houve um bate boca entre o sr. e advogados do ex-presidente. O sr. mantém o que disse na época ao juiz Moro?
Mantenho, sim. Eu falei o certo. Tanto naquele momento eu chamei (a defesa de Lula) de “um bando de lixo”, foi um momento de indignação com tudo o que estava acontecendo comigo. Hoje está sendo tudo comprovado, os caras estão sendo condenados. Eu mantenho tudo que eu falei.
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