Roberto Jefferson: o barítono do mensalão de volta ao palco-CRIMINOSOS NO BRASIL SÃO AUTORIDADES ARREPENDIDAS

Roberto Jefferson: o barítono do mensalão de volta ao palco

O ex-deputado Roberto Jefferson retoma o protagonismo político ao emplacar a filha no Ministério do Trabalho

SÉRGIO GARCIA
05/01/2018 - 17h50 - Atualizado 05/01/2018 18h36
O ex-deputado Roberto Jefferson (Foto: Jorge William /Agência O Globo)
Na tarde da quarta-feira, 3 de janeiro, a deputada federal Cristiane Brasil estava no aeroporto de Fernando de Noronha. Ela embarcava de volta para o Rio de Janeiro após as festas de fim de ano, quando seu celular tocou. Do outro lado da linha era seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson. Sem meneios, ele perguntou se ela gostaria de se tornar ministra do Trabalho, cargo que estava vago desde a saída, uma semana antes, do deputado federal Ronaldo Nogueira, do PTB do Rio Grande do Sul. Depois de ouvir o sim da filha, Jefferson tomou a iniciativa de telefonar para o deputado Jovair Arantes, de Goiás, líder da bancada do PTB na Câmara, que curtia a tarde na praia de Porto de Galinhas, no litoral pernambucano. Queria a anuência de Jovair para a escolha de Cristiane, que, num galope final, desbancou políticos tidos como favoritos ao cargo. Segundo Jefferson, o nome dela foi uma sugestão feita pelo próprio presidente, Michel Temer, durante uma reunião no Palácio do Jaburu que contou também com a presença do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Nesse rito sumário, Cristiane, que foi citada por dois delatores da Lava Jato em negociações para a compra de apoio político e recebimento de caixa dois em campanha, virou a nova titular da Pasta do Trabalho. “Na minha frente, o Temer mandou fazer o ato [de nomeação], que no dia seguinte já estava publicado”, relata Jefferson, pai orgulhoso. Apesar de negar qualquer gestão pessoal para que Cristiane fosse a escolhida, Jefferson antes já havia pleiteado a nomeação da filha para o Ministério da Cultura. A preferência de Temer acabou recaindo, porém, no jornalista Sérgio Sá Leitão. Ao anunciar a nomeação de “Cris”, a mais velha de seus três filhos, Jefferson chorou diante das câmeras, bem a seu estilo performático, uma herança dos tempos de apresentador de TV na década de 1980. Com as ênfases tonais, as pausas dramáticas e o domínio gestual que lhe são característicos, disse que aquilo era um “resgate”, por tudo que havia sofrido desde que se tornara pivô do escândalo do mensalão.
Foi um desfecho rápido para um episódio que ameaçava se tornar uma novela. Na véspera, o governo recuara da indicação do deputado federal Pedro Fernandes, do PTB do Maranhão, para o Ministério do Trabalho, Pasta que, no governo Temer, virou um feudo petebista. O motivo da desistência tem a ver com o intrincado xadrez político no Maranhão. Outrora aliado da família Sarney, Fernandes se bandeou para o lado do governador Flávio Dino, do PCdoB. O recuo de Temer foi atribuído a um veto de José Sarney, que não gostaria de ver em posição de destaque um adversário de palanque. O ex-presidente, no entanto, nega qualquer ingerência na decisão. O fato é que a ligação de Fernandes com Dino fertilizou o terreno para Jefferson assumir o protagonismo naquilo que é sua especialidade: manejar o partido para usá-lo como moeda de troca em barganhas políticas com o governo de plantão. Com breves intervalos, Jefferson, no exercício formal da presidência do partido ou por meio de prepostos, como a filha, comanda o PTB desde 2003. Com ou sem mandato de parlamentar, dentro ou fora da prisão, Jefferson se tornou  a autoridade suprema da sigla, uma das mais fiéis aliadas do governo Temer. A bancada do PTB foi a primeira a fechar questão a favor da reforma da Previdência, prevista para ir a plenário em fevereiro.
Cristiane Brasil mnistra do trabalho (Foto:  LUCIO BERNARDO JR/Agência Câmara)
Por trás das resoluções partidárias, há sempre as digitais de Jefferson, adepto de longa data das alianças com o governo, independentemente de quem está no poder. Na vida política, começou a ganhar fama ao integrar a tropa de choque contrária ao impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992. Em seguida, esteve na base de sustentação parlamentar dos presidentes Fernando Henrique e Lula. Vem deste último período o epíteto que passou a acompanhá-lo: delator do mensalão – uma expressão que ele abomina. Àquela ocasião, denunciou o esquema que comprava o apoio de deputados no Congresso e culpou o então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Depois de outros escândalos, ele reviu sua posição e deixou de isentar o ex-presidente Lula. “A imprensa e a Justiça desvendaram um Lula que eu não conhecia. Hoje tenho uma visão que não tinha naquela época”, diz ele.
Ao longo da trajetória política, Jefferson se alternou no papel de pedra e vidraça. Nos anos 1990, seu nome foi citado na CPI do Orçamento, que investigou um esquema de propinas a parlamentares. Em 2005, no exercício do sexto mandato de deputado federal, foi cassado por seus pares pelo mensalão. Em 2012, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal  a sete anos e 14 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Cumpriu 14 meses da pena em um presídio de Niterói, na região metropolitana do Rio, até ser beneficiado por uma decisão do STF, de 2015, que o colocou em regime aberto. Em 2016, uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso o favoreceu com um indulto, que extinguiu a punição. “Sabia que ia passar por isso quando fiz as denúncias. Nunca me rebelei, nunca me revoltei”, diz ele. “O forte disso é que não permiti que o Brasil se transformasse numa Venezuela.”
Depois da derrocada política do PT, Jefferson, nas redes sociais, radicalizou nas críticas à esquerda e na defesa de ideias liberais na economia, em que evoca a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. “Temos de privatizar as estatais. Elas são moedas de troca de sindicatos e de partidos políticos. Há uma relação de cumplicidade entre eles para saquear as empresas públicas”, diz Jefferson. Não se pode acusá-lo de desconhecimento de causa. O estopim do mensalão foi a divulgação de uma gravação em que um diretor dos Correios indicado pelo PTB cobrava propinas.
Jefferson se especializou em manejar o PTB como moeda de troca em barganhas com o governo de plantão
Com seus direitos políticos recuperados, Jefferson planeja concorrer neste ano a deputado federal por São Paulo, a fim de retornar ao Congresso 14 anos depois de sua cassação. A escolha do domicílio eleitoral deve-se a uma estratégia que busca fortalecer o partido no país. “O PTB só será grande se for grande em São Paulo”, afirma. Nas eleições deste ano, que ocorrerão sem financiamento empresarial legal, o cacife político de Jefferson, como presidente do PTB, aumentou. Muitos candidatos terão o fundo partidário como a principal fonte de recursos para campanha – e isso significará para Jefferson ainda mais ascendência sobre seus correligionários. Para a eleição presidencial, ele diz que a tendência do PTB é apoiar a provável candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB.
Quando não está em agenda política, o ex-deputado, de 64 anos, costuma passar o fim de semana em sua casa em Comendador Levy Gasparian, município no interior fluminense. Gosta de pegar a moto Harley-Davidson Fat Boy e encarar a estrada em longos trajetos, que podem ter como destino cidades de Minas ou São Paulo. Outro hobby, as aulas de canto foram interrompidas no ano passado, devido à morte de seu professor, o barítono Leonardo Páscoa. Para manter a forma, duas vezes por semana faz exercícios de respiração e vocalização no escritório de casa, onde mantém um piano elétrico e uma estante abarrotada de partituras. “Já cantei muito bel canto, mas agora tenho preferido música romântica, de seresta, Nelson Gonçalves, Frank Sinatra, Nat King Cole.” As preferências musicais de Jefferson, barítono nas horas vagas, mudaram desde o mensalão, mas a política brasileira quase nada.

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