Instintos selvagens Palma de Ouro em Cannes, The Square explora a vida dentro e fora do cubo branco


Instintos selvagens
Palma de Ouro em Cannes, The Square explora a vida dentro e fora do cubo branco



Paula Alzugaray


N° EDIÇÃO: 37

PUBLICADO EM: 09/01/2018

CATEGORIA: A REVISTA, CRÍTICA, DESTAQUE

TAGS: ARTE CONTEMPORÂNEA, CANNES, CINEMA, CLAES BANG, CRÍTICA, CRITICA DE CINEMA, CUBO BRANCO, PALMA DE OURO, RUBEN ÖSTLUND, THE SQUARE


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Cena do filme The Square, de Ruben Östlund (Fotos: Divulgação)



O humor é uma ausência lamentável na arte contemporânea. Quando o artista se utiliza desse recurso com habilidade e a devida complexidade, o trabalho pode atingir nuances libertadoras. Este é o caso de Manifesto (2015), de Julian Rosenfeldt. Mas, quando o humor é usado com sarcasmo para falar do caráter hermético da arte contemporânea, é fácil cair em clichês – o que acontece, por exemplo, em A Grande Beleza (2013), na cena que retrata o teatro do absurdo em que se transforma um ato performático. The Square, filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2017, poderia cair na vala comum das piadas que usam a ignorância como combustível. Mas, ao contrário do que afirmam resenhas publicadas em jornais brasileiros, que atribuem ao roteiro do diretor sueco Ruben Östlund uma crítica ao pedantismo e/ou charlatanismo da arte, o filme dá uma inspiradora e despretensiosa lição sobre a linguagem cifrada da arte contemporânea.

A história gira em torno do curador-chefe – também nomeado diretor artístico – de um grande museu. E a aula que Christian, vivido pelo ator Claes Bang, dá ao espectador versa sobre as correlações entre a arte contemporânea e a vida prosaica; e entre a ficção e a realidade. O protagonista de The Square – dir-se-ia, também, do mundinho da arte – é um porta-voz não só da instituição, mas das intenções do artista. Ele é o responsável por fazer a interface entre as proposições criativas mais abstratas, ousadas e transgressoras do artista e o mais profundo desconhecimento de causa que o grande público tem do que se passa dentro do “cubo branco”. As fricções e tensões entre esses dois mundos são tratadas pelo diretor com inteligência e malícia.


Cena do filme The Square, de Ruben Östlund



A relação entre o título The Square e o cubo branco, termo que define o ambiente – neutro e protegido – em que a arte acontece desde o modernismo, não é mera coincidência. Intencionalmente, ou não, a “bolha” em que a arte contemporânea se resguarda de comuns e iletrados mortais ganha como metáfora a obra The Square, supostamente de autoria de Lola Arias – que não é uma ficção, mas uma artista e escritora que vive e trabalha na Argentina. Segundo o curador protagonista anuncia no início do filme, a obra instalada na calçada, do lado de fora do museu, convida os transeuntes ao altruísmo e à tolerância em situações de risco. Mas essa proposição é logo colocada de lado – e a bolha do mundo da arte é estourada – quando o curador tem seu aparelho celular roubado nas ruas de Estocolmo. Moral da história: dentro do quadrado da arte, onde artistas e instituições não podem ter medo de pressionar limites, tudo pode acontecer. Até o despertar dos instintos mais selvagens.

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