Assange perderá proteção do Equador, alerta Correa
Assange perderá proteção do Equador, alerta Correa
Ex-presidente do Equador Rafael Correa durante entrevista exclusiva à AFP, em Quito, capital do país, em 19 de janeiro de 2018 - AFP
AFP19.01.18 - 20h34
A proteção que o Equador oferece ao australiano Julian Assange está com os dias contados, advertiu o ex-presidente Rafael Correa, que concedeu asilo diplomático ao fundador do Wikileaks em 2012.
Os últimos oito meses parecem ter desgastado mais Correa do que os dez anos em que esteve no poder.
Transformado em principal opositor de seu ex-aliado Lenín Moreno, ele retornou há duas semanas de seu retiro na Bélgica para liderar o ‘Não’ na consulta popular de 4 de fevereiro, com a qual o presidente busca torná-lo inelegível e limar o correísmo do poder político.
Este economista de 54 anos, que em uma década de governo saiu vitorioso das urnas 14 vezes, reconhece que “vai com tudo” para o novo embate: após se desvincular do partido no poder, Aliança País, ele enfrenta ex-aliados, além de seus adversários tradicionais. E as pesquisas não lhe são favoráveis.
Correa recebeu a AFP em uma cobertura no norte de Quito após mais um dia agitado de campanha. Visivelmente cansado, ataca o “traidor” Moreno e sua “inconstitucional” consulta popular, e adverte que uma vitória do ‘sim’ significaria um “adeus à democracia”.
Moreno convocou a consulta para suprimir a reeleição ilimitada, adotada durante a gestão de Correa.
– Entre seu legado está o asilo a Julian Assange na embaixada de Londres. Como vê seu futuro?
Temo muito pela segurança de Julian Assange. Acho que é uma questão de tempo que este governo que traiu todos os ideais retire seu apoio. Bastaria uma pressão dos Estados Unidos para fazer isso, e certamente isso já está acontecendo, e talvez esperem o resultado de 4 de fevereiro para tomar a decisão.
– Mas você tem alguma evidência disso?
É claro que Lenín Moreno não é um homem de convicções, é claro que ele está entregue aos poderes de sempre. As intervenções do embaixador dos Estados Unidos, descaradas, metendo-se na política interna… não víamos isso há dez anos. Tudo leva a pensar que estão cedendo diante de tudo e que logo cederão em relação a Julian Assange.
*O ciberativista suspeita que os Estados Unidos pretende fazê-lo pagar pela divulgação de milhares de documentos secretos (ndlr).
– Fazer campanha é endossar a consulta?
Não. Sempre argumentamos que é inconstitucional, que não tem aval da corte constitucional e, além disso, que duas das sete perguntas são inconstitucionais (…). É um adeus à democracia.
Se eu tivesse feito um terço do que fez Moreno nestes meses, os capacetes azuis já estariam no Equador. Se a Venezuela tivesse feito isso, já teria sido invadida.
-Nessa consulta você é contrário a tudo…
É necessário informar. Nosso maior inimigo é o tempo.
– Sua presença gera ressentimento em alguns setores.
Quando você quer mudar as coisas, claro que vai gerar ressentimento. Não se pode libertar os escravos sem ressentir os escravistas.
– Você tem a sensação de estar começando do zero, como em 2006 (quando chegou ao poder)?
Sim, mas quando não me conheciam em 2006 não havia inimigos. Agora começamos com muito mais conhecimento, mas com uma resistência de certos grupos que estão dispostos até a te dar um tiro para evitar que volte à arena política.
– Você teme por sua integridade?
Claro. Todos os dias (recebo) ameaças de morte nas redes sociais e o governo não diz nada.
– O que acontecerá com Correa se ele perder?
Com a pergunta 2 (acabar com a reeleição ilimitada) me desabilitam para reeleger-me como presidente, que é o que menos me interessa. Se a pergunta 3 (nomear novas autoridades de controle) ganha, colocarão um procurador à sua medida, abertamente inimigo, somente para me perseguir e perseguir meus companheiros.
É a nova estratégia da direita para destruir os dirigentes progressistas, como fizeram com Dilma, Lula e Cristina.
– Você continuará na política, com outro movimento?
Meu plano era morar por vários anos fora de minha pátria e me retirar da política. No entanto, darei o apoio que eu puder para que meus companheiros formem um novo movimento político. Eles (os morenistas) podem ficar com as paredes, com os slogans, com o orçamento, com os escritórios, mas nós temos o povo, as convicções.
– Mas você liderará esse partido?
A princípio, não. Há muitos quadros que o podem liderar.
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