A super fazenda Com muito investimento, inovação e aposta na produtividade, três empresários consagrados no mundo dos negócios, transformaram um latifúndio improdutivo, em Goiás, num mega empreendimento lucrativo






A super fazenda
Com muito investimento, inovação e aposta na produtividade, três empresários consagrados no mundo dos negócios, transformaram um latifúndio improdutivo, em Goiás, num mega empreendimento lucrativo


"A fazenda tem um enorme potencial para superar desafios de toda ordem e produzir gado de qualidade, com sustentabilidade" Igor Alves de Melo,um dos sócios e diretor da fazenda Foto: Claudio Gatti


Vera Ondei e Claudio Gatti (fotos), de São Miguel do Araguaia (GO)02.07.15 - 10h28 - Atualizado em 12.12.16 - 07h42




A fazenda Nova Piratininga é um mundaréu de terras concentradas no noroeste de Goiás, no município de São Miguel do Araguaia, onde o Estado faz divisa com o Tocantins e com o Mato Grosso. São 135 mil hectares, área equivalente a ocupadas por metrópoles como o Rio de Janeiro ou Nova York, registrados em uma única matrícula, no cartório de imóveis local, coisa rara no País. Em geral, grandes fazendas são o resultado da compra e concentração de várias propriedades. No mês passado, a DINHEIRO RURAL esteve durante dois dias na Nova Piratininga, localizada às margens dos rios Araguaia, Javés e Verde, a 480 quilômetros da capital Goiânia. Foi a primeira vez que uma equipe de reportagem entrou na propriedade, depois que trocou de dono, em dezembro de 2010.

Até então, a propriedade pertencia ao empresário Wagner Canhedo, que entrou para os anais do mundo dos negócios por ter levado à falência a Vasp, uma das principais companhias da aviação comercial brasileira. Seu lugar foi ocupado por três empresários goianos, detentores de partes iguais no negócio. Um deles, João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como Júnior, é o controlador do grupo Hypermarcas, colosso que no ano passado faturou R$ 4,6 bilhões com linhas de produtos farmacêuticos, de higiene pessoal e de beleza. O outro sócio é Marcelo Limírio Gonçalves Filho, ex-dono do laboratório de medicamentos genéricos Neo Química, absorvido pelo Hypermarcas, em 2009. Fecha o grupo a família de Igor Nogueira Alves de Melo, membro do Conselho de Administração da farmacêutica Teuto, fundada por seu pai Walterci de Melo e hoje controlado pela americana Pfizer. Alves de Melo foi escolhido pelos parceiros para dirigir a fazenda Nova Piratininga, na qual está envolvido praticamente em tempo integral. “Pegamos uma fazenda falida e hoje não há um único metro quadrado que não seja produtivo”, diz Alves de Melo. A fazenda está registrada como grupo MJW, letras iniciais dos nomes de seus compradores (no caso, o W refere-se ao pai de Alves de Melo, Walterci, falecido no ano passado.)


Fêmeas diferenciadas: a base de 43 mil matrizes vem sendo melhorada com o uso intenso de biotecnologias

Remodelada, a Nova Piratininga pode ser colocada no rol das propriedades que servem de modelo para uma pecuária que produz gado bovino de alta qualidade e em larga escala. Da área total, 95 mil hectares são compostos de pastos, que alimentam um rebanho de 105 mil nelores puros ou cruzados com angus, que vem sendo submetido a um processo acelerado de seleção e melhoramento genético para dobrar de tamanho nos próximos cinco anos. O trabalho, mesmo feito a porteiras fechadas, tem chamado a atenção do mercado, principalmente de fundos de investimentos interessados em comprar a fazenda. “Já recebemos várias ofertas, mas nossa resposta é sempre não, porque, como empresários não temos perfil especulador”, diz Alves de Melo. “A Nova Piratininga, definitivamente, não está à venda. Segundo ele, o horizonte da trinca de controladores é de longo prazo, com a pretensão de produzir o melhor gado do País, com sustentabilidade. “A fazenda tem um enorme potencial para superar desafios de toda ordem.” Os sócios, que se reúnem a cada dois meses para discutir os rumos do empreendimento, acreditam que vão rentabilizar o negócio nos próximos anos, assim como fazem com seus investimentos urbanos. No ano passado, a Nova Piratininga já pagava suas próprias contas, ao fechar o exercício com uma receita de R$ 43 milhões obtida com a venda de gado. Mas o negócio vai além desse valor. Ao arrematar a propriedade, o grupo sabia que estava realizando uma grande tacada, em função da valorização da terra, principalmente a partir do momento em que ela começasse a se mostrar eficiente. A fazenda foi comprada por R$ 310 milhões, em parcelas – a última delas, no valor de R$ 50 milhões, será quitada nos próximos meses. Hoje, essa quantia pode ser considerada uma verdadeira pechincha: cinco anos depois da aquisição, o valor de mercado da fazenda decuplicou e é estimado em nada menos de R$ 3 bilhões. Não à toa, na época da compra, o trio de empresários goianos teve de disputar a fazenda de Canhedo com a família Batista, da JBS, e com o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.



Paulo leonel: criador diz que a parceria com a Nova Piratininga tem chamado a atenção de pecuaristas de todo o País

Ao tomarem posse da propriedade, os sócios estabeleceram um plano de governança com várias frentes de trabalho e algumas prioridades: era preciso olhar para o gado, para a terra, para a imensa infraestrutura e para os funcionários. “Quando entrei na fazenda pela primeira vez deu medo, mas, ao mesmo tempo, também senti uma imensa vontade de trabalhar nela”, diz Alves de Melo. “Estava tudo muito fora do que eu entendo por pecuária.” É preciso considerar que o diretor da Nova Piratininga, aos 35 anos de idade, não é exatamente um vaqueiro de primeira viagem. Ele começou a trabalhar aos 13 anos, dividindo o tempo entre a Teuto e uma fazenda que a família possuía antes de entrar no projeto Nova Piratininga. Alves de Melo, formado em administração de empresas, com especializações na universidade da Flórida, nos Estados Unidos, vem usando todo o seu conhecimento e ainda buscando ajuda para não errar.


Adir Leonel: com 50 anos de experiência como criador de nelore, suas orientações vêm mudando o padrão do gado da fazenda


TERRA ARRASADA A gestão do rebanho foi a primeira e mais urgente tarefa a ser realizada. “Nós não sabíamos nem quantos animais havia nos pastos”, afirma Alves de Melo. A contagem do gado mostrou um cenário de terra arrasada. O rebanho encontrado era de cerca de 90 mil animais, dos quais 60 mil eram fêmeas em idade reprodutiva. No entanto, apenas 18 mil haviam parido e 16 mil bezerros foram desmamados, em 2012. Isso significa que, naquele momento, a taxa de natalidade era de 30% e a de desmame, de 26,5%, quando o índice considerado aceitável em uma fazenda de bom nível técnico é de pelo menos 70%. No Brasil, a taxa média de desmame é de cerca de 55%, praticamente o dobro da que era obtida pela fazenda. Na pecuária, essas duas mensurações são reconhecidas como os principais indicadores da eficiência reprodutiva em bovinos de corte. E a verdade, é que eles não estavam nada bons. “O manejo era muito ruim”, diz Melo. “Havia gado na fazenda que nunca tinha sido levado para o curral, que nunca tinha sido visto por um peão.” Em outras palavras, para o antigo dono, gado rústico era sinônimo de sobrevivente.


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Além da contagem dos animais e da separação de lotes por categorias, entre elas as de vacas, novilhas e garrotes, a Nova Piratininga fez uma parceria com os criadores Adir do Carmo Leonel, e seu filho Paulo, que administra a fazenda Barreiro Grande, em Nova Crixás, município vizinho a São Miguel do Araguaia. Leonel, que há 50 anos cria nelore, apartou as melhores fêmeas do rebanho para um projeto de uso de sêmen de touros de sua criação. Iniciado em 2012, o projeto tem como meta 100 mil nascimentos por ano, através da técnica de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). “Hoje somos alvo de muita curiosidade de pecuaristas de todo o País”, diz Paulo Leonel. Só para ter uma ideia, entre cinco mil e dez mil animais nascidos por intermédios dessa biotecnologia já são considerados projetos de porte.

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