Viúva lamenta morte do marido em massacre de Colniza (MT)
Viúva lamenta morte do marido em massacre de Colniza (MT)
Nasci em Miranda, Mato Grosso do Sul, mas sempre vivi de mudança, buscando rumo. Tinha 18 anos quando conheci meu marido e logo nos juntamos. Ele tinha a mesma idade que eu e foi meu único companheiro a vida toda. Neste ano, íamos completar 38 anos de casados.
A falta que ele faz é muito grande. É difícil demais perder uma pessoa desse jeito. Ainda mais alguém que nunca foi de confusão, que só fazia na vida trabalhar e ajudar os outros.
Pode perguntar lá na vila do Taquaruçu por Valmir Rangel do Nascimento que todo mundo só vai falar coisas boas dele, tenho certeza.
Eu não estava no nosso lote no momento do acontecido. Tinha ido na vila do Guatá e, na volta, uma funcionária da balsa me contou da matança e foi aquele desespero.
Eu nem sabia que meu marido estava no meio, mas estranhei que ele não estava no outro lado do rio, me esperando. Nunca tinha me deixado voltar sozinha.
A gente chegou lá em 2011. Naquele tempo, a gente morava em Montenegro [a 250 km de Porto Velho, em Rondônia] e chegou por lá a conversa de que estavam cortando lotes para um assentamento para esses lados. Viemos tentar construir alguma coisa na vida, né?
No começo foi bem difícil, não tinha o que comer, onde ficar. Daí fomos mexendo aos pouquinhos, aqui e ali.
Quando tudo aconteceu, a gente já tinha muita coisa bonita por lá. Muita coisinha plantada, banana, criação de porco e galinha.
Hoje está tudo coberto de mato, mas ainda tem coisa boa. Se procurar, você acha.
Não ficou mais ninguém lá na linha 15. Quem não foi para a vila partiu para outros cantos. Eu mesma só voltei agora, para ver o que sobrou. Senti muita dor e remorso. Entrei em desespero. É muito triste a gente chegar lá e ver que tudo o que a gente construiu acabou ali mesmo.
A gente temia sim, pela nossa vida e pela vida dos outros que estavam lá. Medo dos "encapuzados", como se diz. Mas ninguém podia imaginar. Imagine você pegar uma pessoa que está trabalhando, arrastar por quilômetros e depois matar daquele jeito?
Rodrigo Vargas/Folhapress | ||
Iolanda Maria da Silva, viúva de posseiro morto em chacina |
Os pequenos sempre falam do pai. Na verdade, são filhos de uma sobrinha. Nós pegamos para criar. A mais velha é a Ketelin, que tem sete anos.
O caçula é o William, que tem cinco. Ele sempre pergunta: "Será que já pegaram o ladrão que fez aquilo com o pai?". Ele não entende e chama aquele povo de ladrão.
Eu sei que vai ser difícil, mas eles têm que se conformar. Para mim também vai ser difícil. Ainda dói muito. No Natal do ano passado, a gente tava junto lá no nosso lote, ele e eu.
Eu somente peço que as autoridades façam Justiça por nós, porque sozinhos não vamos vencer.
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