Vencedora do prêmio de ‘Educador do Ano’ sofre atentado a tiros Elisângela e seu marido foram surpreendidos por dois homens que dispararam de uma moto. O casal não se feriu


Vencedora do prêmio de ‘Educador do Ano’ sofre atentado a tiros
Elisângela e seu marido foram surpreendidos por dois homens que dispararam de uma moto. O casal não se feriu
Por Marina Rappa
access_time1 dez 2017, 18h55 - Publicado em 1 dez 2017, 17h25
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Elisângela Dell-Armelina Suruí, finalista do Prêmio Educador Nota 10 (Felipe Antonio Fotografia/VEJA.com)

A professora vencedora do prêmio de Educador do Ano, Elisângela Dell-Armelina Suruí, sofreu um ataque a tiros na noite de quarta para quinta-feira. De acordo com a educadora, ela e seu marido estavam em uma moto na rodovia que liga a cidade de Cacoal, em Rondônia, à reserva Terra Indígena Sete de Setembro, quando foram surpreendidos por outra moto com duas pessoas. Nenhum dos dois se feriu.

“A moto emparelhou com a nossa na rodovia e o passageiro tirou a arma. Quando ele começou a atirar, eu e meu marido caímos no chão. Tentamos nos esconder enquanto eles desciam da moto para ir atrás da gente. Eles só desistiram de nos matar porque meu cunhado estava em outra moto logo atrás e eles o avistaram”, afirma Elisângela. Os homens dispararam três tiros.
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Após o ataque, ela e o marido, Naraymi Suruí, pediram abrigo em uma casa perto da estrada e telefonaram para a polícia. Eles fizeram boletim de ocorrência na delegacia de Cacoal e, por segurança, ficaram hospedados na residência de uma conhecida na cidade. Na tarde de quinta, também registraram o caso na Polícia Federal de Ji-Paraná.


Elisâgela e Naraymi Suruí (Elisângela Dell-Armelina Suruí/Arquivo pessoal)
Caso antigo

A professora liga o atentado a ameaças feitas por madeireiros que estavam retirando ilegalmente árvores castanheiras da região demarcada como terra indígena. “É época de colheita de castanhas na aldeia. Fomos até a floresta e, ao chegarmos lá, encontramos um grupo cortando as árvores da região”, conta.

Segundo Elisângela, o cacique local, que é pai de Naraymi, pediu que os intrusos se retirassem, mas eles não deram ouvidos. “Quando voltamos, uma semana depois, tinham quatro caminhões carregados com as castanheiras. O cacique ficou muito nervoso, pegou uma vara e acertou em um dos integrantes. Com o facão, ele danificou um dos caminhões”, afirma. Quando os madeireiros estavam saindo da região, um deles afirmou que mataria o cacique e sua família.


Madeireiros em operação na terra indígena (Elisângela Dell-Armelina Suruí/Arquivo pessoal)

O advogado que está encarregado do caso, Celson Ricardo Carvalho de Oliveira, afirmou que o atentado não ocorreu apenas por causa da briga – mas por um caso mais antigo. De acordo com ele, muitos índios permitiam que garimpos e madeireiras ilegais entrassem em suas terras por não ter outra fonte de renda. A polícia acabava prendendo esses indígenas por acreditar que eles os levariam às companhias que estavam realizando a extração ilegal.

Como uma forma de barrar esse tipo de atividade e proteger os indígenas, foi criada a Coopaiter, uma cooperativa que legaliza a comercialização dos produtos extraídos nas aldeias, sendo vendidos pelos próprios índios. “A cooperativa pretende dar ferramentas aos indígenas para que eles produzam e lucrem com as terras. Isso fez com que a população Paiter começasse a fiscalizar muito mais a atividade ilegal desses intrusos – e foi assim que as ameaças por parte deles começaram”, conta.
Investigação

De acordo com o advogado, o motorista da moto e o passageiro foram identificados pelo marido de Elisângela como integrantes de uma família conhecida de Cacoal. Segundo informações, os suspeitos estão sendo investigados pela polícia. Carvalho de Oliveira acredita que, no decorrer das investigações, a PF deve descobrir o destino da madeira extraída na floresta.

A delegacia onde o boletim de ocorrência foi feito não quis se manifestar sobre o caso.

Prêmio Educador Nota 10

A professora Elisângela foi a grande vencedora do Prêmio Educador do Ano, promovido pela Fundação Victor Civita no final de outubro. O projeto que a fez ser selecionada como a melhor professora brasileira em 2017 foi um caderno de alfabetização na língua materna dos índios de sua aldeia: o paiter suruí. Para conhecer o trabalho de Elisângela na Escola Sertanista Francisco Meireles, clique aqui.

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