Um retrato da Coreia do Norte como ela é: uma peça de publicidade

CULTURA

Um retrato da Coreia do Norte como ela é: uma peça de publicidade

Max Pinckers subverte o jogo da ditadura e registra a Coreia do Norte como mero cenário de propaganda

RAFAEL RAMOS
14/12/2017 - 08h00 - Atualizado 14/12/2017 08h00
Uma vista da Coreia do Sul, a partir de um prédio na fronteira. Do lado do Norte, a realidade deve ser mantida em segredo (Foto: Max Pinckers)
Em seu clássico livro de ensaios Sobre a fotografia, a crítica de arte Susan Sontag afirma que “estritamente falando, nunca se compreende nada a partir de uma foto”. O tom provocativo conduz à noção de que a fotografia não mostra a realidade, mas uma interpretação dela por parte de quem produziu a imagem. A escolha do objeto, o momento, o enquadramento, o uso ou não de filtros e retoques digitais são todos recursos capazes de dar uma versão do que se chamaria realidade. A discussão nasceu junto com a fotografia e, desde então, entretém fotógrafos, artistas, críticos e público em geral – e não há a menor perspectiva de esgotar-se no futuro próximo. Com o avanço do mundo digital e das mídias sociais, essa noção ganhou contornos mais frouxos, e a tênue fronteira entre a verdade e a ficção ficou cada vez mais borrada.
A discussão se presta perfeitamente a fotos do cotidiano dos cidadãos (ou seriam prisioneiros?) da Coreia do Norte, país que vive fechado ao mundo sob o regime ditatorial de Kim Jong-un. O fotógrafo belga Max Pinckers esteve recentemente por lá, numa visita à capital, Pyongyang, praticamente a única parte que o governo permite ser vista por estrangeiros. Feita em meio a uma crise com ameaça nuclear, a viagem foi extremamente controlada. Assim como os profissionais antes dele, Pinckers esteve acompanhado de algum oficial do governo durante todo o tempo e só teve autorização para fotografar certos lugares por alguns minutos.
Mulher caminha na plataforma da estação de  metrô Yonggwang, em Pyongyang. O mural e o trem formam um conjunto retrô de anúncio da década de 1950 – em 2017 (Foto: Max Pinckers)
Desde seus primeiros trabalhos, Pinckers se dedicou a questionar o fato de a fotografia, especialmente o fotojornalismo, registrar pessoas e assuntos sempre com os mesmos enquadramentos e composições na busca de uma verdade documental. “As fotos são construções do fotógrafo. Ao final do dia, elas acabam representando uma ideologia”, diz. “Eu gosto de discutir o que é a verdade e trabalhar essas questões.” Na Coreia do Norte, Pinckers tomou como base a propaganda que o regime de Kim dissemina por meio de fotografias ou pinturas pelas ruas. Fora as composições e enquadramentos inusitados, a grande diferença de seu trabalho com o de colegas que lá estiveram antes reside na técnica de iluminação. O uso do flash resulta em imagens que se assemelham à fotografia publicitária a serviço da propaganda política feita em favor de Kim. “As fotos representam a Coreia do Norte, mas não a verdade”, afirma Pinckers. “Elas são uma representação do país, mas existe algo que falta. Acredito que isso comprova que a fotografia tem a habilidade de mostrar nossa incapacidade de apreender o real.” Na Coreia do Norte, o país de fachada por excelência, mostrar a realidade é mostrar o irreal.
Professora ensina quimica  (Foto: Serie Red Ink 2017/Max Pinckers)
Garotas uniformizadas passam perto do palácio do Sol (Foto: Serie Red Ink 2017/Max Pinckers)
Passageiros em ônibus  (Foto: Serie Red Ink 2017/Max Pinckers)
Um dos milhares de murais com o pai e o avô de Kim,os ditadotres anteriores.Apresentada  a estrangeiros,Pyongyang parece ser cuidadosamente preparada para indicar que tudo funciona  (Foto: Serie Red Ink 2017/Max Pinckers)
Crianças em aula de inglês numa escola para órfãos. A ordem e os uniformes impecáveis formam um cenário, no qual elas agem como atores do regime (Foto: Max Pinckers)

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