‘Inimigo do inimigo’: a atual relação entre Israel e árabes




‘Inimigo do inimigo’: a atual relação entre Israel e árabes
Terrorismo e aspirações regionais do Irã fazem questão palestina diminuir de importância na agenda regional
Por Gustavo Silva
access_time8 dez 2017, 16h50 - Publicado em 7 dez 2017, 17h27
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Vista do muro das Lamentações e o Domo da Rocha, em Jerusalém - 06/12/2017 (Lior Mizrahi/Getty Images)

A votação favorável à divisão da Palestina em duas entidades independentes gerou reações instantâneas na tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York em 29 de novembro de 1947. Mal o resultado fora anunciado e delegados de seis nações árabes deixaram o local. Os representantes de Iraque, Síria, Iêmen, Arábia Saudita, Egito e Líbano no órgão protestaram contra a decisão, aprovada por maioria de dois terços da casa com 33 votos, e anunciaram que não iriam respeitar a resolução que colocou em movimento a criação de Israel. “A linha da repartição será apenas uma linha de sangue e fogo”, declarou então o secretário-geral da Liga Árabe, Assam Pasha.
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Israel, portanto,, se encontrava em estado de guerra com os vizinhos árabes antes mesmo de haver proclamado sua criação, em 1948. Os primeiros passos rumo a uma fria normalização com algum vizinho vieram apenas em 1978, quando, com a mediação dos Estados Unidos, foram assinados acordos de paz com o Egito. Em 1994, foi a vez de a Jordânia assinar tratados com os israelenses. O movimento, contudo, parou por aí. Nenhuma outra nação do Oriente Médio reconhece Israel como um Estado independente ou mantém relações com a nação judaica. Não publicamente, pelo menos.
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O anúncio de Trump na última quarta-feira reconhecendo Jerusalém como capital israelense pode ter o potencial para inflamar mais uma vez os ânimos no Oriente Médio e trazer consequências graves ao dormente processo de paz entre Israel e palestinos, mas as antigas disputas regionais vêm sendo recalibradas com a ascensão do Irã como potência desestabilizadora no Oriente Médio. O efeito prático disso tem sido alinhar sauditas e israelenses à custa da diminuição da importância da causa palestina para várias nações árabes.

Em novembro, o ministro israelense Yuval Steinitz revelou que o país mantém “relações parcialmente confidenciais com muitos países árabes e muçulmanos”, adicionando que as nações vizinhas “têm interesse em manter a relação de forma discreta”. Membro do Gabinete de Segurança do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o oficial deixou claro o que surge como uma aproximação incomum nos bastidores entre inimigos declarados, envolvendo nações que fizeram da causa palestina uma de suas bandeiras políticas históricas.
Relações delicadas

“A relação entre Israel e alguns países árabes ainda é altamente delicada, mas está ligada a perspectivas e visões de política externa”, analisa Robert Mason, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade Americana no Cairo, Egito. Um momento simbólico das novas associações que emergem no Oriente Médio foi registrado neste mês, quando dois oficiais do alto escalão saudita visitaram uma sinagoga na França acompanhados do principal rabino do país. O ato foi percebido como um aceno discreto a israelenses. Por sua vez, Israel, por meio de seu chefe do Estado-Maior, Gadi Eisenkot, já havia revelado que o país está disposto a cooperar e trocar informações com a Arábia Sauditapara “enfrentar o Irã”.

A”‘Guerra Fria’”entre Irã e Arábia Saudita ganhou fôlego em razão da instabilidade gerada ao longo da região pela Primavera Árabe, a série de protestos populares iniciada em 2011 em várias nações do Oriente Médio. As tensões sectárias foram impulsionadas pelo sauditas –majoritariamente de vertentes sunitas do Islã– e pelo regime xiita de Teerã, com acusações mútuas de financiar movimentos subversivos em suas áreas de influência. Os dois países travam disputas de influência no Iraque, no Líbano, no Catar e no Barein, além de batalharem de forma indireta apoiando facções sectárias nos conflitos da Síria e do Iêmen.

“Durantes os anos Obama, a política externa americana mudou”, diz Dag Tuastad, professor do departamento de estudos do Oriente Médio da Universidade de Oslo, em referência à priorização da Ásia e África para a diplomacia americana. “O que foi interpretado em grande parte como uma retirada americana da região abriu um jogo de poder e, mais importante, a Arábia Saudita, que até então se amparava nos Estados Unidos, passou a exercer um papel mais ativo na politica exterior”.

A aproximação entre Israel e os sauditas exemplifica o dito popular de que ‘o inimigo de meu inimigo é meu amigo’. “E os palestinos, mais uma vez, vão pagar o preço”, diz Ahron Bregman, professor do departamento de Estudos de Guerra da Universidade King’s College, em Londres. Ele explica que “no passado, a aproximação dos sauditas a Israel era condicionada à saída dos territórios ocupados, mas agora esse requisito tem menos peso”. “O conflito entre palestinos e israelenses costumava ser prioridade no Oriente Médio, mas não é mais”, analisa o acadêmico, que serviu por seis anos no Exército de Israel e é veterano da guerra no Líbano.
Ameaças em comum

“Houve uma alteração na percepção de ameaças na região”, avalia Mason, para quem o terrorismo e o desenvolvimento do programa nuclear iraniano – Israel e os países árabes alinhados à Arábia Saudita se uniram nas críticas contra a decisão de suspender as sanções contra Teerã no acordo assinado em 2015 por europeus e americanos– são os principais motivos de tensão no Oriente Médio. As intricadas dinâmicas internas de cada país também contribuem para que a disputa palestina tenha sido “relegada a uma questão de menor prioridade”, segundo o especialista.
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O Egito, governado com mão de ferro pelo general Abdel Fattah al-Sisi, lidera atualmente os esforços para a resolução do conflito com os palestinos. As relações entre Israel e Cairo entraram em um período de tensão com a chegada de Mohammed Mursi ao poder no país árabe, em 2012. Naquele ano, o então presidente, político da Irmandade Muçulmana (grupo com ligações íntimas com o Hamas, que prega a destruição de Israel), retirou o embaixador egípcio de Tel-Aviv. Mursi foi deposto do cargo no ano seguinte e Sisi, como novo presidente do Egito, retomou os contatos diplomáticos com Israel, fechando também as fronteiras com Gaza.
“Grande Mudança”

A cooperação entre Israel e os países árabes, de acordo com Netanyahu, acontece de forma “sigilosa” em “várias frentes e em diferentes níveis”. Mesmo em sigilo, contudo, as relações “são muito maiores do que em qualquer outro período na história de Israel”, disse em setembro o primeiro-ministro em discurso no Ministério de Relações Exteriores do país, pasta da qual também é o titular. “Trata-se de uma grande mudança. O mundo está mudando”, refletiu.

Em meados de 2016, o general aposentado saudita Anwar Eshki visitou Jerusalém e, em conversas com oficiais israelenses, foi taxativo: “O conflito entre israelenses e palestinos não é uma fonte de terrorismo, embora seja terreno fértil para atos de terrorismo na região”, disse. “Se o conflito for solucionado, os países que exploram a questão palestina – ou seja, o Irã– não poderão mais capitalizar em cima desse caso.”

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