“Fui violada em Último Tango em Paris”
“Fui violada em Último Tango em Paris”
EXISTENCIALISMO Maria Schneider e Marlon Brando em cena de Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci (detalhe): a vida como nau à deriva
Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz09.12.16 - 18h00
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Cena de sexo em tela de cinema é imã de público. Sempre foi assim, e assim será enquanto houver um homem e uma mulher na face da Terra. Essa é a principal razão, por exemplo, do estrondoso sucesso mundial do filme Último Tango em Paris, dirigido em 1972 por Bernardo Bertolucci e nele estrelando Marlon Brando e Maria Schneider. Entre as acrobacias sexuais que compõem o enredo, o auge é aquela em que Paul (Brando) sodomiza Jeanne (Schneider). Trata-se da famosa “cena da manteiga” da qual até hoje tanto se fala. Filme é filme, e o ato sexual, é claro, foi uma simulação. Mas o uso da manteiga aconteceu mesmo, sem a anuência de Maria Schneider, e somente isso já basta para mostrar que a coisa foi longe demais. Bertolucci e Brando combinaram entre si e, assim, ela acabou sendo pega de surpresa. Tinha 19 anos de idade (Marlon Brando, 48), e até morrer, em 2011 (alcoolista e psicologicamente perturbada), passou a vida falando que se sentira “violentada e abusada” naquele momento. Ninguém nunca lhe deu ouvidos. Na semana passada, no entanto, provou-se que ela não mentia. A mídia americana revelou uma entrevista de Bertolucci, de 2013, na qual o diretor admitiu (pela primeira e única vez) que a atriz teve de ser surpreendida porque ele queria filmar “a reação da mulher verdadeiramente humilhada, não a expressão de uma atriz”. Último Tango em Paris é um filme radicalmente existencialista a retratar a ausência de valores idealistas, metafísicos, sociais, éticos, morais, familiares e religiosos. É a vida como nau à deriva e, não tivesse sexo e mais sexo, é de se duvidar que alguém se interessasse por ele atualmente. Não faltará quem diga que a combinação de Bertolucci com Brando se enquadrou bem nesse cenário de vidas profundamente vazias como requer a filosofia do existencialismo. Bobagem. O que Bertolucci e Brando armaram tem outros nomes nada artísticos: comportamento sexualmente predatório e brutalidade.
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