Desertor americano que passou décadas na Coreia do Norte morre aos 77 anos


Desertor americano que passou décadas na Coreia do Norte morre aos 77 anos


Charles Jenkins passou quatro décadas na Coreia do Norte - AFP/Arquivos


AFP12.12.17 - 09h52




Charles Jenkins, um desertor do exército americano que passou quatro décadas na Coreia do Norte, onde se refugiou em 1965, e se casou com uma japonesa sequestrada pelo regime de Pyongyang, morreu aos 77 anos, informaram as autoridades do município japonês em que passou os últimos anos de vida.

Jenkins morreu na segunda-feira em consequência de problemas cardíacos em um hospital de Sado, de acordo com a prefeitura desta cidade que fica em uma pequena olha do norte do Japão.
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Depois de deixar a Coreia do Norte em 2004, aos 64 anos, foi julgado em uma corte marcial por sua deserção quase quatro décadas antes. Sem conter as lágrimas e em seu uniforme militar, Jenkins se declarou culpado e recebeu uma condenação simbólica de 30 dias de prisão. Foi liberado pouco depois.


Nascido na Carolina do Norte, o soldado desertou durante uma noite de embriaguez em janeiro de 1965, quando fazia a patrulha ao longo da fronteira com a Coreia do Norte.

Ele explicou que estava com medo de ser enviado ao Vietnã, então em plena guerra, e pensou ingenuamente que a Coreia do Norte o entregaria à União Soviética, de onde poderia retornar aos Estados Unidos.

Ao invés disso, Jenkins permaneceu retido em Pyongyang, onde passou 39 anos ensinando inglês a funcionários do serviço de inteligência, futuros espiões. Também interpretou o papel de “vilão americano” em filmes de propaganda.


Ele afirmou anos mais tarde que sofreu durante todo o período.

“Recebia agressões de todos os lados. Você nunca diz não na Coreia do Norte. Se você diz não, começa a cavar seu túmulo, porque está morto”.

Em 1980 conheceu a esposa, a japonesa Hitomi Soga, que havia sido sequestrada dois anos antes por agentes norte-coreanos.


Hitomi obteve permissão para retornar ao Japão em 2002, assim como outros quatro japoneses sequestrados nos anos 1970 e 1980.

As autoridades nipônicas afirmam que pelo menos 17 japoneses foram sequestrados por Pyongyang no período, mas a Coreia do Norte reconhece apenas 13 sequestros do tipo.

Jenkins demorou a reunir-se com a esposa, por temer a justiça militar dos Estados Unidos, mas acabou tomando a decisão ao pensar nas duas filhas: ele tinha medo de que fossem obrigadas a trabalhar para o serviço de espionagem norte-coreano.


Após a esta saga familiar da Guerra Fria, que sempre chamou a atenção dos japoneses, o governo nipônico concedeu um visto de residência permanente ao ex-desertor. Desde então a família morava na cidade natal de Hitomi, Sado.

Nos últimos anos, Jenkins trabalhou em uma loja de presentes, explicou o prefeito de Sado, Motohiro Miur. Ele expressou condolências à família e disse que o americano contribuiu para o turismo local.

Outras histórias de deserção similares às de Jenkins foram registradas. James Joseph Dresnok foi o último de um grupo de soldados americanos que desertaram para a Coreia do Norte durante a guerra da Coreia (1950-53). De acordo com seus filhos, Dresnok morreu em novembro de 2016 em Pyongyang.

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