2018-O ano da esperança
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O ano da esperança
O brasileiro espera um messias, alguém que salve o país. Quebramos a cara várias vezes com isso
WALCYR CARRASCO
26/12/2017 - 08h00 - Atualizado 26/12/2017 08h00
O ano foi difícil. Avalio pelo número de amigos desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás do outro.
Nunca gostei de botar dinheiro nas relações de amizade. Como afirmou Shakespeare, perdem-se o dinheiro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a consciência de que era uma doação. A situação foi piorando. Os argumentos também. No início era para pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes. Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso. Ajudava um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que sofreu um acidente e não tinha como pagar a fisioterapia. Comecei com a físio. Vieram sucessivas internações, remédios. A situação piorando, eu já estava encomendando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso gratuitamente. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até que o botei contra a parede. Ou se consultava ou não ajudava mais.
Cheio de saúde, foi ao consultório. Pediu uma receita de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca conheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o emprego após o suposto acidente. Foi por isso que me deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde também a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. O mercado em expansão nesse momento é o da bandidagem. Surgem mais candidatos a roubar, matar, traficar. E quem trabalha e não recebe? Tomo como exemplo o Rio de Janeiro. Os funcionários públicos mal recebem seus salários. Como viver?
Fraude, fraude. Como não considerar a fraude, o uso da boa-fé alheia absolutamente normal, depois de um ano em que as máscaras de nossos políticos caíram tão radicalmente? Temos presidente suspeito. Ministros. Políticos de todos os escalões. Respeito muito o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas às vezes é difícil entender certas decisões, como deixar nas mãos dos lobos o cuidado do galinheiro – caso de Aécio Neves. Se Aécio é culpado ou não, não tenho o direito de afirmar. Essa questão fica para a Justiça. Mas continuar, depois da divulgação daquele telefonema? Imagino que para os pais ande muito difícil explicar aos filhos que é preciso ser honesto. E se a criança perguntar:
– Papai, o que preciso fazer para ter R$ 50 milhões em malas?
Também, juro, fiquei com uma sensação muito ruim por dona Marisa ser suspeita de tanta coisa, no depoimento do viúvo Lula. Não a conheci. Mas desejo que descanse em paz.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos aguarda é mais descrédito?
Novos candidatos vão surgir. Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça de velhos? Para a Presidência, quem? A crise está melhorando? Está. Mas, depois de tudo, o brasileiro espera um messias. Alguém que, de alguma maneira maravilhosa e inconfundível, salve o país. Quebramos a cara várias vezes por isso, no passado. Tivemos Jânio Quadros. Ia passar a vassoura no país. E outros, outros. Acabou vindo Collor. Eu sofri naquela época! Faltou grana! Tínhamos tanta confiança, que ele pôde até confiscar nosso dinheiro nos bancos. Para terminar em impeachment. E agora, vai aparecer um novo messias? Linha dura? Mais liberal? Vamos ter de viver tudo isso outra vez, com planos mirabolantes?
Todos pedem que a gente tenha uma nova consciência para votar. Como? Se só sabemos ser enganados? Mais ainda, num mundo em que as fake news são divulgadas pela internet, em que muitos sites servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já inventaram histórias de amor, tramas nas novelas que escrevo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por que isso ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei a trama. Respondo:
– Nunca foi para acontecer. Era mentira da internet.
Duvidam. Acham que estou mentindo.
Imaginem o que vai ser isso numa campanha política. Aconselho a ficarem muito de olho em quem dá a notícia. Revistas, jornais, com equipe de repórteres, verificam as notícias. Os outros inventam. Cuidado para não cair nessas notícias falsas, que destroem a vida de uma pessoa. Ou de um candidato. Se eu fui alvo de notícias falsas, o que vai se passar com os candidatos?
Esta é a última coluna do ano. Espero, sim, que 2018 não seja o ano da desesperança. Mas da esperança renovada. Cada brasileiro merece a chance de ter um país melhor.
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