Garçom, primeiro-ministro ou ambos? Uma surpresa à italiana Para quem acha que já viu tudo: de blogueiro a candidato a primeiro-ministro, Luigi Di Maio está crescendo para cima dos políticos tradicionais
Garçom, primeiro-ministro ou ambos? Uma surpresa à italiana
Para quem acha que já viu tudo: de blogueiro a candidato a primeiro-ministro, Luigi Di Maio está crescendo para cima dos políticos tradicionais
Por Da redação
access_time18 nov 2017, 17h41 - Publicado em 18 nov 2017, 17h12
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O deputado italiano Luigi Di Maio participa de manifestação em frente ao Palácio Montecitório, em Roma - 10/10/2017 (Giuseppe Ciccia/NurPhoto/Getty Images)
Luigi Di Maio é de dar inveja aos que sonham se transformar em alternativa política fora de “tudo isso que está ai”. E ele está bem ali, perto do poder.
É difícil não gostar de um político que recebe 20 mil euros como vice-presidente da Câmara dos Deputados, e ainda por cima na Itália, e devolve 15 mil aos cofres públicos porque “dinheiro demais corrompe”.
E é difícil não gostar de Luigi Di Maio, 31 anos bronzeado como uma estátua etrusca e italianíssimo nos ternos tão justos que parecem prensados a vácuo, ex-garçom, ex-peão de obra, ex-estudante de engenharia e de direito.
E talvez futuro primeiro-ministro, posição que se tornou menos absurda ao ser eleito líder do Movimento Cinco Estrelas, um partido populista nascido da descabelada cabeça do comediante Beppe Grillo e do avassalador descontentamento com a política tradicional que já produziu fenômenos tão diferentes quanto Donald Trump e Emmanuel Macron.
Em comum com Macron, além dos ternos agarradinhos, ele tem um relacionamento com uma mulher mais velha, Silvia Virgulti, 41 anos, especialista em comunicações e em decotes abissais que realçam os implantes GG.
Sobre a qual disse outra coisa que o torna mais difícil ainda de ser desgostado: “Não sentimos a diferença de idade, aliás nem dá para perceber. Silvia é muito jovem fisicamente”.
Ao contrário do superintelectualizado presidente francês, Di Maio não faz grandes elocubrações políticas e literárias. Usa linguagem direta, mas não tosca. Criado numa cidadezinha da região de Nápoles, é filho de uma professora de grego e latim e um pequeno construtor
Como outros políticos europeus que sonham alto, Di Maio passou por Washington para fazer uns contatos. Nada muito importante – exceto por uma reportagem até simpática do Washington Post, provavelmente devido à dúvida: o Cinco Estrelas é de direita ou de esquerda?
O enigma permanece. O Cinco Estrelas, que os italianos resumem como M5S, já conseguiu derrubar um primeiro-ministro mais à esquerda, Matteo Renzi, e agora disputa espaço com o indestrutível Silvio Berlusconi, uma prova italiana de uma máxima bem conhecida no Brasil: existem múmias políticas que sobrevivem a tudo.
O M5S também defende um plebiscito sobre o euro, uma proposta de renda mínima para os mais necessitados e mudanças no sistema financeiro, incluindo o Banco Central. EE um minestrone mesmo.
A juventude de Luigi Di Maio também é outro fator que evidentemente abre portas. Em geral, é positivo ver a ascensão de um representante da geração Y, chamada de “millennials” em inglês, significando os nascidos entre os anos 80 e 90 do século 20.
Como peso pluma em matérias mais sólidas, Di Maio já foi esnobado em reuniões da fechada elite italiana e frequentemente é chamado de diversas variações de idiota. Em italiano, são mais ressonantes.
Não existe uma reportagem, inclusive esta, que deixe de mencionar sua experiência na brava profissão de garçom – brava e, para ele, breve. Luigi Di Maio nunca teve um trabalho fixo, entrando diretamente da militância universitária na política nacional, via blogs. Beppe Grillo e seus simpatizantes nasceram e continuam a florescer via internet, onde muitas vezes parecem uma espécie de seita, outra característica observada em diversos países.
“Não queremos uma Itália populista, entrevista ou antieuropeia”, disse Di Maio num seminário de investidores, para acalmar os espíritos que empalidecem diante de mais um terremoto.”Queremos continua na União Europeia e discutir as medidas que estão prejudicando a nossa economia.”
A eleição geral será em março e o M5S está passando à frente, nas pesquisas, do Partido Democrático, o de Matteo Renzi. Berlusconi continua vivíssimo e a política italiana é um fragmentado quebra-cabeças. Pode dar tudo.
Inclusive uma versão sem precedentes do refrão da música de Peppino di Capri: “Camariere, champagne”. Só que quem vai fazer o brinde será o “camariere”, o garçom que terá virado primeiro-ministro.
“Todos veem o que pareces, poucos percebem o que és”, diria o mais refinado observador político da Itália e talvez de todos os tempos, Nicolau Maquiavel.
O que será Luigi Di Maio?
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