As provas que complicam a vida de Aécio Neves

As provas que complicam a vida de Aécio Neves

As evidências reunidas pela investigação tornam difícil para o senador afastado sustentar a tese de defesa que expôs em um vídeo

REDAÇÃO ÉPOCA
24/05/2017 - 20h35 - Atualizado 02/06/2017 17h22
Aécio Neves, senador  (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
De camisa branca, sem gravata, abatido, o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, fala pausadamente. Recluso desde a semana passada, quando foi afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal devido a uma investigação da Operação Lava Jato, Aécio divulgou um vídeo para se defender. Afirma que foi vítima de uma “armação conduzida por réus confessos”. Tece sua tese em quatro minutos. Afirma que pediu à irmã, Andrea, que procurasse o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, seu financiador de campanha, para oferecer um negócio: a venda de um apartamento da mãe, no Rio de Janeiro, para amealhar R$ 2 milhões. O dinheiro seria usado para pagar advogados de defesa nos cinco inquéritos aos quais Aécio responde no Supremo, derivados da Lava Jato. Diz que não ganhou “dinheiro na vida pública”, por isso precisava da quantia. Diz que Joesley armou-lhe uma arapuca. “Não cometi qualquer crime”, afirma. Aécio promete provar isso.
As evidências levantadas pela Operação Lava Jato e entregues ao Supremo dificultam a tarefa de Aécio. O material captado mostra um Aécio que fala ao telefone enquanto Joesley o aguarda para uma reunião no Hotel Unique, em São Paulo. Aécio desliga o celular, oferece um vinho e elogia a forma física do convidado. Não economiza nos palavrões. No primeiro minuto de conversa, Aécio dispara “cara....” cinco vezes e “filha da...” e “porra” uma vez cada um. Usa os termos de baixo calão em defesa do interlocutor e para atacar a Polícia Federal, que semanas antes deflagrara a Operação Carne Fraca contra a maior empresa de carnes do mundo. “Eu estava falando com o Trabuco [Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco] hoje de manhã, fomos apertar o Michel [Temer] agora. A Polícia Federal tinha de fazer um mea culpa público, pedir desculpas e o cara...”. Não sabia que estava sendo gravado.
Aécio não para nas críticas ao trabalho da PF. Critica Temer e o presidente do Senado, Eunício Oliveira, do PMDB do Ceará, por não atuarem firmemente contra a Lava Jato. Fala em ideias para atrapalhar as investigações e aprovar projetos capazes de reduzir suas consequências. Mais adiante, chega ao que, de fato, interessa. Sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava Jato, pede R$ 2 milhões ao empresário. A gravação é uma das quatro que Joesley entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) no processo de negociação de sua delação premiada. Pode se tornar o epitáfio político de Aécio.
A conversa tem cerca de 30 minutos. Ao ceder ao pedido do senador, o empresário trata de cuidar dos detalhes práticos: “Se for você pegar [o dinheiro] em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança”, diz Joesley. Aécio responde com descaramento que chocaria até o mais corrupto dos políticos. “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu.” Fred, no caso, é primo de Aécio. Nomeado pelo senador, Frederico Pacheco de Medeiros foi diretor da Cemig e um dos coordenadores de sua campanha à Presidência em 2014.
Nas semanas seguintes, a PF acompanhou os movimentos de Fred numa ação controlada, autorizada pela Justiça. As imagens e áudios captados durante seus encontros com Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F e indicado por Joesley para a entrega do dinheiro, não deixam dúvidas. Saud repassou a Fred o total de R$ 2 milhões acordados na reunião no Unique. Foram quatro remessas de R$ 500 mil cada. As entregas contam com episódios pitorescos. Na segunda reunião na sede da J&F, o dinheiro já está separado numa sala para ser levado pelo emissário de Aécio. São pilhas e pilhas de notas de R$ 50. Ao abrir a bolsa para acomodar o montante, Fred se dá conta de que o volume de papel não cabe ali. No encontro seguinte, Saud trata de providenciar notas de R$ 100 para evitar o constrangimento. As fotos da chegada de Fred, das malas e do repasse estão no relatório da PF.
Um dos diálogos gravados aponta a preocupação de Fred em circular com tanto dinheiro vivo. “E quando o cara me parar: ‘Que dinheiro é esse? O cara me pergunta numa blitz e eu digo que é meu? É uma foda”, diz. Na sequência, Fred trama um plano. Diz a Saud que fará um contrato de compra e venda de uma sala que possui para ter sempre à mão um documento que justifique os valores. Aécio não explica no vídeo por que seu primo foi buscar o dinheiro em espécie para pagar advogados. Se se tratava de um empréstimo, o mais rápido, seguro e dentro da lei seria uma transferência bancária. 
As imagens coletadas pela PF mostram que o dinheiro não foi repassado a nenhum advogado – desmentem, portanto, a intenção de Aécio de usá-lo para acertar suas pendengas jurídicas na Lava Jato. As filmagens mostram que Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas de dinheiro a Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). Mendherson levou a propina para Belo Horizonte de carro, em três viagens, sempre seguido pela PF. Mendherson, frise-se, na ocasião era um servidor do Senado, pago com dinheiro público.  
Embora a mais flagrante, a tratativa dos R$ 2 milhões não é a única acusação que recai sobre Aécio na delação dos executivos da J&F. Há uma ainda mais devastadora. Em delação premiada à PGR, Joesley relatou que pagou propina de cerca de R$ 60 milhões em 2014 para Aécio, por meio da emissão de notas fiscais frias a diversas empresas. Revelou também ter comprado o apoio de partidos políticos para apoiar Aécio a presidente. Como contrapartida, diz a delação, o tucano usou o mandato para “beneficiar diretamente interesses do grupo”. De acordo com documento da PGR, Aécio ajudou na liberação de créditos de R$ 12,6 milhões de ICMS da JBS Couros e dos créditos de R$ 11,5 milhões de ICMS da empresa Da Granja, adquirida pela JBS na compra da Seara.
A defesa do senador Aécio Neves confirmou o pedido do dinheiro, mas disse se tratar de um empréstimo pessoal. Seu advogado, José Eduardo Alckmin, afirmou que o parlamentar está “inconformado e surpreso” com as acusações. Segundo o advogado, a fala em que o senador diz que precisaria de pessoa de confiança para entregar o dinheiro, alguém que “a gente mata antes de fazer delação” era apenas “brincadeira”. Nota encaminhada pela assessoria de imprensa diz que “o senador jamais agiu ou conversou com quem quer que seja no sentido de criar qualquer tipo de empecilho à Operação Lava Jato ou à Polícia Federal, que sempre teve seu trabalho e autonomia apoiados pelo senador em suas agendas legislativas, e também como dirigente partidário”. Em vídeo, o senador Zeze Perrella disse que nunca falou com Joesley e pessoas ligadas à empresa dele.

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