A contra-revolução sexual: escândalos forçam mudanças Casos de abuso sexual viram arrastão sem distinção entre crimes e bobagens. Empresas americanas cortam até festas de fim de ano


A contra-revolução sexual: escândalos forçam mudanças
Casos de abuso sexual viram arrastão sem distinção entre crimes e bobagens. Empresas americanas cortam até festas de fim de ano
Por Vilma Gryzinski
access_time24 nov 2017, 09h43
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Foto íntima: o deputado republicano Joe Barton foi sem noção, mas até agora não apareceu nenhum abuso (Aaron Bernstein/Reuters)

Existe um caminho do meio? Quem acredita na racionalidade e na justiça precisa acreditar que sim, é possível e necessário enquadrar quem pratica os crimes de assédio e abuso sexual. E estabelecer uma diferença entre isso e a revelação de fofocas sobre a intimidade de pessoas conhecidas, inclusive políticos.

Quem acredita nos princípios acima mencionados é contra ter tarados favoritos: todos os casos expostos devem ser investigados e punidos, quando confirmados, independentemente das simpatias políticas.
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Ou, claro, antipatias. O que está acontecendo com o deputado Joe Barton é um exemplo. Texano e conservador, Barton estava no treino de beisebol atacado por um homem armado que queria matar republicanos. Teve alguns momentos de trégua com a imprensa americana, majoritariamente liberal e anti-republicana.

Agora, ele está lascado. Mandou foto íntima – um espetáculo dantesco – e mensagens libidinosas para mulheres com quem se relacionava. Também tem um vídeo de onanismo. Uma delas avisou que ia abrir tudo. Ele ameaçou levar o caso à polícia do Congresso.

Até prova em contrário, Barton tem razão: expor a intimidade compartilhada em particular é crime. Mesmo de políticos, figuras públicas por excelência. E mesmo de quem é suficientemente idiota, como Joe Barton, um senhor de 68 anos, para não saber onde está se metendo. Ou teclando.

Para se defender, ele disse que já estava separado e tinha relacionamentos consensuais com mulheres adultas. Barton pode ter sido hipócrita e até canalha, mas também tem razão. Defeitos de caráter não são crime, por mais que a nova Polícia do Pensamento misture tudo nos tribunais de exceção das redes sociais.

E o caso, no espectro político oposto, de Al Franken? Comediante que se transformou em senador mais à esquerda, ele criou um dilema de consciência para seus simpatizantes.

As acusações contra ele remontam à época em que estava no show business. Beijou de surpresa uma ex-modelo da Playboy, agora apresentadora de rádio, no ensaio de um show para tropas americanas no Afeganistão. E apareceu colocando as mãos em seus seios enquanto ela dormia sentada num avião militar, com colete a prova de balas. Outros episódios de mão boba pipocaram em seguida.

Joe Barton, que não praticou nenhum tipo de abuso, e Al Franken, mais folgado, deveriam renunciar ou deixar que seus eleitores os julguem nas urnas?

Roy Moore, o caso mais comentado do momento na política, vai enfrentar esse tipo de julgamento. Ele é um outsider folclórico que se candidatou ao Senado. Nas últimas semanas, vieram à tona casos de adolescentes que tentou seduzir quando já era um homem adulto, na casa dos trinta. Uma das meninas tinha 14 anos.

Se ele perder a eleição no Alabama, no coração conservador dos Estados Unidos, pode abalar a já precária maioria dos republicanos no Senado e afetar assim o atribulado governo Trump. Muitos políticos republicanos se manifestaram contra Moore.

VIÉS PURITANO

O tsunami de revelações sobre desvios de comportamento em diferentes graus já está sendo chamado de contra-revolução sexual. O motivo é que torna mais sensíveis as relações entre homens e mulheres, principalmente no ambiente de trabalho.

Tem também um viés puritano na versão mais extrema e pode transformar qualquer interação entre os sexos em situação de alto risco.

O fato fundador, todos sabem a essa altura, foi a exposição de múltiplos e repugnantes abusos do produtor Harvey Weinstein contra atrizes conhecidas ou aspirantes à fama.

Por causa disso, a onda de choque que continua a provocar tem sido chamada de “efeito Weinstein”. Com medo de processos, empresas americanas estão revendo o manual do que é proibido ou permitido no relacionamento entre os sexos.

Algumas já estão se precavendo e cortando bebidas alcoólicas nas festas de fim de ano, quando não as próprias comemorações. Uma consultoria de recursos humanos de Chicago disse que caiu de 62% para 48% o número de empresas da região que vão liberar o bar nas festas – com os conhecidos, divertidos ou desastrosos efeitos das bebedeiras entre colegas de trabalho.

O “efeito Weinstein” tem provocado demissões ou afastamentos especialmente em Hollywood, onde o poder de manipulação, via promessa de fama e fortuna, é enorme. E também nos meios de comunicação. Jornalistas que trabalhavam em um veículo e se mudaram para outro levam todas as informações de bastidores.

Num ambiente propício como agora, elas começaram a ser reveladas com um certo schadenfreude, ou alegria pela desgraça alheia, típico da categoria.

Por causa disso, já caíram nomões como Charlie Rose, uma verdadeira instituição da televisão americana (banhos no escritório, desfile em roupão sem nada por baixo e outros avanços delatados por funcionárias sobre as quais tinha enorme poder de intimidação), e Mark Halperin.

DISQUE-DENÚNCIA

O New York Times, o jornal onde tudo começou, com a reportagem pioneira sobre Weinstein, afastou um de seus jornalistas mais conhecidos, Glenn Thrush, estrela da cobertura anti-Trump na Casa Branca.

“Todo mundo” sabia que ele dava em cima de estagiárias e jovens repórteres depois de noitadas em bares de Washington, quando trabalhava no badalado site Politico.

Uma delas disse ao Vox, onde saiu a primeira reportagem, que acabou bêbada e com pouca roupa com ele na própria casa. A certa altura, objetou: “Espera aí, você é casado”. Thrush acatou a objeção e interrompeu o desenrolar do processo.

Ou seja, seguiu, mais ou menos, o manual: quando a mulher diz não, é não. Isso é motivo para encerrar uma carreira profissional?

As respostas variam, conforme as experiências, maneiras de pensar e idade: quanto mais jovens, mais as mulheres pesquisadas tendem considerar a si mesmas ou outras como vítimas de algum tipo de abuso.

E os manuais estão sendo reescritos ou divulgados com ardente intensidade. O New York Times, por exemplo, lembrou que tem um disque-denúncia particular, uma linha de telefone onde podem ser feitas reclamações anônimas de assédio.

O anonimato pode dar cobertura a denúncias falsas, feitas por vingança, mesquinharia ou uma visão deturpada sobre o que consiste assédio? É possível. Também é possível que existam mecanismos para garantir decisões justas que flagrem tanto assediadores quanto falsas acusações.

A opção é que os bares de Washington, onde políticos, assessores e jornalistas circulam muito, como em Brasília, fiquem parecidos com os restaurantes da Arábia Saudita: ambientes totalmente separados para homens e mulheres.

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