Voluntários trabalham 20 horas por dia e enfrentam sensação de até 40°C para combater fogo na Chapada dos Veadeiros


Voluntários trabalham 20 horas por dia e enfrentam sensação de até 40°C para combater fogo na Chapada dos Veadeiros

Cerca de 200 moradores de todo o país se deslocaram para Alto Paraíso de Goiás. Chamas já consumiram mais de 65 mil hectares da reserva.




Por Vitor Santana, G1 GO, em Alto Paraíso

28/10/2017 08h21 Atualizado há 3 horas




Serena (à direita) cedeu a casa para que fosse montada a central de voluntários em Alto Paraíso de Goiás (Foto: Vitor Santana/ G1)



A rede de voluntários que atua no combate às chamas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é fundamental para conter o avanço das chamas e até extingui-las em alguns pontos. O trabalho exige grandes esforços, como enfrentar sensações térmicas de mais de 40°C, caminhar mais de 20 km por dia em áreas de difícil acesso e dormir poucas horas por noite. Porém, eles não se arrependem da escolha e se orgulham de lutar pela preservação da reserva.


A quiropraxista Serena Eluf de Quadros, de 41 anos, deixou a profissão de lado e desde o dia 11 ajuda a combater as chamas que consomem o parque. A mulher conta que cedeu a casa dela para que fosse montada a central de voluntários e passou a dormir só três horas por dia.


"Eu comecei ajustando a coluna dos brigadistas após o combate às chamas. Fiz 350 atendimentos. Depois disso, o incêndio foi crescendo e era preciso fazer lanches para o pessoal. Comecei a organizar com amigos e, como eu já era amiga do pessoal do ICMBio [ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], fui fazendo essa ponte entre os voluntários que já começavam a se juntar", contou Serena, que sempre trabalhou com voluntariado.



"Isso aqui é uma imersão, dormir só três horas por noite ajudando no que é capaz, fortalecendo essa união entre as pessoas, os voluntários, os brigadistas. Tudo isso deixa uma lição pra todo mundo”, disse a voluntária.




Atualmente, cerca de 200 voluntários trabalham nas mais diversas frentes de atuação, desde a montagem de kits de lanche para os brigadistas ao combate direto ao fogo. Além de moradores da região,o grupo é composto por pessoas que vieram de São Paulo, Brasília, Tocantins e do Sul do país.



Veja o que já se sabe sobre o incêndio na Chapada dos Veadeiros






Brigadistas enfrem sensação térmica de até 40 °C para combater as chamas (Foto: Vitor Santana/G1)


Todos voluntários ganham marmitas fornecidas por uma empresa que tem contrato com o ICMBio e também, caso não sejam suficientes, adquiridas com os recursos arrecadados com doações. Carros e helicópteros também se deslocam durante todo o dia tanto para levar os brigadistas quanto refeições, lanches e água.


Alguns voluntários que atuam em campo chegam a tomar oito litros de água por dia devido ao forte calor e tempo seco. O guia turístico Rafael Bastos Marinho, de 30 anos, é um dos que está na linha de frente de combate ao fogo. Natural da Bahia, ele diz que há mais de uma década atua com o propósito de preservar o meio ambiente.


"Eu trabalhava como guia na Chapada Diamantina e, desde os 19 anos, já trabalhava também como voluntário para apagar os incêndios lá. Moro em Alto Paraíso há 4 anos. Estou no combate há cinco dias. Essa preocupação com a natureza sempre foi muito presente é natural pra mim", contou.



Grupo de brigadistas voluntários saiu de Brasília para atuar na extinção das chamas na Chapada dos Veadeiros (Foto: Vitor Santana/ G1)



Um grupo de brigadistas voluntários saiu de Brasília na terça-feira (24) e, desde então, também atua na extinção das chamas. Entre eles está o bombeiro civil Valdeni da Conceição Marques. Ele está impressionado com a dimensão da queimada.


"Já trabalhei em várias outras, mas nada desse tamanho. O que impressiona é a falta de senso das pessoas, que ficam colocando fogo em várias áreas", opina.


Valdeni está em Alto Paraíso com mais quatro amigos.



"Ficamos sabendo que eles estavam precisando de ajuda, conversei com outros colegas, a empresa onde eu trabalho cedeu alguns equipamentos, e viemos. Tudo isso para ajudar", disse.




O brigadista Victor Brito de Oliveira afirma que os voluntários têm um grande peso no trabalho. "São essas pessoas que ajudam a fazer a diferença. Muitas vezes os órgãos não têm os recursos necessários ou gente suficiente para poder atuar em áreas tão grandes. É aí que a gente entra", contou.


Além dos voluntários, o ICMBio, o Corpo de Bombeiros e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) têm 200 brigadistas empenhados em extinguir os focos no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com o número de voluntários, o tamanho da equipe dobra.



"O voluntariado sempre foi muito forte, principalmente no combate ao fogo. Mas agora essa ajuda também vem na parte de coordenação, administração, limpeza, doações, e isso faz toda diferença", disse o coordenador de prevenção e combate do ICMBio, Christian Berlinck.





Incêndio na Chapada dos Veadeiros já consumiu mais de 65 mil hectares (Foto: Vitor Santana/G1)





Rede contra fogo




Os voluntários estão organizados dentro de um grupo chamado Rede Contra Fogo, que surgiu há três anos como uma forma de ajuda mútua entre amigos. "No início, o objetivo era nos unir para apagar incêndios nas casas, propriedades uns dos outros. Mas com esse incêndio agora, vimos que podíamos nos organizar ainda mais para trabalhar nesse combate", contou Ivan Anjo Diniz, voluntário e um dos coordenadores do grupo.


Moradores de vários estados e até do exterior fazem doações para o grupo. No posto montado por voluntários chegam os mais diversos donativos: água, bebidas isotônicas, comida, equipamentos de proteção e combate à incêndio, itens de primeiro socorros, itens para cuidado animal e também dinheiro. Todo o material é registrado e dividido entre as várias áreas de acordo com sua finalidade.


Com essa experiência na Chapada dos Veadeiros, o grupo pretende criar uma estrutura maior e estar mais preparado para outras queimadas. "Recebemos muitas doações em dinheiro e agora vamos comprar mais equipamentos e montar pequenas unidades para cuidar do entorno do parque para que os incêndios não se alastrem", contou Ivan.



Ivan Anjo Diniz é um dos coordenadores do grupo que atua na Chapada dos Veadeiros (Foto: Vitor Santana/ G1)


Mesmo com toda destruição, o grupo não desanima.



"Esta queimada está tirando o melhor de nós, que é a união", ressaltou o voluntário.





Interessados em ajudar o projeto podem fazer doações para a rede contra fogo em um site de financiamento colaborativo.


A publicitária Luisa de Magalhães também compartilha esse sentimento de união e carinho pelo Parque Nacional da Chapada dos veadeiros. Em uma campanha nas redes sociais, ela reuniu amigos que arrecadaram lençóis, alimentos, itens para tratamento de animais e também uma quantia em dinheiro para ajudar no combate ao incêndio.


"A natureza e os animais não tem nada a ver com essa briga que provoca as queimadas. E é triste ver a região desse jeito", disse se referindo à suspeita de que o fogo tenha sido criminoso.


Moradora de Brasília, Luisa costuma ir todo mês à região. "Tenho um amor por aqui, é uma segunda casa. Então é importante ajudar a Chapada, que nos dá tanta coisa boa".



Pessoas levam donativos à central dos voluntários da Chapada dos Veadeiros (Foto: Vitor Santana/ G1)




Incêndio




O primeiro incêndio na Chapada dos Veadeiros começou há 17 dias, em 10 de outubro, e foi controlado seis dias depois. No dia 17 novos focos surgiram. Há mais de 10 dias brigadistas e voluntários tentam combater as chamas. A Polícia Civil suspeita que o incêndio seja criminoso.


"A parte mais rasteira da vegetação, as áreas de campo limpo, campo sujo, já começam a se regenerar seis meses após as primeiras chuvas. Cerca de 80% dessa parte já volta ao normal nesse período. Dentre de um ano e meio, o restante se regenera", explicou ao G1 Christian Berlinck.

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