O que o Nobel de Economia ensina à prefeitura do Rio de Janeiro

O que o Nobel de Economia ensina à prefeitura do Rio de Janeiro

Richard Thaler mostrou, a partir de estudos empíricos, que há lógica na aparente irracionalidade da conduta humana. E que isso tem aplicação na gestão pública, em áreas diversas como economia e saúde

LUÍS LIMA
09/10/2017 - 19h52 - Atualizado 09/10/2017 20h53
Desde 2015, os cariocas com dívidas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) começaram a ser alertados de forma diferente para ficar em dia com o governo municipal. Em vez de uma carta-padrão, passaram a receber chamados direcionados, que iam desde um tom ameaçador a um reforço positivo, que dizia que “o bom cidadão paga os impostos”. Foram elaborados quatro modelos de cartas encaminhados a quatro grupos de 400 pessoas. A estratégia teve um retorno economicamente louvável: ampliou em 200% a arrecadação de IPTU em atraso naquele ano. Em outro projeto a melhor carta foi 60% mais efetiva que a carta padrão para evitar o ingresso na dívida ativa do município. As estratégias se baseiam no conceito de nudge, que pode ser traduzido como um “empurrãozinho” para motivar o cidadão a tomar um tipo de decisão. Nudge – O empurrão para a escolha certa também é o nome do best-seller global escrito pelo americano Richard Thaler, de 72 anos, que recebeu nesta segunda-feira (9) o Prêmio Nobel de Economia 2017.
O exemplo do Rio de Janeiro – o único no Brasil – mostra que a estratégia de estudar o comportamento humano para a tomada de decisões pode melhorar a gestão pública, com soluções mais eficientes. “E a um excelente custo-benefício”, diz José Moulin Netto, presidente da Fundação João Goulart, que trouxe as primeiras iniciativas ao setor público no país. Segundo Moulin, a técnica é aplicável em diversas áreas. Exemplos em curso no Rio são projetos para reduzir o índice de desistência no tratamento de tuberculose, o menor fechamento de cruzamentos, a antecipação de matrículas de alunos da rede pública, estimular a atividade física entre os idosos e a adesão ao portal da prefeitura. No primeiro exemplo, da tuberculose, o projeto é resultado de uma parceria com o Banco Mundial. “Temos duas abordagens, via call center, e distribuição de uma caderneta motivadora, pois trata-se de um tratamento muito duro”, diz Moulin.
A estratégia que inspira todos esses projetos é creditada a Thaler, o mais novo Nobel de Economia e professor da Chicago Booth, escola de negócios da Universidade de Chicago. Ao longo de 40 anos, ele se dedicou a investigar a arquitetura de mapas mentais, defendendo que há uma lógica dentro da aparente irracionalidade do comportamento humano. 
A interlocução entre economia e psicologia foi sistematizada de forma precursora pelo israelense Daniel Kahneman, psicólogo e economista que ganhou o Nobel de Economia em 2002. Ambos foram premiados pela Academia Real Sueca de Ciências, organizadora do Prêmio Nobel, por terem contribuído para a humanização da economia. “Para fazer uma boa economia, você deve ter em mente que as pessoas são humanas”, afirmou Thaler, após vencer o prêmio. Como prêmio, ele receberá o equivalente a US$ 1,1 milhão, que, segundo ele, pretende gastar “da forma mais irracional possível”.
Richard Thaler, em sua varanda, após saber que havia sido premiado com o Nobel de Economia. "Meu mantra é: se você quer que as pessoas façam algo, torne isso fácil" (Foto: Universidade de Chicago/Divulgação)
Na entrevista coletiva após o anúncio do prêmio, Thaler comentou a resistência de economistas convencionais em reconhecer o valor de seus estudos. “Não mudei a cabeça de ninguém ao longo de 40 anos.” Como estratégia, ele apelou para os jovens cujas mentes, segundo ele, “não estão formatadas”. Apesar da resistência ante a ala menos progressista da academia, suas ideias tiveram ecos globais.
Em 2012, o então primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, criou um departamento do governo britânico exclusivamente dedicado a investigar o comportamento dos cidadãos. O Behavioural Insights Team (BIT), ou, numa tradução livre, “Equipe de Sacadas Comportamentais”, funciona atualmente de forma independente do governo. “Eram cerca de seis pessoas, com quem passei muito tempo ao longo dos anos. Atualmente, esse grupo tem mais de 100. E, de acordo com o Banco Mundial, existem 75 unidades [análogas ao BIT] em cidades espalhadas pelo mundo”, disse Thaler.
Nos Estados Unidos, durante a gestão Barack Obama, o jurista Cass Sunstein, coautor do livro Nudge, também instituiu um departamento dentro do governo – mas foi encerrado por Donald Trump. Mesmo assim, o BIT tem presença crescente nos EUA, devido a um projeto de três anos – e de US$ 42 milhões – com a  Bloomberg Philanthropies, com o objetivo de usar dados para envolver os cidadãos na construção de uma gestão pública mais participativa e inovadora. 
Como base de todos esses projetos, e essência de sua filosofia, Thaler alerta para o uso do nudge sempre visando o bem. O alerta é bem-vindo em tempos de fortalecimento de uma onda conservadora global, com tendências paranoicas, populistas e xenófobas. Outro pilar é: facilite a vida dos cidadãos. “Se você quer que as pessoas façam algo, torne isso fácil. Remova obstáculos. Se você quer que as pessoas usem menos energia, viabilize caminhos para tornar isso fácil”, disse, em vídeo gravado pela Universidade de Chicago.
Bem-humorado, Thaler disse que não seguirá o exemplo de Bob Dylan, Nobel de Literatura, e vai a Estocolmo receber o prêmio. E, ao final da coletiva, terminou com mais uma piada. “Fiz uma carreira basicamente roubando ideias dos psicólogos. “E você pode evitar o problema de aprender com os psicólogos apenas considerando o que eu roubei.” O Brasil e o mundo tem muito a aprender com seus ensinamentos.

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