Ainda sob escolta, ex-juiz é opção o governo do Mato Grosso do Sul Odilon de Oliveira deixa a toga após determinar prisão de Battisti e vira alternativa para o PDT no Estado
Ainda sob escolta, ex-juiz é opção do governo do Mato Grosso do Sul
Odilon de Oliveira deixa a toga após determinar prisão de Battisti e vira alternativa para o PDT no Estado
José Maria Tomazela , O Estado de S.Paulo
10 Outubro 2017 | 05h00
O ex-juiz federal Odilon de Oliveira Foto: MARCO MIATELO/ESTADÃO
Conhecido como o magistrado mais ameaçado do País por combater o narcotráfico na fronteira do Brasil com o Paraguai, o juiz federal Odilon de Oliveira encerrou sua carreira aos 68 anos decretando na semana passada a prisão preventiva do italiano Cesare Battisti – decisão já revogada pelo Tribunal Regional Federal da 3a. Região (TRF). Na sexta-feira, 6, depois de limpar as gavetas de seu gabinete e deixar o Fórum Federal de Campo Grande (MS), Odilon foi recebido numa reunião da cúpula do PDT do Estado aos gritos de “governador”.
+++‘Eu posso sair desse país quando e como quero’, diz Battisti
Ele participou como convidado de um evento de filiação ao PDT em Mato Grosso do Sul. O ex-magistrado foi aclamado pelo público e convidado pelo presidente nacional da sigla, o ex-ministro Carlos Lupi, a assinar ficha de filiação. “Queremos sua coragem e competência para servir a esse Estado como governador”, afirmou Lupi.
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O ex-juiz pediu um tempo para pensar, mas discursou como candidato. Lembrou dos 40 anos de trabalho “protegendo o Estado da violência comum, como o crime organizado na fronteira”. Lamentou a “violência oficial”, se referindo à corrupção e ao que chamou de negação dos direitos sociais. “Vou me filiar a um partido que tenha compromisso com o povo e que queira retificar o País. O PDT é um partido que tem afinidade com o povo”, disse, sob aplausos.
Nesta segunda-feira, 9, ao Estado, o ex-juiz afirmou que outros partidos e presidenciáveis também o procuraram. “Fui sondado pelo (Jair) Bolsonaro (PSC-RJ), pelo (Gilberto) Kassab (PSD-SP) e pelo Álvaro Dias (PV-PR). São dirigentes de bons partidos, mas meu filho já é vereador pelo PDT e vejo que o partido tem um conteúdo bom. Querem que eu me filie no dia 11 de novembro para disputar o governo ou o Senado, mas ainda estou pensando.”
O filho mais novo do magistrado, Odilon Júnior (PDT), de 33 anos, é vereador em Campo Grande e tem incentivado o pai.
Odilon de Oliveira é um dos nomes do Judiciário cotados para disputar as eleições de 2018 no momento em que os políticos tradicionais enfrentam forte desgaste. Neste mesmo grupo estão os ex-ministros do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Brito, sondados por Rede e PSB; e o ex-juiz Márlon Reis, idealizador da Lei da Ficha Limpa, que se filiou à Rede do Tocantins e pode ser candidato ao governo do Estado.
Sempre lembrado para a disputa presidencial do ano que vem, o titular da Operação Lava Jato na primeira instância, Sérgio Moro, tem dito reiteradamente que “jamais” entrará na política e concorrerá a cargo eletivo.
Ameaçado. Nascido em Exu, interior de Pernambuco, filho de lavradores que se alfabetizou estudando em casa, Odilon de Oliveira tem como “portfólio” os 55 anos de trabalho, 30 deles como juiz, numa carreira marcada pelo combate ao narcotráfico. Conhecido como “linha dura”, aplicou penas de mais de mil anos a megatraficantes como Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho, o colombiano Juan Carlos Abadia e José Severino da Silva, o Cabecinha, do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Confiscou deles 85 fazendas, 370 casas, sítios e apartamentos, 18 aviões, 600 veículos e 14 mil cabeças de gado – algo em torno de R$ 2 bilhões. “Não adianta prender o criminoso e deixar para trás o dinheiro que ele ganhou com o tráfico.”
Por sua atuação como juiz, tem a cabeça a prêmio pelo tráfico, que oferece recompensa por sua morte. Ele guarda uma lista com mais de 60 nomes de criminosos que teriam motivos para matá-lo. “Houve um período em que não passava semana sem uma ameaça de morte. Era muita adrenalina”, recorda.
O ex-magistrado diz que só decidiu pela aposentadoria após ser autorizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a manter, por tempo indeterminado, a escolta de policiais federais fortemente armados que o acompanha há 18 anos. “Fiquei contente, pois de outra forma poderia ser morto ali na esquina.”
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