AÉCIO CONTRA O BRASIL
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Qual o futuro de Aécio?
Herdeiro de Tancredo, que já obteve 52 milhões de votos, o senador Aécio Neves retoma o mandato, mas enfrenta o maior desgaste de sua trajetória política. Agora, traça planos para tentar se reposicionar no partido e no Congresso, enfrentar a Justiça e até encarar as urnas em 2018. Ele conseguirá?
Octávio Costa e Tábata Viapiana20.10.17 - 17h00
Foto: Lula Marques/Agência PT
Não houve surpresa. Prevaleceu mais uma vez o corporativismo do Legislativo. Depois de o Supremo Tribunal Federal decidir que medidas cautelares contra parlamentares precisam do aval do Congresso, o senador Aécio Neves conseguiu retomar o mandato graças à votação de seus pares. Foram 44 votos a 26 a seu favor. Apesar da maioria, não houve comemorações no Senado. Todos sabiam da gravidade da decisão. O senador mineiro, porém, não escondeu seu alívio. Divulgou uma nota na mesma noite, ressaltando que “a decisão restabeleceu princípios essenciais de um Estado democrático”.
Acabaram-se os dias de isolamento, mas não os de incerteza. Houve forte reação de parte da opinião pública, que viu no ato do Senado um símbolo da impunidade. O tempo fechou ainda mais quando se soube que Aécio trocou 46 mensagens pelo WhatsApp com Gilmar Mendes, o ministro do Supremo Tribunal Federal responsável por quatro dos inquéritos em que ele está envolvido. Diante de tamanha pressão, cai como uma luva a indagação do maior poeta de Minas Gerais: E agora, José? Ou seja, quais serão os próximos passos da vida política de Aécio Neves? Ele vai se afastar definitivamente da presidência nacional do PSDB? Vai tentar a reeleição ao Senado em 2018? Não é demais lembrar que o tucano ainda corre o risco de se tornar réu da Lava Jato no STF, onde está denunciado por corrupção passiva e obstrução da Justiça.
No dia seguinte à vitória em plenário, Aécio reassumiu o mandato e discursou por cerca de três minutos. Disse que vai se defender e provar sua inocência no exercício do mandato. Afirmou ser vítima de uma armação. O desabafo foi natural para quem estava no ostracismo há dois meses. Mas Aécio sabe muito bem que os tempos de prestígio passaram. Tudo será diferente daqui em diante. A começar por sua situação dentro do próprio PSDB. O presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati, exige que Aécio deixe de forma definitiva a presidência. E defende também que ele se licencie do mandato, para evitar a sangria na imagem do PSDB. Aécio pediu tempo para pensar. Já adiantou, no entanto, que não considera justo ser marginalizado por seu partido. Jereissati insiste e, em visita aos medalhões tucanos em São Paulo, ameaçou abandonar o cargo.Na noite da terça-feira 17, o Senado devolveu o mandato a Aécio por 44 votos a 26 (Crédito:Jonas Pereira/Agência Senado)
Como é possível notar, a pressão pela renúncia de Aécio é enorme. Se não há espaço para permanecer à frente do PSDB, é difícil acreditar que Aécio abrirá mão do mandato que acaba de reconquistar. De qualquer forma, ele deve assumir postura bem mais discreta no plenário do Senado a fim de se preservar. Segundo parlamentares ouvidos por ISTOÉ, Aécio evitará envolvimento direto em grandes polêmicas políticas. Ate porque há contra ele uma representação do PT no Conselho de Ética, pendente de análise do senador João Alberto (PMDB-MA), que preside o órgão e adia uma decisão definitiva. Apesar de tudo, Aécio continuará trabalhando de maneira firme em defesa do governo Temer, de quem espera ser interlocutor no Senado. O presidente atuou diretamente para que o tucano recuperasse o mandato, daí a gratidão de Aécio. Ele tem operado para que seus aliados na Câmara votem pela rejeição da denúncia contra o presidente. Na CCJ, os únicos três tucanos que votaram a favor de Temer são deputados de Minas Gerais ligados a Aécio.
Retorno à Câmara
O neto de Tancredo Neves também sabe que será muito difícil se reeleger ao Senado em 2018. Por isso, já se decidiu: vai concorrer a uma cadeira na Câmara. Assim, poderá retomar a influência regional, em seu Estado. Acredita também que será capaz de “puxar” um bom número de deputados para reforçar a bancada de Minas Gerais. Nem tudo está perdido, na visão otimista de seus correligionários. Mesmo debaixo de fogo, Aécio ainda goza de prestígio entre os mineiros. “Ele tem todas as condições de se reeleger ao Senado. Há bastante tempo para amenizar o desgaste de sua imagem. E a população de Minas lhe dedica muito carinho”, disse à ISTOÉ o deputado federal Paulo Abi-Ackel.
Outro obstáculo no caminho de Aécio é a denúncia apresentada, no dia 2 de junho, ao STF pelo então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot. Ele é acusado de solicitar e receber de Joesley Batista, do Grupo J&F, propina no valor de R$ 2 milhões e de obstruir a justiça ao tentar impedir as investigações da Operação Lava Jato. Segundo a PGR, a propina foi paga em quatro parcelas de R$ 500 mil. O dinheiro foi recebido por um primo de Aécio e transferido para a conta do filho do senador Zezé Perrela. Janot também acusou Aécio de empreender esforços para interferir na distribuição dos inquéritos da Lava Jato na Polícia Federal, “a fim de selecionar delegados” que poderiam causar embaraço à apuração de crimes cometidos por políticos. O relator do caso no STF é o ministro Marco Aurélio Mello, da 1ª Turma daquela Corte.
O advogado de Aécio Neves, Alberto Toron, está otimista. Segundo ele, a cada dia aparecem novas revelações no material que a perícia da Polícia Federal ainda não havia entregado ao Ministério Público. As conversas entre Andréa Neves e Joesley Batista, diz Toron, comprovam que ela ofereceu ao empresário o apartamento da família. Essa informação foi omitida por Joesley, que teria criado a história do dinheiro da compra do imóvel. Toron sustenta também que, desde o início, Aécio falou dos R$ 2 milhões à guisa de empréstimo. Mas Joesley teria tentado ligar a compra do imóvel ao pedido de dinheiro, de forma a justificar sua delação. “Esse é um ponto importante. Vamos desqualificar a delação de Joesley, que já foi desqualificada pelo Ministério Público”, disse Toron à ISTOÉ.
Em outro ponto, a defesa vai argumentar que as novas gravações indicam que Joesley conversou com Aécio, quando já estava sendo orientado pelo Ministério Público. “As datas mostram isso. Foi uma ação controlada”, afirma Toron. Segundo o advogado, no dia de sua conversa com Michel Temer, Joesley já tinha se entendido com a PGR. Como a conversa com Aécio ocorreu 18 dias depois, fica claro que o empresário agiu sob orientação da PGR. Acontece, porém, que ações controladas dependem de autorização judicial. No caso de Aécio, como tem foro privilegiado, exigiria sinal verde do STF, o que não aconteceu. Na opinião de Toron, esse é um motivo para pedir a anulação da denúncia. Como se vê, são muitas as pedras no caminho de Aécio Neves. Nada será fácil. E a reação da opinião pública é prova disso. Há sérios desafios, seja no campo da política, seja na esfera do Judiciário. Mas, como ensina o ditado, não está morto quem peleia.
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