PF rastreia propina de Belo Monte a ministro Helder Barbalho Aliado do peemedebista, o secretário dos Portos, Luiz Otávio Campos, admitiu que pediu recursos aos empreiteiros que tocavam a obra para as campanhas de Helder, Renan Filho e Edison Lobão Filho
PF rastreia propina de Belo Monte a ministro Helder Barbalho
Aliado do peemedebista, o secretário dos Portos, Luiz Otávio Campos, admitiu que pediu recursos aos empreiteiros que tocavam a obra para as campanhas de Helder, Renan Filho e Edison Lobão Filho
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01/09/2017 - 21h16 - Atualizado 01/09/2017 23h17
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O ministro Helder Barbalho (Foto: Rodrigo Pivas/Futura Press)
A poucos metros da Praia do Leblon, três altos executivos das maiores empresas de construção civil do país atravessaram a calçada de pedras portuguesas para entrar no hotel Marina All Suites. Faltava aproximadamente três meses para as eleições de 2014, e os representantes de Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, responsáveis pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, precisavam fazer uma reunião extraordinária. Em uma sala reservada do hotel, Flávio Barra, diretor da Andrade, comandava a conversa que contava ainda com Luiz Carlos Martins, da Camargo, e Augusto Roque, da Odebrecht. O representante do PMDB chegaria a qualquer momento. A cena acima foi montada a partir de depoimentos de Barra, Martins e Roque à Polícia Federal.
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O representante aguardado do PMDB é Luiz Otávio Campos, ex-senador pelo Pará, hoje secretário nacional dos Portos do governo Michel Temer. Ele também deu um depoimento sigiloso à Polícia Federal, obtido por ÉPOCA com exclusividade. Luiz Otávio entrou na sala e foi apresentado por Flávio Barra aos colegas como o arrecadador de recursos designado para o caso de Belo Monte. De acordo com o padrão apurado pela Operação Lava Jato, o PMDB do Senado, nas operações relativas a Belo Monte, costuma levar 0,5% dos contratos de propina – no caso seriam 0,5% sobre R$ 25 bilhões.
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Em seu depoimento, Luiz Otávio disse que foi enviado com a tarefa de indicar candidatos a ser beneficiados com a parcela do PMDB. Afirmou que indicou Helder Barbalho, então candidato ao governo do Pará, filho do senador Jader Barbalho e hoje ministro da Integração Nacional, como um dos destinatários do dinheiro do “compromisso político” referente a Belo Monte. Assim como Helder, os outros dois escolhidos, segundo Luiz Otávio, eram filhos de senadores poderosos: Renan Filho, candidato ao governo de Alagoas e filho do então presidente do Senado, Renan Calheiros, e “provavelmente” Lobão Filho, candidato ao governo do Maranhão e filho do então ministro de Minas e Energia, Edison
Lobão (leia recorte abaixo).
(Foto: reprodução)
Os investigadores da Polícia Federal produziram um relatório no qual afirmam que o dinheiro de Belo Monte chegou indiretamente à campanha de Helder ao governo do Pará em 2014. “O Diretório Nacional do PMDB recebeu (...) R$ 127 milhões a título de doação eleitoral, dos participantes do Consórcio Construtor de Belo Monte, nos pleitos de 2010/2012/2014”, diz a PF. Especificamente em 2014, o Diretório Nacional do PMDB foi abastecido com R$ 50 milhões das empreiteiras de Belo Monte e, segundo a PF, repassou R$ 1,5 milhão a Helder. Outros R$ 8,2 milhões vieram do Diretório paraense do PMDB.
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Confrontado pela Polícia Federal sobre o encontro no Rio de Janeiro, Luiz Otávio disse que esteve na reunião com os empreiteiros de Belo Monte a convite de Flávio Barra e disse que “possivelmente” compareceu com os dados dos três peemedebistas destinatários dos recursos. “O papel do declarante na citada reunião limitava-se a apresentar a indicação das pessoas com as quais deveriam ser operacionalizadas as doações de campanha, caso fossem efetivadas”, diz o depoimento prestado por Luiz Otávio em março. Luiz Otávio afirmou que, posteriormente, Flávio Barra lhe confirmou que os pagamentos da Andrade foram feitos.
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Luiz Otávio não usa o termo propina quando fala da reunião; prefere “doações”. Mas para os investigadores e para os empreiteiros não há dúvidas de que se tratava de um pedágio ilegal cobrado pelo PMDB para não atrapalhar a liberação de recursos públicos. “Esse pedido de doação estava nitidamente relacionado ao ‘compromisso político’ que havia no contexto das obras de Belo Monte”, afirma Luiz Carlos Martins, delator da Camargo Corrêa.
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Outro delator, o executivo da Odebrecht Augusto Roque Fernandes, esteve na PF em maio e deu novos detalhes. Afirmou que Luiz Otávio reclamava de atrasos nos pagamentos ao PMDB, fazendo referência explícita ao faturamento que a Odebrecht estava conseguindo graças a Belo Monte. E disse que teve com ele uma nova reunião para acertar a forma de pagamento. Ao chegar ao encontro em um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, Fernandes diz que foi avisado por Luiz Otávio: “Fica tranquilo, porque aqui não tem câmeras”. Na ocasião, acertaram que os pagamentos seriam feitos via caixa dois, mediante remessas de R$ 500 mil entregues alternadamente em endereços em São Paulo e no Rio de Janeiro indicados pelo próprio peemedebista. Luiz Otávio, segundo Augusto, recebeu a senha para retirar os pagamentos.
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Em nota, o ministro Helder Barbalho afirma que nunca esteve com os empreiteiros de Belo Monte e que a arrecadação de sua campanha em 2014 ficou a cargo dos diretórios estadual e nacional do PMDB. “Questionamentos a respeito dos recursos arrecadados devem ser feitos aos diretórios do partido”, diz. “Minha campanha só recebeu recursos oficiais e as doações eleitorais foram registradas junto ao TRE-PA, que aprovou todas as contas de campanha”, disse. Luiz Otávio afirmou à PF que a acusação de arrecadação de propina da obra é “mentirosa”. O advogado do senador Edison Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, diz que as afirmações dos delatores são “inverídicas”. Os demais citados não responderam.
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