O novo Hitler? Felizmente, o ditador norte-coreano Kim Jong-un não é tão perigoso quanto o líder nazista – mas já é capaz de provocar estragos de dimensões globais


O novo Hitler?
Felizmente, o ditador norte-coreano Kim Jong-un não é tão perigoso quanto o líder nazista – mas já é capaz de provocar estragos de dimensões globais


MILITARISMO Demonstração de força na capital Pyongyang (Crédito: AFP PHOTO)


Raul Montenegro01.09.17 - 18h00




Numa manhã de céu aberto do verão nipônico, milhões de japoneses acordaram sob o som de alarmes de bombardeios. A cena fez lembrar a 2ª Guerra Mundial, mas ocorreu às 6 horas de terça-feira 29, horário local. “Lançamento de míssil. Lançamento de míssil. Um míssil foi disparado pela Coreia do Norte. Encaminhem-se a prédios resistentes ou porões”, dizia o alerta emitido pelo governo a 12 prefeituras da ilha de Hokkaido, norte do País, e divulgado em rádios, TVs, celulares e alto-falantes. O projétil passou sobre a região minutos depois, caindo nas águas do Pacífico. Os moradores foram pegos de surpresa, porém é possível que eles se acostumem à infeliz situação. Isso porque o responsável pelo foguete é Kim Jong-un, o excêntrico ditador norte-coreano que vem aumentando mais e mais suas apostas – e já é comparado com os líderes mais infames da história. “A ação imprudente de lançar um míssil sobre o Japão é uma ameaça séria, grave e sem precedentes”, afirmou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.CULTO – O ditador Kim Jong-un entre seus “súditos” (Crédito:AFP PHOTO)

Essa foi a mais recente demonstração de força da Coreia do Norte, e também a mais preocupante. Desde que subiu ao poder, em 2011, Kim realizou mais de 80 testes balísticos. Em julho, o país lançou um míssil com capacidade de alcançar os Estados Unidos. É raro que o regime de Pyongyang dispare foguetes sobre o Japão. Nas duas ocasiões em que isso ocorreu, em 1998 e 2009, foi alegado que eles carregavam satélites. Dessa vez, nenhuma explicação foi dada. O míssil Hwasong-12 não é o mais potente dos coreanos, mas foi lançado numa trajetória mais realista do que os anteriores (que eram disparados para o alto, ao invés de para frente). Também é simbólico que o projétil tenha sido atirado na direção dos EUA, considerado seu principal inimigo. “A Coreia do Norte não deve desistir de seu programa nuclear e balístico”, diz Gary Samore, diretor-executivo do Centro de Relações Internacionais da Universidade de Harvard, além de chefe de programas para armas atômicas das administrações Clinton e Obama. “É possível conseguir acordos menores, mas Kim Jong-un não parece estar interessado num tratado nesse momento.”

O autoritário Kim já se encontra no rol de lideranças extravagantes que, na busca de sonhos megalomaníacos, causam desastres à humanidade. Felizmente, não está no mesmo nível do mais perigoso deles, Adolf Hitler – mas já é capaz de provocar desgraças globais. Se a guerra estourasse (o que certamente envolveria as Coreias, os EUA e possivelmente o Japão) 1 milhão de vidas seriam perdidas, segundo os cálculos mais conservadores. A produção tecnológica mundial sofreria um abalo. Donos de celulares Samsung, cuja sede fica em Seul, por exemplo, ficariam sem novos aparelhos por bastante tempo. As consequências indiretas são imprevisíveis. “A Índia fez suas reformas liberalizantes nos anos 90 por conta da subida do preço do petróleo provocada por Saddam Hussein”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo. “Kim Jong-un não é um Hitler, mas pode causar mais prejuízos que Saddam.”



Apesar de escalar rapidamente, o conflito é evitável. O presidente americano Donald Trump disse que faria chover “fogo e fúria” sobre a Coreia, mas amenizou o tom depois da semana passada. O regime de Pyongyang quer mostrar que late alto, mas ainda não deu indicações de que morde. O mais provável é que se trate de uma estratégia para não acabar apeado do poder como outras lideranças ditatoriais subservientes à comunidade internacional, como o líbio Muammar Gaddafi. “Nenhum dos lados quer a guerra”, afirma Samore. “Para a Coreia um conflito seria fatal e para os EUA custaria um alto preço em vidas e propriedades. Assim, ambos se engajam em retórica belicosa para intimidar o outro – mas ninguém fala sério em usar força militar a não ser que sejam atacados.”TESTE Foguete Hwasong-12 é lançado na terça-feira 29 (Crédito:Divulgação)

Informação por balão

Uma iniciativa curiosa vem ajudando milhares de norte-coreanos a se libertarem do controle obscurantista do regime de Kim Jong-un. Trata-se da campanha promovida pela organização Human Rights Foundation que contrabandeia pen drives repletos de informação para dentro do País, o mais fechado do mundo. Os dispositivos – recheados com páginas da Wikipédia, cenas da vida em outras nações e filmes de Hollywood – atravessam as fronteiras por drones ou balões. Lá, são coletados por aliados escondidos e distribuídos à população. A ideia é que o conhecimento faça com que as pessoas rejeitem a ditadura e implodam o governo por dentro.

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