“O Aécio é bandidão”, diz Joesley Delatores negociam divisão de tarefas: "vamos pegar o Aécio também. Ele vai ficar chateado", disse Saud
“O Aécio é bandidão”, diz Joesley
Delatores negociam divisão de tarefas: "vamos pegar o Aécio também. Ele vai ficar chateado", disse Saud
Por Hugo Marques, Laryssa Borges
access_time5 set 2017, 13h50 - Publicado em 5 set 2017, 13h01more_horiz
Aécio Neves: alvo da divisão de tarefas dos delatores da JBS (Cristiano Mariz/VEJA)
Em um dos trechos da gravação que encaminharam na última quinta-feira à procuradoria-geral da República, os delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud discutem reservadamente quais autoridades deveriam ser gravadas por eles para compor o acervo do acordo de delação premiada que negociavam com o Ministério Público Federal. Na divisão de tarefas, Saud teria ficado com a incumbência de gravar o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enquanto a Joesley cabia registrar em áudio conversas com o presidente Michel Temer, o que efetivamente foi feito. “Então vai ser o cerco no Zé e eu com o Temer”, resumiu Joesley.
Na discussão sobre quais autoridades estariam na mira dos delatores, os dois afirmam ter informações que comprometem o senador tucano Aécio Neves (MG). “Vamos pegar o Aécio também. Ele vai ficar chateado”, diz Saud.
Embora Joesley considere Aécio um político de importância menor diante de alvos como Michel Temer, o empresário dono da JBS se justifica: “Ele ficou pequenininho… (risos). Não, nós vamos, só porque ele é bandidão mesmo. Você sabe que esse aqui, os outros vai ficar pequenininho, pequenas causas, não vai precisar”.
Ao longo das investigações, o Ministério Público afirmouque a jornalista Andrea Neves, irmã de Aécio, pediu 40 milhões de reais ao empresário Joesley Batista. A justificativa dada por Andrea, disse o delator, era a de que o dinheiro era o valor que deveria ser pago pelo apartamento da mãe, no Rio de Janeiro. A transação para o futuro repasse de dinheiro envolveu também Aécio, que, conforme depoimentos da delação de Joesley Batista, teria afirmado que, no caso de emplacar Aldemir Bendine na presidência da companhia Vale, o próprio Bendine “resolveria o problema dos 40 milhões pedidos por Andrea Neves”. Aécio disse, na sequência, que já tinha indicado outra pessoa e depois ofereceu a Joesley a escolha de uma de quatro diretorias da Vale. Depois o senador pediu que o empresário esquecesse o assunto dos 40 milhões de reais.
Aldemir Bendine foi presidente do Banco do Brasil e da Petrobras e hoje está preso em Curitiba no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo os delatores Marcelo Odebrecht e Fernando Santos Reis, entre 2014 e 2015 o ex-presidente do BB e da Petrobras pediu “vantagem indevida” para atuar em nome dos interesses da Odebrecht Ambiental. Em outra ocasião, delatores detalharam que o dinheiro que deveria ser pago seria equivalente a 1% da dívida alongada da Odebrecht Ambiental perante o Banco do Brasil e serviria para “permitir” a renegociação de um débito da empresa junto à instituição financeira.
Na delação de Joesley Batista, o empresário se declarou como “o maior doador de Aécio Neves” e afirmou que doou caixa dois para a campanha do tucano. Ele revelou ainda que, mesmo depois da campanha, vendeu um imóvel superfaturado por 17 milhões de reais a um pessoa indicada por Aécio para que, na transação, o dinheiro pudesse chegar ao tucano. Ao Ministério Público, o dono da JBS também detalhou, no acordo de delação premiada já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o apetite de Aécio Neves ao pedir recursos. Ele relatou que em 2016, o senador pediu 5 milhões de reais extras, mas Joesley disse não ter dado o dinheiro.
Também em depoimento de delação, o diretor de Relações Institucionais da holding J&F Ricardo Saud afirmou que o grupo JBS “comprou” dívidas de Aécio Neves com terceiros. Embora o tucano tenha recebido cerca de 80 milhões de reais para a campanha, “ele continuou pedindo mais dinheiro”.
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