Lições de uma tragédia Mexicana


Lições de uma tragédia Mexicana
Abalos sísmicos que causaram mais de 300 mortes provam que é preciso investir em novas tecnologias e informação para reduzir os danos em futuros tremores



Camila Brandalise22.09.17 - 18h00




Localizado no Círculo de Fogo do Pacífico, uma área de intensa atividade vulcânica e movimentação de placas tectônicas, o México é altamente suscetível a terremotos. Embora as características geológicas do país sejam conhecidas há muito tempo, não bastam para prevenir tragédias como as que aconteceram na sexta-feira 8 e na terça-feira 19, deixando mais de 300 pessoas mortas e cerca de 40 prédios destruídos em dezenas de cidades. A data do segundo tremor coincidiu com a da tragédia de 1985, quando um abalo sísmico de magnitude 8,1 matou mais de 10 mil pessoas no país. Nas últimas semanas, os tremores foram de até 8,2 graus. O número bem menor de mortes comprova que muito tem sido feito para que as consequências dos terremotos sejam reduzidas. Ainda assim, o México, a exemplo de outras nações em desenvolvimento, ainda é mais propenso a sofrer com desastres naturais do que países mais ricos — caso do Japão, que desenvolveu avançadas tecnologias de amortecimento para edifícios, e da Nova Zelândia, que mantém um polpudo fundo voltado para evitar esse tipo de tragédia.

Segundo a ONG americana Geo Hazards International, nove em cada dez mortes causadas por terremotos na década de 2000 aconteceram em países em desenvolvimento. Nos anos 1950, eram aproximadamente sete em cada dez. As inestimáveis perdas humanas, portanto, são maiores nos países mais pobres. Corrobora para essa tese um estudo publicado na revista eletrônica “Natural Hazards and Earth Systems Science” mostrando que a média de mortos em terremotos em países mais desenvolvidos não chega a 50, enquanto que em nações com menos renda e menores taxas de escolaridade e expectativa de vida esse número ultrapassa 450. Mais de 80% das pessoas ameaçadas por terremotos no mundo vivem em países em desenvolvimento. Mas a verba dessas nações em pesquisa e engenharia para conter desastres é menos de 20% do valor investido em todo o mundo na área.

ALÉM DA ENGENHARIA

Para Marcelo Bianchi, professor do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), investimentos são necessários não apenas no desenvolvimento de novas tecnologias na engenharia civil, mas também na disseminação de informações. “É preciso fazer treinamentos com a população para trabalhar aspectos culturais. Para cada habitante, o gasto com segurança tem um valor diferente”, afirma. Um governo e uma população com mais dinheiro, portanto, estão mais inclinados a se precaverem. “Mas vale lembrar que o México, assim como o Chile, tem feito um trabalho grande para reduzir os danos, tanto que a quantidade de mortos tem reduzido de evento a evento.” Em relação à questão geológica, ressalta-se o local onde a Cidade do México está localizada. Com maior número de mortos dentre todas as regiões atingidas, a capital foi erguida sobre um lago aterrado, um território poroso que amplifica os tremores.BUSCAS Um dos sobreviventes sob os escombros: equipes resgataram mais de 50 (Crédito:Rebecca Blackwell)

Além de estratégias para prevenir fatalidades, são necessárias grandes somas para resgatar sobreviventes e recuperar estruturas. O México conta com um fundo de US$ 450 milhões liberado depois dos terremotos das últimas semanas. O valor é repassado para as equipes de resgate, que já retiraram dos escombros mais de 50 pessoas com vida e ainda acompanhavam outras dezenas soterradas. Uma delas teria sido chamada por um resgatista de Frida. Ela foi encontrada em uma escola destruída, na qual foram localizadas várias vítimas crianças. Sua perseverança agora é símbolo de esperança entre um povo de luto.

Tecnologia anti-sísmica
Como são as construções resistentes a terremotos

Pêndulo no topo
O peso balança no sentido contrário ao do edifício para garantir equilíbrio. Na China há prédios em que um imã é ativado quando um sensor no pêndulo registra um abalo

Paredes mais resistentes
Reforçadas para resistir a forças horizontais, como tempestades e terremotos, funcionam em prédios com poucos andares

Amortecedores
Colocados nas estrutura de prédios mais altos para dissipar abalos

Suspensão na base
Alicerces com borracha ou controlados eletronicamente para absorver o tremor

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