Após série de derrotas, Estado Islâmico recua para o deserto
Após série de derrotas, Estado Islâmico recua para o deserto
(4 set) Forças pró-governo sírio em uma estrada de Bir Qabaqib, a mais de 40km de Deir Ezzor, após tomarem dos jihadistas do Estado Islâmico o controle da área - AFP
AFP05.09.17 - 11h08
Uma série de derrotas no Iraque e na Síria obriga o grupo extremista Estado Islâmico (EI) a recuar para o deserto e para a clandestinidade, três anos depois de controlar uma área com 7 milhões de habitantes e tamanho equivalente ao do território da Itália.
No final de 2014, o grupo criado no Iraque tinha o controle de um terço desse país rico em petróleo. Hoje, perdeu 90% do território conquistado, incluindo a segunda maior cidade iraquiana, Mossul, onde havia proclamado um “califado” entre Síria e Iraque.
Na Síria, o EI perdeu mais de 60% de sua autoproclamada capital, Raqa (norte), após uma ofensiva da aliança curdo-árabe respaldada pelos Estados Unidos.
Também está ameaçado pelas tropas do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, na última província sob seu controle: Deir Ezzor (leste).
Da metade do território sírio que chegou a controlar, o grupo continua com 15%, informou à AFP o geógrafo Fabrice Balanche, especialista em Síria na Universidade de Lyon (França).
O tamanho é três vezes menor do que a área controlada pelo governo sírio, que administra 50% do país devastado pela guerra, enquanto as forças curdas dominam 23%, de acordo com Balanche.
“O projeto de governo do EI está em apuros no Iraque e na Síria, mas o EI não está derrotado”, explica Ludovico Carlino, especialista em movimentos extremistas do centro de pesquisa IHS Country Risk.
A perda de Raqa, uma cidade simbólica (igual a Mossul) do projeto “estatal” dos “jihadistas”, terá “consequências enormes para o EI em termos de propaganda”, segundo Carlino, mas o grupo vai recuar para o deserto sírio-iraquiano.
– Volta à clandestinidade –
O Vale de Eufrates, que vai da província de Deir Ezzor, no leste da Síria, até Al-Qaim, no oeste do Iraque, será a “plataforma de lançamento da insurreição, com o EI novamente na clandestinidade”, afirma.
De acordo com a coalizão internacional anti-EI liderada pelos Estados Unidos, entre 5.000 e 10.000 combatentes e comandantes extremistas já fugiram de Raqa.
O EI “transferiu todas as suas instituições administrativas” para esta zona de 160 quilômetros e controla campos de petróleo, informa Carlino.
De acordo com o especialista, a arrecadação mensal do grupo extremista com petróleo caiu 88% na comparação com 2015. As quantias arrecadadas com taxas e confiscos registraram queda de 79%.
Diferentes forças preparam a batalha no Vale de Eufrates, onde existe o plano de cercar o EI: as tropas do regime sírio apoiadas pela Rússia, as forças iraquianas e as FDS apoiadas pelos Estados Unidos.
Os “jihadistas” começaram a cavar túneis e a montar redes de fabricação de explosivos e de carros-bomba, segundo militares da coalizão internacional.
Balanche diz que, “como a perda de Raqa é certa, a tomada completa de Deir Ezzor por parte do Exército sírio marcará uma guinada decisiva”.
Isto explica o nervosismo do EI em Deir Ezzor.
“Fecharam todas as entradas da cidade, cada bairro, cada rua, e minaram as margens das cidades”, relatou à AFP o militante Omar Abu Leïla, que está na capital desta província.
Para evitar “uma descoberta e uma infiltração justo antes da batalha, espalharam mais espiões e prendem todos os jovens nas ruas”, completa.
Após a expulsão dos extremistas da Síria e do Iraque, os países terão de lidar com o tema das relações entre as diferentes populações do país – as majoritárias e as minoritárias.
– Medo –
Cercados, famintos, sem água, ou acesso à energia elétrica, os habitantes de Deir Ezzor têm tanto medo da batalha quanto do que acontecerá depois.
“Temem que as FDS cheguem a um acordo com o regime para a entrega do território retomado do EI”, afirma Omar Abu Leila.
“O outro grande medo é que milícias do Irã massacrem os civis como vingança, usando como desculpa que pertenciam ao EI”, completa.
No passado, as divisões étnicas e religiosas serviram como um estímulo para a propagação do EI frente a Estados incapazes de reconciliar as distintas comunidades, advertem os especialistas.
De acordo com Balanche, alguns membros do EI “continuarão com a jihad em outro lugar”.
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