Escritora que relatou estupro recusa BO por não crer no ‘sistema’ Clara Aberbuck disse nas redes sociais que foi estuprada por motorista da Uber, mas que não tem como provar e não quer se submeter à ‘violência do estado’


Escritora que relatou estupro recusa BO por não crer no ‘sistema’
Clara Aberbuck disse nas redes sociais que foi estuprada por motorista da Uber, mas que não tem como provar e não quer se submeter à ‘violência do estado’
Por Da Redação
access_time29 ago 2017, 20h50 - Publicado em 29 ago 2017, 16h05more_horiz


A escritora Clara Averbuck, que relatou ter sido vítima de estupro por um motorista da Uber (João Wainer/Dedoc)

A escritora Clara Averbuck, de 38 anos, que relatou nas redes sociais na segunda-feira ter sido vítima de estupro e agressão física cometidos por um motorista do Uber, declarou em seus perfis que o fato a deixou mais forte. “Sabe aquele ditado que ‘o que não me mata me torna mais forte’? Estou mais forte, vou ficar mais e ninguém me derruba”, disse.

Ela também disse, em vídeo postado em sua página no Facebook, que está sendo pressionada por muitas pessoas para ir à delegacia registrar um boletim de ocorrência, hipótese descartada por ela. “Estão me pressionando para fazer denúncia, para ir à delegacia. Não me encham o saco, essa decisão é minha, eu não confio no sistema”, afirmou.

Clara diz que não tem como provar o crime de violência sexual porque não tem provas. “BO não é um documento mágico do Harry Potter que vai te defender. Como é que eu vou provar? Eu não tenho sêmen em mim, eu não tenho nada em mim. Eu só tenho essa marca [no rosto] de quando ele [agressor] me derrubou no chão”.

Na segunda-feira, quando relatou o estupro, ela já havia levantado a hipótese de não registrar queixa na polícia. “Estou decidindo se quero me submeter à violência que é ir numa delegacia da mulher ser questionada, já que a violência sexual é o único crime que a vítima é que tem que provar. Não quero impunidade de criminoso sexual, mas também não quero me submeter à violência de estado. Justamente por ter levado tantas mulheres na delegacia é que eu sei o que me espera”, argumentou.
O relato

O estupro, segundo Clara, ocorreu em São Paulo. “O nojento do motorista da Uber aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando ‘a bêbada’”, contou sobre o episódio no seu perfil do Facebook. Ela ressaltou que, para um crime ser encaixado como estupro, não há obrigatoriedade de penetração. ” Não se estupra apenas com o pênis, estupro não é só isso, vão ler a lei, vão estudar”, disse.

“Estou com o olho roxo e a culpa de ter bebido e me colocado em posição vulnerável não me larga. A culpa não é minha. Eu sei. A dor, a raiva e a impotência também não me largam. Estou falando tudo isso para que todas as que me leem saibam que pode acontecer com qualquer uma, a qualquer momento, e que o desamparo e o desespero são inevitáveis. O mundo é um lugar horrível para ser mulher”, escreveu Clara.

“Fui violada de novo, violada porque sou mulher, violada porque estava vulnerável e mesmo que não estivesse poderia ter acontecido também”, desabafou a escritora ao relembrar um estupro sofrido na adolescência

Procurada por VEJA, a empresa afirmou que baniu o motorista. “A Uber repudia qualquer tipo de violência contra mulheres. O motorista parceiro foi banido e estamos à disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações. Acreditamos na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência contra a mulher”, afirmou a empresa em nota. A escritora escreveu em seu Twitter que a Uber já entrou em contato com ela.
A empresa de transporte contabiliza 15 milhões de usuários mensalmente ativos no Brasil. O serviço está disponível em 70 cidades, incluindo todas as capitais. São Paulo é a cidade que mais faz viagens através da Uber no mundo.

Assista o vídeo divulgado por Clara nesta terça-feira:
(Com Estadão Conteúdo)

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